Anpd pede explicações sobre ‘rg’ pela íris de ‘pai do chatgpt’
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) vai apurar se a World, um projeto que pretende ...
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) vai apurar se a World, um projeto que pretende criar uma identidade global a partir da verificação da íris humana, garante a privacidade e o tratamento correto de informações dos usuários brasileiros. O projeto é uma iniciativa de Sam Altman, um dos criadores do ChatGPT, e recomeça hoje no Brasil.
Em fase experimental e sob desconfiança de reguladores de dados de diversos países, o projeto chegou a operar no Brasil e em outros mercados durante algumas semanas, no ano passado. Segundo a World, aquele foi um "piloto" para o lançamento oficial que acontece agora.
A World afirma que seu objetivo é viabilizar a criação de uma espécie de "RG" internacional virtual. O processo é assim: uma pessoa se registra presencialmente e tem sua íris escaneada por um equipamento chamado Orb, gerando uma "identidade" única. Segundo seus criadores, essa "RG" digital ajudará a diferenciar humanos de robôs e inteligências artificiais, já que o avanço da IA tornará cada vez mais difícil a distinção..
REUNIÃO COM ANPD
Para verificar a "humanidade", o Orb captura uma imagem de alta resolução da íris, que é convertida por algoritmos em uma representação numérica do usuário. A empresa argumenta que a íris é a maneira "mais segura e confiável de verificar que as pessoas são seres humanos". A World garante que os registros originais do olho não ficam com a empresa, são criptografados e deletados.
O objetivo da Autoridade Nacional de Dados é obter mais informações sobre o processamento de informações e avaliar se o projeto está em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Ontem à tarde, a ANPD realizou uma reunião virtual com representantes da World, em que foram apresentados detalhes sobre o funcionamento da iniciativa para a autarquia federal. Durante a conversa, os fiscais da autoridade de dados fizeram questionamentos aos envolvidos e entregaram um ofício formal solicitando informações complementares sobre a World.
O foco da fiscalização é garantir que o tratamento dos dados biométricos coletados, no caso a íris dos usuários, siga as normas de privacidade brasileiras.
Segundo a World, o registro tem o objetivo de "verificar a humanidade" dos usuários e não o de guardar o registro biométrico.
O processo de fiscalização da ANPD poderá resultar em recomendações ou, eventualmente, em restrições ao funcionamento do projeto no país, caso sejam identificados riscos à privacidade dos dados dos brasileiros.
Para captar um conjunto de íris para o seu projeto experimental, a World terá dez pontos de cadastro em São Paulo, que começam a funcionar hoje. Qualquer pessoa com mais de 18 anos poderá se registrar. E a World está pagando para quem participar.
Os voluntários que fizerem a identificação a partir da íris receberão uma recompensa financeira por meio de uma moeda digital (25 tokens em até 48 horas. Ao longo de 12 meses, recebem mais 25). O valor pode ser convertido em reais e transferido para contas bancárias. Pela cotação de ontem, o ganho seria R$ 322,50.
O Brasil é um dos primeiros países da América Latina a receber o projeto oficialmente, após o teste inicial realizado no ano passado. O projeto foi lançado também em Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru, além de Alemanha, Polônia, Japão e Coreia do Sul.
TEMORES EM OUTROS PAÍSES
Na França e na Alemanha, autoridades também expressaram preocupações sobre o projeto, que chegou a ser suspenso em algumas regiões. Na primeira fase de testes, em 2023, o projeto atraiu grandes filas e aglomerações em locais de coleta, especialmente pela promessa de recompensas financeiras.