Sábado, 18 de Enero de 2025

Turbulência da bolsa traz oportunidade em dividendos

BrasilO Globo, Brasil 6 de enero de 2025

Quer ganhar dinheiro comprando ações em 2025? Se a ideia for lucrar com a Bolsa subindo no ...

Quer ganhar dinheiro comprando ações em 2025? Se a ideia for lucrar com a Bolsa subindo no curto prazo, vai ser difícil, por causa da Selic em alta. Agora, para quem tem sangue frio para a volatilidade, há boas pagadoras de dividendos dando sopa. E, como tudo tem dois lados, as quedas recentes e as que podem estar por vir são sinônimos de descontos.
" Há muito estresse sobre os juros, com previsões da Selic a 15% ao ano em um cenário macroeconômico que retroalimenta essas expectativas. Focar em empresas com perspectivas de distribuição de lucros é uma boa estratégia defensiva " defende Rafael Cota, gestor de renda variável da Inter Asset.
Em geral, as boas pagadoras de dividendos são justamente as empresas mais sólidas, que tendem a ser mais resistentes sob conjunturas adversas. Em 2024 foi assim.
O Ibovespa, principal índice da bolsa, caiu mais de 10% no ano passado, com apenas 15 de suas 86 ações escapando de acumular perdas. A despeito disso, boas pagadoras de dividendos entregaram retornos de até 19% do valor da ação aos seus acionistas.
Entre as dez companhias com os maiores índices de rentabilidade com dividendos do Ibovespa em 2024, cinco são exportadoras ou têm receitas dolarizadas. Outras duas são do setor de energia, e duas, do financeiro. Por fim, a Eztec se destaca no setor de incorporação e construção.
Ainda assim, juros altos são juros altos. E exigirão, mesmo no caso das ações que geram mais proventos, uma seleção rigorosa.
Nesse caso, há um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Valor Investe: não inventar moda. O foco dos investidores deve ser nas tradicionais boas pagadoras, ou seja, grandes instituições financeiras, empresas de energia, saneamento e exportadoras. Mas mesmo entre elas é preciso ser criterioso.
" Nosso processo de seleção de ativos na carteira está mais associado à análise micro, com base nas expectativas para balanços e distribuição de dividendos, do que concentrado em um setor " explica Arley Junior, estrategista de investimentos do Santander.
Ameaças este ano
Sim, juros, juros e mais juros devem povoar as narrativas do mercado em 2025. De novo. E com ainda mais gravidade neste ano.
"Se está atravessando o inferno, continue caminhando", afirmou em relatório o estrategista de ações da EQI Research Felipe Reis, em referência à célebre frase atribuída ao premiê inglês Winston Churchill. O que faz sentido em meio às projeções pessimistas para a B3 este ano.
No Brasil, o Banco Central já sinalizou uma Selic a pelo menos 14,25% em março. Mas pode ir além disso, caso a percepção de risco fiscal doméstico piore mais ou se a inflação subir nos EUA " algo que, pelas promessas de Donald Trump, é totalmente possível.
Enquanto isso, a maioria dos analistas e gestores vê espaço para o Ibovespa entregar retornos menores do que a renda fixa. Com isso, ter uma estratégia de investimento na Bolsa focada em dividendos pode beneficiar o investidor com apetite por risco, tolerância para volatilidade e paciência para embolsar ganhos.
" Com expectativa de juros elevados em 2025, a alocação em pagadoras de dividendos ganha importância, já que essas empresas costumam ser boas geradoras de caixa e conseguem atravessar momentos macroeconômicos difíceis sem tanta volatilidade. Lembrando que o investimento em dividendos deve ser feito com uma carteira diversificada, que tenha pelo menos cinco papéis " diz Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.
João Piccioni, chefe de investimentos da Empiricus Gestão, observa que os balanços devem começar a refletir a deterioração macroeconômica no segundo trimestre deste ano.
Isso porque, com juros elevados por mais tempo, os lucros ficam estrangulados. E os dividendos nada mais são do que uma parcela do lucro distribuída aos acionistas. Então, por mais que a receita da companhia cresça, sua margem de lucro tende a ser comprimida pelo custo maior do endividamento. E juros e inflação altos tendem a inibir o consumo, reduzindo a receita das empresas.
Por isso, ações de empresas com um histórico consistente de distribuição de dividendos devem ter mais peso nas carteiras.
Como investir?
Com os preços dos ativos brasileiros refletindo a piora da percepção de risco no país, empresas com geração de caixa elevada, baixo endividamento e capacidade para distribuir dividendos tendem a se destacar na Bolsa.
Um nome incontornável é o da Petrobras. No seu último plano estratégico, a maior pagadora de dividendos da B3 reforçou a orientação de distribuir lucros aos acionistas.
Em novembro, ela foi responsável por garantir o retorno mensal de 1,4% da carteira de dividendos da EQI Investimentos. Em dezembro, as maiores posições da casa eram em Petrobras e Itaú, cada uma com 20%.
Cota diz que o Inter reforçou seu foco na Petrobras, que está atualmente na carteira do fundo de investimento em ações (FIA) Inter Dividendos. A equipe da gestora calcula que a estatal deve entregar um dividend yield (dividendos pagos em proporção ao preço das ações) próximo de 15% este ano.
" A Vale deve entregar um dividend yield em torno de 10%. Nesse caso, considero também o programa de recompra de ações. Estamos vendo muitas empresas iniciando essas movimentações (recompra de ações), um sinal de que os próprios gestores dessas companhias entendem que as ações estão baratas " acrescenta Cota.
Já a XP prefere a Petrobras à Vale na sua estratégia de ações para 2025, também com base nos ganhos de médio e longo prazos e em dividendos. A casa estima o potencial de pagamento de dividendos para a Petrobras entre 15% e 20%, e o da mineradora, entre 8% e 9%.
Hungria, da Empiricus, por sua vez, ressalta que o Itaú continua a apresentar indicadores de forte geração de valor sobre o patrimônio:
" É uma empresa que já mostrou que consegue entregar resultados mesmo com um cenário macroeconômico difícil. Além disso, tem dividend yield projetado de 10%.
Os bancos, assim como as seguradoras, têm fluxo de capital para investimento. Esse montante costuma ser, em grande parte, aplicado na renda fixa. Ou seja, a receita financeira dessas empresas tende a ser maior com os juros altos, puxando o lucro.
A Empiricus cita ainda um nome que foge dos setores recomendados: a construtora Direcional.
" Além de estar entregando resultados fortes, a Direcional acabou de assinar um memorando para vender parte de sua participação na Riva, o que deve contribuir para a distribuição de um dividend yield próximo a 20% " diz Hungria.
Por fim, as empresas de energia são tradicionais distribuidoras de lucros, uma vez que a margem de ganhos no setor é elevada. Cota lembra que elas têm contratos que permitem repassar a inflação ao consumidor, o que torna o setor mais previsível.
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