Sábado, 04 de Enero de 2025

Legado de carter no irã e israel

BrasilO Globo, Brasil 2 de enero de 2025

Guga Chacra

Guga Chacra
O legado de Jimmy Carter para o Oriente Médio pode ser descrito como gigantesco tanto pelos aspectos positivos quanto pelos negativos. Os efeitos do acordo de paz entre Israel e Egito e da Revolução Islâmica no Irã reverberam até hoje, mais de quatro décadas depois, nessa que é uma das regiões de maior instabilidade do planeta. A imagem do democrata e Nobel da Paz, que morreu no domingo aos 100 anos, para sempre será associada à dos diplomatas dos EUA mantidos como reféns na Embaixada em Teerã e ao aperto de mãos entre o premier israelense Menachen Begin e o presidente egípcio Anwar Sadat.
Na sua campanha presidencial em 1976, Carter criticou em debate o seu adversário e então presidente Gerald Ford por sua relação com o xá Reza Pahlevi ao ignorar as violações de direitos humanos cometidas pela ditadura iraniana. Após vencer a eleição, no entanto, Carter adotou uma relação estreita com o monarca de Teerã, no que muitos na época classificaram como hipocrisia. Para se ter uma dimensão da ligação entre ambos, o então líder americano se tornou amigo do xá e passou a virada do ano de 1977 para 1978 em um banquete no palácio imperial na capital iraniana, já agitada por protestos contra a ditadura.
Ao brindar seu anfitrião, acusado de atrocidades, Carter afirmou que "o Irã, por causa da grande liderança do xá, é uma ilha de estabilidade em uma das áreas turbulentas do mundo. Esse [brinde] é um grande tributo para a sua majestade e [mostra] da admiração e amor que meu povo tem por sua pessoa", como lembra John Ghazvinian em seu livro "America and Iran", sobre a história das relações entre os dois países desde o século 18. Um ano mais tarde, o xá seria deposto em uma revolução liderada pelo aiatolá Khomeini, que englobava inicialmente radicais islâmicos xiitas, liberais democratas e marxistas unidos contra a ditadura.
O cenário se agravou ainda mais quando Carter permitiu que o xá, já no exílio, fosse aos EUA para tratamento de câncer. Em resposta, revolucionários iranianos tomaram a Embaixada dos EUA em Teerã. Os americanos foram mantidos como reféns por 444 dias até serem libertados minutos após Ronald Reagan assumir a Presidência, em mais uma humilhação para Carter. O regime iraniano se radicalizaria, colocando no ostracismo os liberais democratas e adotando uma postura anti-EUA mantida até hoje, 46 anos mais tarde. Foi no governo Carter que surgiu o problema iraniano.
Ao mesmo tempo, Carter conseguiu mediar um acordo entre o Egito, maior nação árabe, e Israel em Camp David. Os dois países haviam travado quatro guerras, em 1948, 1956, 1967 e 1973. Por muitas décadas, a paz entre os dois era inimaginável. Pode não ter resolvido todo o conflito no Oriente Médio, mas abriu espaço para acordo posterior de Israel com a Jordânia e as negociações de Oslo com os palestinos. A repercussão é sentida até hoje, com o Egito mantendo um papel importante de negociador em questões regionais, como agora para um cessar-fogo e libertação de reféns na Faixa de Gaza.
Os acontecimentos internacionais não dependem somente do presidente dos EUA, mas um líder americano sempre pode influenciar de alguma forma. Carter viu em Sadat e Begin duas figuras que queriam a paz. Por outro lado, ignorou as atrocidades do xá e não soube fortalecer o lado mais liberal-democrata da revolução iraniana representada pelo premier Mehdi Barzagan, que acabou removido meses após assumir o cargo por indicação de Khomeini.
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