Empresa faz acordo para distribuir similar do ozempic, e ação sobe 37%

A Biomm fechou uma parceria com a farmacêutica indiana Biocon para distribuir no Brasil um similar do medicamento Ozempic, desenvolvido para tratar o diabetes tipo 2, mas que vem sendo muito usado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para o emagrecimento. O anúncio fez com que as ações da empresa disparassem ontem. Os papéis fecharam em alta de 37,62%, a R$ 15,29.
O medicamento que será comercializado no Brasil tem como princípio ativo a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, que promove a saciedade.
Atualmente, a única farmacêutica com direito de exclusividade sobre a semaglutida é a dinamarquesa Novo Nordisk, mas o prazo da patente expira em 17 de julho de 2026. Depois disso, outros fabricantes poderão produzir medicamentos similares.
Pelos termos do acordo, a Biocon será responsável por desenvolver, fabricar e fornecer o remédio, enquanto a Biomm, que tem uma fábrica em Nova Lima (MG), ficará encarregada de obter aprovação regulatória e comercializar o produto no mercado brasileiro.
O Brasil é o quinto país do mundo com a maior incidência de diabetes. A doença afeta 16,8 milhões de adultos na faixa etária de 20 a 79 anos, e há uma estimativa de que os casos passem para 21,5 milhões até 2030, de acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF).
" Por isso, priorizamos parcerias estratégicas para expandir o acesso da população a tratamentos avançados para essa doença e melhorar a qualidade de vida das pessoas " disse o CEO da Biomm, Heraldo Marchezini.
Em 2023, as vendas do Ozempic no Brasil somaram R$ 3,1 bilhões, com taxa de crescimento médio de 39% entre o ano de 2021 e 2023, segundo a IQVIA, empresa de análise de dados na área de saúde.
A importação, comercialização e distribuição do medicamento no Brasil estarão sujeitas, ainda, à obtenção do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à publicação do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Diretor de Relações com Investidores da Biomm, Renato Arroyo diz que ainda é cedo para estimar o valor a ser cobrado do consumidor pelo medicamento, mas a chegada de remédios similares ao mercado com o término da patente, certamente, vai ajudar a reduzir o preço. Atualmente, uma caixa de Ozempic custa em torno de R$ 1 mil.
" Esse mercado pode ser maior, com preços um pouco menores, mas abrangência maior. É um mercado que tem demanda maior do que a oferta neste momento " afirma o executivo.
De acordo com Arroyo, a Biomm buscou se antecipar aos concorrentes, firmando o acordo com a indiana Biocom dois anos antes do final da patente. Assim, a empresa espera chegar em 2026 com o medicamento já aprovado pela Anvisa.
produção nacional
No contrato, é de responsabilidade da Biocon a produção e desenvolvimento da semaglutida, enquanto a Biomm é encarregada da importação e comercialização do remédio no Brasil " mas a brasileira não descarta produzir o medicamento em território nacional.
" Vamos inaugurar uma fábrica de insulinas na semana que vem. Com pouquíssimos investimentos, essa planta poderia ser usada para produzir a semaglutida. O contrato, neste momento, não rotula isso. Mas, num futuro, pode haver oportunidade de a gente produzir.
A unidade será inaugurada em Nova Lima (MG) cinco anos após sua construção, com investimentos superiores a R$ 800 milhões. A capacidade produtiva é de 20 milhões de carpules (uma espécie de seringa) e de frascos tanto de insulina humana quanto de glargina, uma insulina mais nobre. Até então, a Biomm não fabrica medicamentos; apenas os distribui.
Diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, o consultor de negócios Eduardo Yamashita ressalta que uma eventual produção nacional da semaglutida ampliará o acesso ao medicamento, já que a tendência é a redução de preço e aumento da disponibilidade do produto.
37,62%
de alta nas ações da Biomm
Os papéis da empresa
dispararam após o anúncio
da parceria com a Biocon
39%
crescimento médio das vendas de Ozempic no Brasil
Percentual foi observado entre os anos de 2021 e 2023. Só neste último foram R$ 3,1 bilhões