Sábado, 07 de Junio de 2025

Vamos dobrar de tamanho e olhar mais para dentro

BrasilO Globo, Brasil 7 de junio de 2025

Entrevista

Entrevista
Fundada há uma década, a junior oil carioca Prio acaba de fechar acordo de US$ 3,3 bilhões (mais de R$ 18 bilhões) com a norueguesa Equinor para atingir participação de 100% no campo de petróleo Peregrino, na Bacia de Campos. À coluna, o CEO contou como essa compra, juntamente com a obtenção de uma aguardada licença ambiental, deve dobrar seu tamanho e mudar suas prioridades.
Vocês acabam de comprar Peregrino e receber a licença ambiental para Wahoo, ambos na Bacia de Campos. O que muda?
Esses dois fatos levam a companhia de quase 100 mil barris por dia para mais de 200 mil, com folga. Então, na prática, dobramos de tamanho. Isso se concretiza em algum momento do primeiro semestre de 2026. No caso de Wahoo, conseguimos a licença para perfuração, mas ainda buscamos a licença para interligar os poços à plataforma. Deve sair na segunda metade deste ano.
A primeira licença já demorou muito, certo?
Muito, uns três anos. Ano passado foi perdido para a gente em relação ao Ibama. Teve greve, operação-padrão... Só agora podemos começar a manutenção de um poço de Tubarão Martelo que quebrou em julho do ano passado. Essa demora tem impacto na sociedade. Só Wahoo gera US$ 90 milhões em royalties por ano.
Por que suas ações na Bolsa não reagiram tanto a essas notícias?
Em algum momento, realidade e mercado se encontram. Mas há três possíveis gatilhos. O primeiro é conseguirmos o licenciamento para produzir em Wahoo. O segundo é integrar Peregrino, fechar a transação. O terceiro diz respeito a Albacora, campo que compramos da Petrobras com eficiência baixíssima. Tivemos um ano passado ruim em Albacora, mas fizemos um bom trabalho no primeiro trimestre. O mercado quer saber como vamos resolver.
O senhor citou a demora do Ibama. Como avalia o projeto de lei sobre licenciamento ambiental que tramita no Congresso, o que vem sendo chamado de "PL da devastação"?
Prefiro não falar muito sobre ele, porque ainda não foi aprovado, e a única certeza que temos é que o que vemos hoje não será o texto final. Parece que algumas coisas dão um pouco mais de agilidade, mas há muita crítica…
Vocês cresceram via aquisições. O fim dos desinvestimentos da Petrobras atrapalha?
Não. De todos os ativos que compramos, só Albacora veio da Petrobras. O restante das transações foi com outras majors. Nossa estratégia é baseada no perfil de especialização de cada tipo de empresa. As majors são fortes em exploração, engenharia, desenvolvimento, coisas muito intensivas em capital. Quando o campo está mais maduro, como temos poucos ativos, conseguimos dar um foco maior. Então, a gente escolhe o que gosta e vai atrás. É bater na porta do CEO, mandar oferta. Esse é um dos grandes papéis do Nelson (Queiroz Tanure, presidente do conselho da Prio e filho do empresário Nelson Tanure, acionista de referência da companhia). Este ano, nós dois fomos à Noruega conhecer o CEO da Equinor.
O que fazem quando entram em um campo?
Não tem ciência de foguete. O custo administrativo é baixo, somos enxutos. E, como nossos campos são concentrados no norte e no sul da Bacia de Campos, operamos como se fosse um campo só. Usamos o mesmo helicóptero, as mesmas embarcações etc.
É tipo um Airbnb do petróleo…
Exatamente! E outra coisa que fazemos, que poucas juniors fazem, é operar nossos próprios FPSOs (navios-plataforma). Isso evita relações conflituosas e custos mais elevados.
Mas e a produção em si? Como aumentar ou frear o declínio em campos maduros?
A gente perfura (risos). Não temos uma grande sacada. Quando compramos Frade, a própria Chevron nos disse quais outros poços poderiam ser explorados. Eles sabiam, mas levavam o projeto para a matriz, e sempre há outros projetos no mundo que são priorizados.
Há novas aquisições previstas?
Este ano, e um bom pedaço do ano que vem, vamos olhar mais para dentro. É o momento de absorver os novos ativos. Nosso novo tamanho muda inclusive o tamanho dos nossos alvos. Hoje, já buscamos transações na casa dos US$ 2 bilhões, mas, com geração de caixa maior, vamos olhar ativos maiores também. O desafio é encontrar ativos desse tamanho. Se não encontrarmos, remunerarmos os acionistas com dividendos, recompra de ações.
Vocês avaliam participar do leilão da ANP?
Nunca participamos e não está nos planos.
Há planos de investimento em energia limpa?
O que a gente sabe produzir bem é petróleo. Por curiosidade, já olhamos projetos eólicos e solares, mas os retornos estimados nunca chegaram nem à metade do retorno que a gente procura. Então, antes disso, retornamos dinheiro para os acionistas, aí eles investem no que quiserem. Mas temos metas de redução da pegada de carbono por barril produzido.
A esta coluna, Aswath Damodaran disse que a Petrobras deveria desistir da energia limpa…
Eu estudei com o livro dele lá fora e concordo 100% com a tese! Muitas majors se reclassificaram como empresas de energia. Mas, extrapolando, isso quer dizer que elas conseguiriam montar uma usina nuclear? Isso nada tem a ver com petróleo.
Como vocês usam inteligência artificial?
Usamos menos do que gostaríamos, mas focamos em duas áreas: melhorar a manutenção preditiva dos ativos; e começamos a adotar IA em geologia, para detectar oportunidades próximas aos nossos campos atuais.
(Leia versão ampliada no blog da coluna)
Roberto Monteiro, CEO da PRIO
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