Sábado, 27 de Abril de 2024

‘Ninguém quer passar por crise, mas ela nos força a sermos melhores’

BrasilO Globo, Brasil 28 de marzo de 2024

PALAVRA DE CEO

PALAVRA DE CEO
Momentos de crise e desafios " como o de cumprir metas públicas assumidas pelas companhias " tornam os profissionais e as empresas melhores, afirma Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner. É que exigem foco, senso de urgência e inovação para avançar, fortalecendo o negócio e suas pessoas.
O difícil é manter esse modo de operar nos momentos em que não há uma crise ocorrendo, explica o executivo de 51 anos, entrevistado desta semana da série Palavra de CEO, que integra o projeto Tem Que Ler, exclusivo para assinantes do GLOBO. Ela mostra como líderes de empresas de diversos perfis, portes e vocação veem o profissional do futuro, destacando como cada um monta suas equipes.
Faccio " que ingressou na Renner em 1999 como estagiário e em 2019 chegou à liderança da varejista que soma mais de 600 lojas em Brasil, Uruguai e Argentina " frisa que é preciso aprender com o que a concorrência sabe fazer bem, para evitar o "risco de cair numa zona de conforto".
Ele lista quais são os atributos essenciais para uma carreira de sucesso. Na versão digital desta reportagem, no site do GLOBO, um vídeo com respostas rápidas mostra como o presidente da Lojas Renner lida com erros e ajustes de rota ao longo da carreira.
Contratação irresistível
"Um currículo cheio de vivência, porque vivência traz conhecimento na prática." Aquele profissional que tem conhecimento, tem capacitação, currículo, mas tem vivência. Um currículo cheio de vivência, porque a vivência traz muito conhecimento na prática, na aplicação, não só na teoria. Mas a formação, a teoria também ajudam a dar conteúdo e repertório para aplicar no dia a dia. Quem tem bastante estudo, leitura, conhecimento, mas que pratica, trabalha, e muito, no dia a dia, e tem uma ampla experiência de projetos, experiências positivas ou não, tem muito aprendizado prático. E aprendizado prático com conteúdo e com foco em pessoas, em clientes, em time. (Alguém com) foco de como é que se agrega para o time, para o todo, a companhia e, principalmente, para o cliente final, é o profissional dos sonhos.
Para crescer profissionalmente
"A gente tem mais oportunidade, mais alavancagem quando a gente faz o que ama."
Para crescer é preciso fazer o que gosta, o que ama, porque, para ter vivência, experiência prática, construir uma boa carreira, tem que ter uma dedicação muito forte. A gente tem que se entregar de corpo e alma para realmente construir isso. E viver isso de coração. Intensidade, dedicação são fundamentais. É difícil ter intensidade, energia e dedicação se a gente não ama, não gosta do que faz. Vejo pessoas, às vezes, escolhendo carreiras pensando que onde tem mais oportunidades pode ter mais alavancagem. Acredito que a gente tem mais oportunidade, mais alavancagem, quando a gente faz o que ama.
Ter um time de sucesso
"Tem que ser diverso, tem que se desafiar."
Time de sucesso vem muito de uma formação diversa, e de diversidade em todos os sentidos. Quando a gente tem uma diversidade de formação, de vivência, de gênero, de raça, de idade, são vivências diferentes, são modos de se enxergar o mundo diferentes. A gente consegue ter melhores análises, melhores soluções, melhores propostas para os times, para os clientes, se a gente tem uma variedade de repertório, uma amplitude de conhecimentos. Um time tem que ser diverso, tem que se desafiar, mas tem que ter um objetivo comum e gente competente.
Como lidar com crises
"O ideal é conseguir o mesmo nível de dedicação, de senso de urgência e de austeridade quando não existe a crise." Quando a gente tem períodos de crise ou de escassez, é muito claro que a gente precisa ter foco, o time unido, ter um senso de urgência muito forte. Ter ritmo, velocidade, analisar situações, buscar as melhores soluções com muita agilidade, com austeridade. Acho que é claro o que precisa ser feito. Lógico que ninguém quer passar por crise, por escassez, mas ela nos força a sermos melhores. Força-nos a sermos melhores como pessoas, como indivíduos, como times. É o lado bom de uma situação ruim. O grande desafio é conseguir fazer a mesma coisa quando não tem crise. Ter o mesmo nível de dedicação, de senso de urgência, de austeridade, e todas essas questões, quando não existe a crise.
Se a gente consegue manter isso, dá salto de desempenho. O grande ponto é, se não tem uma crise, a gente buscar o mindset como se existisse, porque, daí, a gente evolui tanto que está sempre preparado para quando vier outra crise.
Competitividade
"Se não tem concorrência, a empresa corre o risco de cair numa zona de conforto."
Concorrência é muito saudável, impulsiona uma empresa a ser melhor. Se não tem uma crise, você corre o risco de cair numa zona de conforto. Se tem uma crise, você não tem esse risco, é obrigado a avançar. Da mesma forma, se não tem concorrência, a empresa corre o risco de cair numa zona de conforto. Ter bons concorrentes é muito saudável para o mercado, para os clientes, e traz força para que as empresas evoluam. É muito importante. Dois bons concorrentes, ambos são melhores do que se não tivesse nenhum. A gente tem que olhar para um concorrente como um desafio. Qualquer empresa busca ser melhor do que seus concorrentes e tem o aprendizado. Dificilmente alguém vai ser melhor que os concorrentes em tudo, em 100% das coisas. Então, ter o estímulo é positivo, de superar a concorrência, de buscar o seu melhor nas suas forças internas, mas também olhar como aprendizado, um benchmark em alguns pontos, para poder melhorar o seu próprio negócio, olhando para o que o seu concorrente faz de bom e poder ser melhor do que você era ontem.
Mudanças climáticas
"Se a gente faz isso bem feito, com inovação, a gente muda o setor, melhora a indústria e economiza."
Tem muitas coisas importantes para a gente olhar. A gente vê a situação atual, é presente. Não é uma teoria de mudanças climáticas. A gente está vivendo na prática muitos desses efeitos. Pela urgência, a importância do tema, acho que a obrigação de cada um de nós, como indivíduos, e de todas as empresas, governos, organizações governamentais ou não, é endereçar bem o tema no que podem fazer. É importantíssimo que, tudo o que a gente faz, a gente faça olhando tanto para o resultado que gera agora quanto para o que fica para frente.
A gente busca a superação de expectativas e a certeza de fazer isso de forma responsável, olhando para tudo que a gente faz, os impactos para o meio ambiente, para a sociedade, mitigando impactos negativos, trazendo impactos positivos, liderando o tema, sendo exemplo em muitas questões ambientais. Demanda muita criatividade. A gente tem compromissos públicos sobre o tema. No nosso ciclo anterior de compromissos públicos, a gente colocou metas que, na época, todo mundo falou: "Puxa, a gente não vai conseguir atingir isso." E todos nós dissemos: "Se a gente continuar fazendo da forma que a gente faz hoje, não." E é para isso. Os compromissos públicos são mais do que metas desafiadoras. Isso move o time a buscar as melhores soluções dentro de casa, com parceiros, nossos fornecedores, universidades. E a gente tem, ao longo da nossa história, superado todos os nossos compromissos públicos, com inovação, criatividade, e trazendo isso de forma sustentável financeiramente também. Porque, se a gente faz isso bem feito, com inovação, criatividade, pesquisa, a gente muda o setor, a gente melhora a indústria e a gente economiza. A gente faz de forma sustentável do ponto de vista ambiental, mas também do financeiro. E é por isso que a gente consegue escalar.
Diversidade e inclusão
"Se a agenda é provar que se está certo sempre, vamos trazer quem pensa igual. Pode ser mais fácil, mas não é o melhor."
Tem de ter um propósito real (de inclusão), de um objetivo comum, uma agenda coletiva, maior. Qual é o melhor para o seu cliente final, para o seu time? Se tiver isso verdadeiramente, a gente busca essa diversidade, porque aí tem as melhores soluções mesmo. Se a agenda é a de provar que se está certo sempre, a gente vai trazer pessoas que pensam igual à gente. E isso pode ser mais fácil, mais confortável, mas não é o melhor. Melhor é o que desafia e constrói soluções melhores. É um desafio porque, quanto mais diverso é, também de opiniões e de vivências, mais nós somos desafiados. Os líderes também. É muito bacana, mas também difícil. Ser desafiado, ser questionado, é positivo. Dependendo de como cada líder reage, você dá esse conforto, essa inclusão, essa segurança para que as pessoas possam questionar e contribuir ou não. É um ciclo virtuoso. E isso atrai mais talentos, que vão querer fazer cada vez mais isso. Traz realmente melhores soluções para a empresa. Quem ganha é a empresa, é o cliente, todos nós. Mas não é fácil. E, se não é feito, as pessoas não se sentem incluídas, também não se sentem seguras e não buscam esses times, essas empresas.
Saúde mental
"Tendo equilíbrio e segurança, a gente tem saúde mental."
Começa pela segurança emocional de a gente poder saber que está contribuindo e que as nossas opiniões são importantes naquele time, se sentir incluído de verdade, poder participar e contribuir e ter equilíbrio. Parte da própria pessoa, mas também das lideranças, das empresas, gerar esse ambiente de segurança emocional, de inclusão. Porque acho que a gente tem muitas demandas na vida, de trabalho, de família, de amigos. Tendo equilíbrio e segurança, a gente tem uma boa saúde mental. Lógico que a gente tem dias mais difíceis, mais desafiadores, mas superar obstáculos, desafios, trabalhar com gente que me desafia também, que é melhor do que eu e que contribui, buscar uma empresa cada vez melhor, é um grande prazer.
Trabalho e vida pessoal
"A qualidade de vida não é não trabalhar, é você ter um equilíbrio."
Amo o que eu faço, e isso me dá energia para estar com mais qualidade com a minha família. Cuido muito bem da minha saúde, faço esportes. Uma coisa me dá mais energia para a outra. A gente fala de qualidade de vida ou de dedicação no trabalho, e algumas vezes as pessoas misturam. A qualidade de vida não é não trabalhar, é você ter um equilíbrio entre um trabalho muito intenso e bacana e poder ter alguns momentos de lazer. Quando a gente equilibra bem, uma coisa melhora a outra, melhora sua qualidade de vida, sua saúde, seu trabalho.
Para atuar no varejo de moda
"Ter o entendimento sistêmico, das inter-relações. Olhar só para uma parte não necessariamente melhora o todo."
(Sobre) tudo que a gente quer fazer na vida, a gente tem que entender. Eu vim trabalhar no varejo de moda entendendo um pouco de varejo e quase nada de moda. Mas, a partir do momento que escolhi trabalhar nisso, aí eu preciso entender, mergulhar. Lógico que a gente tem especialistas em cada tema. Cada um tem a sua atividade específica. A gente se soma para fazer o todo. É importante termos sempre pensamentos sistêmicos. Estou falando sobre matéria-prima, cadeia de suprimentos, logística, fornecimento. É muito importante o entendimento sistêmico, das inter-relações, porque ao olhar só para uma parte não necessariamente se está melhorando o todo. O mundo está cada vez mais interconectado. Tem mais possibilidades, soluções, mas muita interconexão que traz um pouco mais de complexidade. O ponto é: como é que a gente torna coisas complexas em simples, como é que a gente simplifica a vida das pessoas? Usando da tecnologia existente, das possibilidades de conexões entre empresas, parcerias entre o ecossistema ou ecossistemas.
Fabio Faccio / CEO da lojas renner
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