Você sabe quanto paga para a sua corretora?
A partir de sexta-feira, os investidores poderão saber quanto pagam para corretoras, ...
A partir de sexta-feira, os investidores poderão saber quanto pagam para corretoras, bancos e assessores credenciados para investirem o seu patrimônio. O serviço parece ser gratuito, mas não é: são cobradas comissões, até então escondidas, para fazer as operações e essas taxas variam segundo o produto financeiro comercializado.
A falta de transparência é uma preocupação para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado. O risco maior é o investidor fazer no escuro uma compra cara, de uma aplicação com comissão gorda para a plataforma e para o profissional, mas que não necessariamente é a melhor para ele.
É por isso que a entidade mandou as plataformas de investimentos, que podem ser corretoras ou bancos, ampliarem as informações para os investidores sobre as suas remunerações e as fatias que os seus assessores ganham a partir desta sexta-feira, quando entra em vigor a última parte da Resolução CVM 179.
Na prática, o que mudará é que na hora de fazer uma aplicação financeira nova, o investidor conhecerá exatamente qual é a forma de remuneração e os valores ou percentuais que paga efetivamente para a corretora ou o banco distribuir o produto. O investidor poderá saber quanto paga, por exemplo, para comprar uma ação, um Certificado de Operações Estruturadas (COE), uma debênture ou um fundo de investimento.
Contudo, o investidor não poderá saber quanto paga para comprar um Certificados de Depósito Bancário (CDB), uma Letra de Crédito Agrícola ou Imobiliário (LCA ou LCI) ou um papel do Tesouro Direto, por exemplo, nem qual é a comissão para comprar um consórcio ou um seguro. Isso porque esses produtos não estão embaixo da CVM, o que causou um incômodo em uma parte do mercado.
O valor ou percentual da comissão deve ser mostrado na parte logada do app ou do site da plataforma de investimentos, como determinou a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Caso o atendimento seja em agências ou pelo telefone, a informação deve ser disponibilizada em no máximo três dias úteis.
Nesse primeiro momento, a comissão pode ser apresentada de forma resumida, ou seja, não necessariamente estará discriminado qual é a fatia de remuneração que vai também para os assessores. Entretanto, é dever dos assessores divulgarem a sua estrutura de remuneração e os potenciais conflitos de interesse para os investidores, como manda a Resolução CVM 178, em vigor desde 2023.
A partir de janeiro de 2025, os bancos e as corretoras enviarão um extrato que mostrará a remuneração total no último trimestre e discriminará qual é a fatia da remuneração que foi para os assessores " e essa é a maior mudança. O número desses profissionais vinculados a corretoras e bancos disparou de 6 mil para 18 mil nos últimos cinco anos. Assim, aumentaram os bons e os maus profissionais.
Poder de negociação
A expectativa da CVM e da Anbima é que o acesso a esses dados melhore a capacidade dos investidores de tomarem as suas decisões. A ideia é que os investidores identifiquem eventuais conflitos de interesses e tenham mais poder de negociação em meio à competição cada vez mais acirrada entre os bancos, as corretoras e os escritórios de assessores credenciados às plataformas.
" As alterações empoderam o investidor, que saberá quanto está pagando de remuneração e se há diferenças entre os distribuidores e os produtos " afirma Luciane Effting, vice-presidente do Fórum de Distribuição da Anbima. " O investidor conseguirá comparar onde paga menos, mas considerando a melhor prestação de serviço e não somente os produtos oferecidos. Entra nessa conta o atendimento, a experiência digital e as ofertas complementares que o investidor pode receber.
Segundo a executiva, tanto os bancos quanto as corretoras precisarão seguir padrões de como informar os clientes sobre as comissões:
" A regra não cria assimetrias entre bancos e corretoras. Ambos devem divulgar as mesmas informações e, atualmente, os dois emitem produtos que não estão no guarda-chuva da CVM.
A Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (Abai) apoia as regras de transparência, mas defende que é importante elas valerem também para os gerentes de banco. A entidade pede que as plataformas de investimento eduquem os investidores, prestando informações sobre como funcionam as comissões de cada produto.
taxa fixa sobre a carteira
As remunerações são muito diferentes conforme o investimento. As comissões dos fundos de investimentos são pagas mensalmente, enquanto as comissões dos produtos de renda fixa são pagas de uma só vez. As remunerações são mais caras em investimentos com prazos mais longos e mais baratas em investimentos com prazos mais curtos. E aplicações que agregam mais valor para o investidor, como os fundos de ações ou multimercados, devem contar com comissões mais caras do que aplicações que agregam menos valor, como os fundos de renda fixa mais simples.
" Precisamos explicar essas cobranças para os clientes. Se não entenderem o que estão pagando, mais informações devem mais complicar do que ajudar " afirma Diego Ramiro, presidente da Abai. " A maior mudança será no comportamento dos clientes, que não estão habituados a verem o que pagam. Independentemente de os clientes acharem barato ou caro, saberão que esse serviço tem um custo e exigirão um melhor serviço.
As plataformas de investimentos e os escritórios de assessores credenciados a elas trabalham principalmente com o modelo de comissão, mas em algumas empresas os investidores podem pagar taxa fixa sobre a carteira, independentemente dos investimentos que estão lá. Normalmente a taxa é um percentual sobre o patrimônio do investidor.
No modelo de comissão, o conflito de interesses é maior. Porém, esse modelo pode funcionar para aqueles que gostam dos papéis do Tesouro Direto (que pagam menores comissões), mexem menos na carteira de investimentos ou sabem identificar se uma aplicação é boa mesmo para si. Já no modelo de taxa fixa sobre a carteira, o alinhamento de interesses é maior e esse modelo é melhor para quem gosta de contar com o assessor, sem precisar saber profundamente de investimentos.
Com as novas regras de transparência, espera-se que o modelo de taxa fixa sobre a carteira cresça, o que ocorreu em países como os EUA após o aumento da transparência.
No Brasil, o RN Investimentos foi um dos primeiros escritórios de assessores credenciados à XP a trabalhar com taxa fixa sobre a carteira. Atualmente, cerca de 70% do patrimônio do escritório sob assessoria está nesse modelo.
" Uma pequena parte dos clientes não deseja taxa fixa e esse modelo não é para todo mundo mesmo " afirma Rafael Nars, sócio-fundador da RN Investimentos. " A taxa fixa no Brasil ainda está começando, mas está longe de ser um lugar comum. Vemos muitas assessorias falando sobre esse modelo, mas pouquíssimas usando.
Ele tem dúvidas se os investidores vão conseguir interpretar todas as informações sobre as comissões que ficarão transparentes.
" Meu medo é sobrecarregarmos os investidores de informações, em vez de prestar informações digeríveis, e eles não saberem o que fazer com esses dados. Como acontece com os documentos das debêntures ou dos fundos, que são cheios de informações sobre os riscos das operações, mas não são lidos por quase ninguém " afirma.
Para que as informações sejam úteis, Nars aconselha comparar as remunerações de produtos parecidos.