Extrema direita força presidente a olhar à esquerda
Análise
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A vitória da extrema direita e seus aliados no 1º turno das eleições legislativas na França fez mais do que confirmar o favoritismo do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, como já vinham apontando as mais recentes pesquisas . O sucesso eleitoral consolidou o partido, outrora marginal na política francesa, como uma força nacional capaz de chegar ao poder " agora ou em 2027 " e testa a capacidade das forças de centro e esquerda de superarem suas crises internas e dialogarem.
A tentativa de uma aliança " ou ao menos uma coordenação " eleitoral no 2º turno é a reprodução de uma estratégia que o professor de Relações Internacionais, David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita chamou de "cordão sanitário".
" [Ao convocar eleições antecipadas] Macron apostou em um sistema que funciona desde 2002. Quando Jean-Marie Le Pen chegou ao 2º turno, contra [Jacques] Chirac, os partidos de esquerda e de centro fecharam questão para aniquilar qualquer chance da então Frente Nacional chegar ao poder. O mesmo sistema de "cordão sanitário" funcionou em 2017 e 2022 " disse Magalhães. " Mas, em 2022, já havia sinal de que esse cordão poderia se romper.
Ainda é cedo para especular se a estratégia funcionará desta vez. Um desafio, porém, é a capacidade de Macron de realinhar o discurso, após um 1º turno em que classificou como extremistas siglas à direita e à esquerda.
" A campanha que Macron fez foi muito dura " avaliou o cientista político Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Uerj. " Ele usou a expressão "guerra civil" para se referir à ameaça que essas outras forças representariam. O que ele vai ter que dizer agora ao eleitor é que ele exagerou, e que parte daquelas pessoas que ele disse que iam declarar uma guerra civil são aliados importantes.
Em seus primeiros pronunciamentos, Le Pen e Bardella resumiram a disputa à ameaça de esquerda e ao Reagrupamento Nacional, apostando na polarização. A líder histórica do partido enfatizou que apenas uma vitória com maioria no Parlamento interessaria " o que permite projetar uma estratégia de longo prazo.
" A sinalização de que não vão aceitar o cargo de premier em um governo que não seja de maioria é uma decisão pensando em 2027. Eles não querem ser governo, se amarrados a uma coalizão que vai diminuir a margem de manobra deles, o que poderia diminuir o capital político do partido até 2027 " disse Magalhães.