Sábado, 02 de Agosto de 2025

Ego, medo e dinheiro: os bastidores da ia

BrasilO Globo, Brasil 5 de diciembre de 2023

Em julho de 2015, anos antes de o Twitter se tornar o X e de a Tesla registrar lucro, Elon ...

Em julho de 2015, anos antes de o Twitter se tornar o X e de a Tesla registrar lucro, Elon Musk comemorou seu aniversário em uma festa de três dias em um resort na região vinícola da Califórnia. Um dos convidados era Larry Page, então ainda CEO do Google. E a inteligência artificial (IA) havia se tornado pública apenas alguns anos antes, quando foi usada para identificar gatos no YouTube " com 16% de precisão.
A IA foi o grande tema da conversa quando Musk e Page se sentaram perto de uma fogueira, na primeira noite. Os dois bilionários eram amigos há mais de uma década. Mas o debate sobre se a IA poderia ajudar a Humanidade ou acabar por destruí-la virou uma discussão acalorada.
utopia ou distopia?
Page descreveu sua visão de uma utopia digital, afirmando que seres humanos acabariam se fundindo com máquinas artificialmente inteligentes. Um dia, acrescentou, haveria muitos tipos de inteligência competindo por recursos, e o melhor venceria.
Se isso acontecer, respondeu Musk, estaremos condenados. As máquinas destruirão a Humanidade.
Page insistiu que sua utopia deveria ser perseguida. Por fim, ele chamou Musk de "especista", uma pessoa que prefere os seres humanos às formas de vida digitais do futuro. O insulto, disse Musk mais tarde, foi "a gota d’água". Eles pararam de se falar pouco depois daquela festa.
Oito anos mais tarde, essa discussão parece ter antecipado o futuro. A questão sobre se a IA vai melhorar ou destruir o mundo " ou, no mínimo, causar danos graves " estruturou um debate contínuo entre os fundadores do Vale do Silício, usuários de chatbots, acadêmicos, legisladores e reguladores sobre se a tecnologia deveria ser controlada ou liberada.
Esse debate sobre a IA colocou alguns dos homens mais ricos do mundo contra outros: Musk, Page, Mark Zuckerberg (Meta), o investidor em tecnologia Peter Thiel, Satya Nadella (Microsoft) e Sam Altman (OpenAI).
No centro da discussão está um paradoxo. As pessoas que se dizem mais preocupadas com a IA estão entre as mais determinadas em desenvolvê-la e a desfrutar de suas riquezas. Justificam sua ambição com a crença de que só assim será possível impedir que a IA ponha a Terra em perigo.
Algumas semanas depois daquela festa, Musk jantou com Sam Altman, então à frente de uma incubadora de tecnologia, e vários pesquisadores. Esse jantar levou à criação de uma startup chamada OpenAI, no fim de 2015, que prometia proteger o mundo da visão de Page.
Graças ao seu chatbot, o ChatGPT, a OpenAI mudou fundamentalmente o setor de tecnologia e apresentou ao mundo os riscos e o potencial da IA. Mas Musk e Altman também deixaram de se falar.
" Há discordância, desconfiança, egos. Quanto mais perto as pessoas estão de tomar a mesma direção, mais fortes são as divergências. Você vê isso em seitas e ordens religiosas " disse Altman.
No mês passado, essa briga interna chegou à cúpula da OpenAI. Parte da diretoria tentou expulsar Altman, dizendo que não podiam mais confiar nele para criar uma IA que beneficiasse a Humanidade. Durante cinco dias, pareceu o fim da OpenAI , até que o conselho de administração " pressionado por grandes investidores, como a Microsoft, e funcionários que ameaçaram se demitir " recuou e Altman voltou.
Esse drama deu ao mundo o primeiro vislumbre das amargas disputas entre aqueles que determinarão o futuro da IA.
a criação da DeepMind
Em 2010, Demis Hassabis, um neurocientista de 34 anos, foi a um coquetel na casa de Peter Thiel, em São Francisco. Hassabis e dois colegas, que moravam na Grã-Bretanha, buscavam investidores para começar a construir uma inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês), uma máquina capaz de fazer tudo o que o cérebro fosse capaz. Naquela época, poucas pessoas estavam interessadas em IA.
Ainda assim, alguns cientistas e pensadores se fixaram nas desvantagens da IA. Muitos, inclusive os três jovens da Grã-Bretanha, tinham uma conexão com Eliezer Yudkowsky, filósofo da internet e pesquisador autodidata de inteligência artificial.
Com o financiamento de Thiel, Yudkowsky expandiu seu laboratório de IA e criou uma conferência anual sobre a singularidade. O pesquisador foi o responsável por apresentar Hassabis a Thiel.
Após o coquetel, Thiel convidou o trio para voltar no dia seguinte. E decidiu investir US$ 2,25 milhões na startup. Esta foi batizada de DeepMind, uma referência à "aprendizagem profunda", uma forma de os sistemas de IA aprenderem habilidades analisando grandes quantidades de dados, e à neurociência.
Os três acreditavam que, por entenderem os riscos, poderiam proteger o mundo.
" Há enormes benefícios advindos dessas tecnologias. O objetivo não é eliminá-las ou interromper seu desenvolvimento. O objetivo é atenuar as desvantagens " disse Mustafa Suleyman, um dos três fundadores da DeepMind.
Hassabis depois ficou conhecendo Musk. Em um almoço, o bilionário explicou que seu plano era colonizar Marte para escapar da superpopulação e outros perigos na Terra. Hassabis respondeu que o plano funcionaria " desde que máquinas superinteligentes não fossem também para Marte. Musk ficou sem palavras: não havia pensado nisso. Ele logo se tornou um investidor da DeepMind.
A DeepMind contratou pesquisadores especializados em redes neurais, algoritmos complexos criados à imagem do cérebro humano.
entra o chatGPT
No fim de 2012, Google e Facebook tentaram adquirir a empresa. Hassabis e seus cofundadores apresentaram duas condições: nenhuma tecnologia da DeepMind poderia ser usada para fins militares, e a AGI deveria ser supervisionada por um conselho independente de tecnólogos e especialistas em ética.
O Google ofereceu US$ 650 milhões. Zuckerberg não aceitou as condições. E o Google levou a DeepMind.
Musk deixou a DeepMind e, no fim de 2015, ajudou a fundar a OpenAI. No fim de 2017, ele tentou transformá-la em uma operação comercial que uniria forças com a Tesla, sua montadora de carros elétricos, segundo fontes. Quando Altman e outros fundadores se opuseram, Musk deixou a OpenAI.
Precisando de recursos, Altman encontrou o CEO da Microsoft, Satya Nadella. A parceria foi fechada em 2019.
Com os recursos da nova investidora, a Microsoft, a OpenAI lançou em 2022 o ChatGPT, que agora é usado por 100 milhões de pessoas todas as semanas. O Google lançou seu próprio chatbot, o Bard, mas percebeu que OpenAI havia ganho a corrida. Três meses após o lançamento do ChatGPT, as ações do Google caíram 11%. Musk não aparecia em lugar nenhum.
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