Enchentes ainda afetarão a produção gaúcha de frutas
Com plantações alagadas e armazéns destruídos, os prejuízos que as inundações causaram a algumas ...
Com plantações alagadas e armazéns destruídos, os prejuízos que as inundações causaram a algumas das principais culturas agrícolas do Rio Grande do Sul, como soja, arroz e milho, são visíveis. O nível das águas já começou a diminuir no estado, mas, para o segmento da fruticultura, a pior fase das perdas com as enchentes pode ainda estar por vir.
" Vários pomares ficaram embaixo d’água, e não se sabe como a planta vai reagir a esse clima " diz Francisco Schio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM).
As chuvas podem não ter derrubado as árvores, mas o grande temor é de que a inundação das plantações leve ao apodrecimento das raízes, o que representaria a morte das plantas em culturas importantes no estado, como pêssego, maçã, uvas e citros.
No caso do pêssego, a colheita concentra-se em dezembro, mas uma parte menor dos trabalhos vai até janeiro. Com isso, no momento, os pessegueiros estão na fase de dormência, o que significa que os estragos decorrentes das chuvas que caíram no estado entre abril e maio podem aparecer apenas nas próximas safras.
Em 2022, o Rio Grande do Sul produziu 137,5 mil toneladas de pêssego, segundo o IBGE. Esse volume corresponde a mais de 65% da produção nacional.
As enchentes que castigaram o estado em setembro de 2023 já haviam causado uma quebra de safra nas áreas de cultivo de pêssego. As perdas se acentuaram no mês seguinte, com a ocorrência de chuvas de granizo. Grande parte dos pessegueiros que ficam em terrenos elevados escaparam dos alagamentos, mas as árvores que estão em pontos mais baixos ainda correm riscos.
" O grande volume de água pode prejudicar e até matar pessegueiros, mas os efeitos podem aparecer apenas na próxima safra " alerta Mauro Scheunemann, presidente da Associação dos Produtores de Pêssego de Pelotas.
Os produtores de uva também já encerraram a colheita, o que impediu que tivessem perdas significativas no momento. As chuvas destruíram parreirais especialmente na Serra Gaúcha, maior região produtora do estado. Com uma colheita de 725 mil toneladas em 2022, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do país.
área maior pode ajudar
Para Luis Bohn, técnico-adjunto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-RS), a ampliação da área de plantio poderá compensar as perdas com as inundações e evitar que os prejuízos sejam tão significativos na próxima safra.
Já para os produtores de maçã e citros, os prejuízos podem se materializar ainda na atual temporada. Até o início das enchentes, faltava colher 10% da área de cultivo de maçãs no Rio Grande do Sul " e 60% do que restava se perderam com as inundações. O estado produz, anualmente, 435 mil toneladas da fruta, 41% da colheita nacional. Santa Catarina lidera a produção de maçãs no país.
A janela de colheita de citros no Rio Grande do Sul estende-se de outubro a novembro. As câmaras frias podem ajudar no armazenamento das frutas, mas muitos desses equipamentos ficaram destruídos após as enxurradas.
Schio, da Abrafrutas, diz que ainda é difícil dimensionar o tamanho das perdas, especialmente porque o interior está muito isolado:
" Alguns (produtores) estão em abrigos e sequer têm telefones neste momento. Acredito que nem eles sabem dizer como está sua produção.