Domingo, 06 de Octubre de 2024

Memecoins saltam 1.386% no ano: é para rir ou investir?

BrasilO Globo, Brasil 8 de julio de 2024

O principal objetivo dos memes é divertir. Mas, a partir deles, foram criadas moedas ...

O principal objetivo dos memes é divertir. Mas, a partir deles, foram criadas moedas digitais, conhecidas como memecoins, que têm levado alegria ao bolso de quem as compra. Os números impressionam. Somente no primeiro semestre deste ano, as dez principais memecoins lançadas na rede blockchain Solana acumulam valorização média de 1.385,8%, segundo dados da plataforma Coingecko.
Se consideradas apenas as cinco maiores em valor de mercado na rede Solana, a valorização média foi de 8.469% e superou em oito vezes a performance das cinco maiores da rede Ethereum (962%). Já o Bitcoin, a criptomoeda mais popular, subiu em torno de 40% no período. A pergunta que fica é: memecoins são bons investimentos?
De acordo com o relatório da Coingecko, no primeiro semestre deste ano o Brasil se tornou o segundo maior mercado das memecoins, atrás apenas dos Estados Unidos, com participação de cerca de 9% das transações globais desses ativos.
Assim como Bitcoin e Ethereum, as memecoins são criadas com tecnologia blockchain e podem vir a ter um valor sustentado por uma comunidade e um ecossistema tecnológico. No entanto, 90% delas têm a cotação impulsionada pelo meme que for a febre do momento.
‘Doguinhos’ fofos
Boa parte das memecoins não têm qualquer valor real, ou seja, não têm lastro em nada palpável, como as ações de uma empresa. E podem desaparecer tão rápido quanto nascem, causando muito prejuízo aos investidores.
De acordo com a plataforma de dados CoinMarketCap, sete memecoins valem no mercado acima de US$ 1 bilhão, alcançando a cifra, somadas, de US$ 35 bilhões.
A rede blockchain Ethereum é o maior "berço" de memecoins: lá nasceram as famosas Dogecoin (DOGE) e Shiba Inu (SHIB), ambas inspiradas na raça de cachorro japonesa Shiba Inu " especialmente a partir de uma foto da cadelinha Kabosu, falecida em maio.
A Dogecoin foi "adotada" pelo bilionário Elon Musk (Tesla, X, SpaceX) e, desde seu lançamento, foi a que conquistou maior relevância entre as memecoins, somando cerca de US$ 18 bilhões, já sendo a nona cripto em valor de mercado. A Shiba Inu vem logo depois, com US$ 10 bilhões.
Tudo isso, valendo "poeirinhas" de centavos de dólar. O preço médio da Dogecoin, no começo deste mês, é de US$ 0,119, e o da Shiba Inu, de US$ 0,00001643.
A rede Solana, concorrente da Ethereum, vem aumentando sua oferta desse tipo de cripto, sendo que a valorização de seu primeiro token, a SOL, avança conforme crescem os lançamentos de memecoins em seu ecossistema. No primeiro semestre, a Solana subiu 40%. Em 12 meses, saltou quase 900%.
O relatório do Coingecko destaca que, das dez maiores memecoins lançadas na rede Solana, apenas Bonk (BONK) e Samoyedcoin (SAMO) existiam antes do último trimestre do ano passado. Ambas têm como tema cachorros fofos, uma coqueluche entre as memecoins.
As memecoins foram, de longe, a temática cripto mais lucrativa no primeiro semestre de 2024, chegando a registrar retorno médio superior a 1.800%, segundo o relatório. As exceções foram o Brett (BRETT), "o melhor amigo do Pepe", que saltou 7.000% em menos de um mês. A PEPE, cripto baseada no meme da internet do sapo Pepe, também foi hit este ano, apesar de ter sido lançada há mais tempo.
A queridinha do ano, no entanto, é a Dogwifhat (WIF), memecoin de um Shiba Inu (sempre ele!) com gorro de crochê, que acumulou uma valorização de 1.700% no primeiro trimestre. Mas ela vem perdendo tração: até 3 de julho, o ganho "caiu" para 1.208%, com valor de mercado de US$ 2,2 bilhões.
Murilo Cortina, diretor da QR Asset Management, ressalta que as memecoins não têm uma proposta clara, só um sentimento de "comunidade" para criar uma moeda com algum tema cômico:
" Elas apenas seguem a narrativa de uma espécie de brincadeira no âmbito do mercado financeiro.
E, explica Cortina, assim como o valor de uma memecoin pode subir quando mais pessoas aderem à brincadeira, pode cair drasticamente ao perder a graça. O investimento em memecoins, diz, "traz riscos enormes e pode levar a perdas substanciais":
" Não existe dinheiro fácil e rápido.
O site TokenPost relacionou pelo menos 12 memecoins lançadas no ecossistema Solana no primeiro trimestre, que tiveram pré-venda,captaram alguns milhões de dólares e praticamente desapareceram.
Um exemplo é a I like this coin (LIKE). O "fundador" do projeto, que usa o pseudônimo pokeee.eth na rede social X, levantou 52.220 Solanas (SOL), cerca de US$ 7 milhões pela cotação de julho, e colocou a cripto no mercado em 11 de março, a um valor de mercado de mais de US$ 570 milhões. Mas, já no fim do primeiro dia, tudo evaporou, com a cotação inicial caindo mais de 90%.
" Memecoins são mais aventuras do que investimentos sustentáveis " diz Rodrigo Cohen, analista e cofundador da Escola de Investimentos. " É preciso saber que você pode perder o seu dinheiro todo, apostando em um investimento bem exótico.
Só pela sorte
Para Cohen, quem quiser se arriscar pode investir uma quantia bem pequena. Por exemplo, aplicar R$ 100 em uma memecoin que saltou 1.000%. Se essa valorização se repetir, ele ganha R$ 1.100. Se cair 99%, fica com R$ 1. Ele ressalta que, em hipótese alguma, deve-se investir "o dinheiro que não se pode perder".
" Muito investidor, iniciante principalmente, tem aquele ímpeto de ficar muito rico, muito rápido e fácil. A gente sabe que isso não existe, mas pode ter sorte. Se ganhar muito, vai ser mais pela sorte do que pelo fundamento.
O segmento de memecoins pode ser tão irônico que uma delas se chama Memecoin (MEME), token do projeto Memeland, da plataforma de memes 9GAG. Lançada em outubro do ano passado a US$ 0,02031, ela atualmente está cotada a US$ 0,01599.
Ou seja: as memecoins valem mais como diversão do que como investimento.
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