Jueves, 05 de Junio de 2025

‘Boi de baixo carbono’ traz benefícios ao clima e ao produtor

BrasilO Globo, Brasil 30 de marzo de 2024

A carne bovina é o alimento que mais contribui para as emissões de gases de efeito estufa ...

A carne bovina é o alimento que mais contribui para as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), mas é possível mitigar o impacto mesmo em pastos degradados. O protocolo de carne baixo carbono, lançado pela Embrapa, mostra que técnicas de manejo de pastagens, cuidados com o solo e revezamento com lavouras de grãos podem compensar parcialmente as emissões pela pecuária " e ainda aumentar a produtividade, ampliando os lucros do produtor.
O metano, decorrente do processo digestivo dos bois, é o segundo maior vilão do aquecimento global, atrás apenas do dióxido de carbono (CO2), cuja fonte principal são os combustíveis fósseis. Segundo o Observatório do Clima, a emissão de metano pelo rebanho bovino corresponde a 17% das emissões de GEEs pelo Brasil. Esse impacto é agravado porque caminha junto com outras causas do aquecimento global, como os desmatamentos e queimadas feitos para abrir novos pastos.
Com o protocolo, a Embrapa quer estimular proprietários de terras degradadas do Cerrado a produzirem mais em áreas já utilizadas, evitando novas supressões de florestas. Além de proteger o clima do planeta, as regras para produzir carne de baixo carbono resultam em lucro maior para o produtor.
" O sistema de carne baixo carbono é vantajoso para o pecuarista, que produz mais em menos espaço e ainda diversifica a renda com a lavoura " diz a pesquisadora Márcia Silveira, que coordenou o trabalho de validação das diretrizes pela Embrapa Pecuária Sul (RS) e atualmente trabalha na Embrapa Milho e Sorgo, em Minas Gerais.
Animais ganham peso
Além de calcular emissões entéricas (intestinais) de metano pelo rebanho, o estudo, feito no Oeste da Bahia, levou em conta o ganho de peso médio diário dos animais e o ganho de peso por área, garantindo maior eficiência. Segundo Márcia, os bois, colocados no pasto com idade entre 8 e 10 meses, conseguiram atingir o peso para abate em apenas um ano. No sistema padrão, esse período varia de 25 a 26 meses.
" O protocolo valoriza o sistema de produção, e o objetivo não é complicar, mas trazer mais ganho para o produtor " explica a pesquisadora.
Pelo sistema, o boi é colocado no pasto quando o capim mede em torno de 90 centímetros de altura e retirado quando baixa à metade (45cm). O animal é então levado para outra área, onde a forrageira ainda está alta. Sem ser totalmente raspado, o pasto prospera.
O capim desenvolve raízes e melhora a estrutura do solo, que passa a incorporar mais matéria orgânica. A fertilidade do solo é monitorada a cada dois anos, repondo os nutrientes necessários para manter a pastagem.
Quando a pecuária é alternada com lavouras de soja ou milho, por exemplo, diminui a ocorrência de pragas e plantas invasoras, além de impedir o surgimento de processos de erosão, comuns em pastos com terra exposta. O proprietário é quem determina os intervalos de rotação entre lavoura e pecuária.
Márcia explica que o sistema evita a compactação do solo e, com as medidas de conservação, mantém o estoque de carbono. Globalmente, segundo especialistas, há de duas a três vezes mais carbono estocado nos solos em relação ao estoque de vegetação.
A vegetação exposta a pastoreio intensivo por longos períodos, sem intervalo para recuperação ambiental, resulta na compactação do solo. No Nordeste brasileiro, esta é uma das causas de processos de desertificação.
Por sua vez, o manejo, como o desenvolvido pela Embrapa, enriquece o solo também do ponto de vista biológico, pois ele passa a ter mais micro-organismos.
Testes na bahia
O protocolo da Embrapa foi validado na Fazenda Santa Luzia, entre os municípios de Cocos e Jaborandi, na Bahia. A área é parte da Fazenda Trijunção, adquirida no início dos anos 2000 com o propósito de preservar nascentes e veredas. Na época, 10% da área já estavam desmatados, e a fazenda operava com rebanho confinado. Os pastos estavam degradados e sem uso.
A validação do protocolo foi feita entre maio de 2019 e setembro de 2021, com dois ciclos completos de produção animal. Várias das medidas de rotação e manejo da pastagem e dos animais propostas pelos pesquisadores já haviam sido implantadas, aumentando a produtividade. A parceria com a Embrapa intensificou a adubação do solo e passou a mensurar as emissões de gases.
Segundo Allan Figueiredo, gerente da fazenda, a adoção do conjunto de regras permite mitigar entre 30% e 40% da emissão de gás metano, e a fazenda passou a produzir três vezes mais carne.
" Muitos vão adotar não porque compensa a emissão do carbono, mas para incrementar a produtividade e o resultado da operação. É uma questão de eficiência " resume o zootecnista, acrescentando que, no Brasil, segundo dados do IBGE, 70% dos pastos são degradados em alguma escala e produzem menos de um boi por hectare.
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