Lista de ações de maior retorno em 25 anos traz três brasileiras
Gerar valor aos investidores ao longo de duas décadas e meia é um indício de resiliência ...
Gerar valor aos investidores ao longo de duas décadas e meia é um indício de resiliência para quem aplica em ações mirando o longo prazo, ainda que não garanta resultados futuros. Com o objetivo de mostrar ao investidor essas opções, o Boston Consulting Group (BCG) elencou, a pedido do Valor Investe, as 25 ações que mais geraram valor nessa janela de tempo, em todo o mundo.
De 1999 até o ano passado, entre as 200 maiores empresas listadas em Bolsas de Valores há pelo menos 25 anos, a que mais gerou valor ao acionista foi a mineradora australiana Fortescue, com um retorno médio de 46% ao ano. O indicador não leva em consideração apenas a valorização do papel. Chamado de TSR (rendimento total para o acionista, na sigla em inglês), considera também a distribuição de dividendos pela companhia.
A australiana, que vem investindo em um projeto de hidrogênio verde no Brasil, é seguida pela empresa americana de energéticos Monster Beverage, com TSR de 32% ao ano. Em terceiro lugar está a gigante Apple, com indicador de 29% ao ano nesse longo período. Três empresas brasileiras da chamada velha economia também estão na lista: a Vale, em 6º lugar, com ganhos de 26% ao ano; a Petrobras, em 13º, com TSR de 22% ao ano; e o Itaú, em 20º, com TSR de 20% ao ano.
O boom da China, que se estendeu de 2000 a 2010, é uma das razões para as ações de commodities estarem na lista, afirma Mathieu Racheter, diretor de estratégia em ações do banco suíço Julius Baer. Já o motivo de o ranking não ter muitas empresas de tecnologia é que, em 2000, estourou a bolha da internet, e alguns papéis do setor só retomaram os níveis anteriores sete anos depois. Além disso, muitas empresas têm menor tempo de vida, pondera Lucas Garrido, diretor executivo e sócio do BCG.
Velha & nova economia
Chama atenção o fato de que, das 25 empresas que mais geraram valor entre 1999 e 2023, dez estão nos EUA e três na Europa, um argumento para diversificar lá fora. Isso porque mercados desenvolvidos geralmente estão mais expostos aos setores da nova economia, especialmente à tecnologia. Mas é possível, como o ranking demonstra, que algumas ações dos mercados em desenvolvimento se sobressaiam.
" Por isso, a seleção de ações é mais importante do que seguir o índice do mercado em países emergentes " diz Racheter, do Julius Baer.
O levantamento mostra como, em um quarto de século, os ganhos saíram dos setores da velha economia, como petróleo, mineração, varejo e bancos, e foram para a nova economia, que são as empresas de tecnologia de forma geral.
No levantamento mais recente, que compila dados dos últimos cinco anos (2019 a 2023), as empresas da nova economia brilham como nunca: a grande maioria tem, de algum modo, alguma ligação com o setor de tecnologia. Em primeiro lugar está a Nvidia, com um retorno de 71,7% ao ano, seguida pela Tesla, que apesar de ser uma montadora, é considerada de tecnologia por investir em carros elétricos, com ganhos de 62,1% ao ano.
Nesse prazo mais curto de análise, as brasileiras perdem destaque. A Vale sofreu com a desaceleração da economia chinesa e gerou um TSR de 18% ao ano, enquanto o Itaú foi afetado pelos juros mais baixos do período da pandemia e a concorrência crescente das fintechs, gerando um TSR de 8% ao ano, destaca Eduardo Carlier, codiretor de gestão da Azimut Wealth Management. A única empresa canarinho entre as 25 com os melhores retornos é a Petrobras, com ganhos de 35,8% ao ano, na 20ª colocação.
Serviços únicos
A boa posição da petroleira brasileira mesmo no ranking recente se deve ao seu ganho de eficiência nos últimos anos. Hoje, a Petrobras pode ser considerada uma das empresas do setor mais eficientes do mundo, afirma Luiz Carvalho, analista sênior do banco suíço UBS. A conquista se deve, em grande parte, a um processo de venda de ativos realizado entre 2016 e 2022 para resolver seu endividamento, após um período que Carvalho define como "destruição de valor" da petrolífera, de 2010 a 2015. A maturação da exploração do pré-sal também ajudou.
" A Petrobras renasceu das cinzas. Hoje, se o barril de óleo cair para US$ 40 (está em cerca de US$ 70), e a empresa decidir reduzir investimentos, ela vai sobreviver.
A geração de valor da Petrobras ao longo dos anos, ressalta o analista, foi resultado tanto do aumento de preços da ação quanto da distribuição de dividendos.
Outras empresas mostram resiliência ao compor o ranking nas duas janelas de tempo. Além da Apple, há Novo Nordisk (14º lugar), ASML (18º), Hermès (19º) e Lam Research (11º lugar), todas com TSR entre 21% e 22% ao ano no período de 25 anos.
Em comum, essas empresas oferecem produtos ou serviços que são praticamente únicos em mercados em crescimento. É o caso do iPhone da Apple e medicamentos que tratam a obesidade da Novo Nordisk. Já Lam Research e ASML fornecem componentes para a indústria de chips, cuja demanda cresceu, hoje impulsionada pela inteligência artificial (IA) e, antes, por jogos eletrônicos e criptomoedas. Já a Hermès é uma marca de luxo com mais de 100 anos, famosa por suas bolsas. Segundo ranking da agência Kantar, no segmento ela só fica atrás da Louis Vuitton.
O fato de uma empresa sobreviver a muitos ciclos econômicos e continuar a dominar em seu segmento é sinal de que ela pode continuar a gerar valor nos próximos anos, diz Garrido, do BCG.
Para investir nas empresas internacionais citadas no ranking, há tanto os certificados de ações de empresas americanas negociados na B3 (os Brazilian Depositary Receipts, ou BDRs) como os fundos de índices (Exchange Traded Funds, ou ETFs) de ações estrangeiras, também na Bolsa brasileira. Para investidores um pouco mais sofisticados, também já é possível investir nesses papéis diretamente lá fora, via contas em plataformas internacionais de investimentos, como Avenue e Nomad.
Atrás da próxima geração
No entanto, em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, em constante mudança, como encontrar as geradoras de valor das próximas décadas? Para Garrido, a forma mais fácil é via ETFs:
" Em um fundo passivo, é possível investir em diversas empresas de tecnologia. Ao longo do tempo, a cesta de papéis vai automaticamente retirando os perdedores, enquanto os ganhadores tomam uma porção maior do portfólio.
Racheter, do Julius Baer, tem outra recomendação: as ações que vão gerar mais valor no futuro não serão necessariamente as que pagam dividendos. Ele reconhece que apostar apenas no aumento do valor da ação é arriscado, mas lembra: "não existe lanche grátis". Ele sugere ainda se concentrar em empresas de médio e baixo valor de mercado:
" Empresas que já são gigantes não vão encontrar mais tanto espaço para crescer.