Jueves, 13 de Marzo de 2025

Cervejarias investem para provar que bebida sem álcool tem graça

BrasilO Globo, Brasil 9 de febrero de 2025

Thiago Ferreira tem 45 anos, é DJ de algumas das casas noturnas mais conhecidas de São ...

Thiago Ferreira tem 45 anos, é DJ de algumas das casas noturnas mais conhecidas de São Paulo e ciclista. Patricia Abed, de 64 anos, é chef de cozinha, mora no Mandaqui, na Zona Norte da capital paulista, e busca uma rotina mais saudável. Eles não se conhecem, nem frequentam os mesmos lugares, mas têm algo em comum: não recusam um brinde com cerveja, mas sem álcool.
A versão não-alcoólica de uma das bebidas mais consumidas do mundo não é novidade. A alemã Paulaner lançou uma de trigo em 1986. No Brasil, a Ambev introduziu a Liber há mais de 20 anos. Mas só recentemente a cerveja zero está ganhando mais adeptos no mercado brasileiro " e investimentos em marketing.
O consumo de cerveja zero no país saltou de 133 milhões de litros em 2018 para 649 milhões em 2023, alta de 388%. A consultoria Euromonitor estima que o volume tenha chegado a 752 milhões de litros no ano passado e pode atingir 1,18 bilhão em dois anos.
" Comecei com cerveja zero quando vieram novas opções próximas da convencional. Foi quando comecei a pedalar e parei de beber durante a semana. Eu me sinto mais leve e com maior disposição " diz Ferreira, o DJ Sabota, que toca de terça a sábado e só se permite um ou outro copo com álcool no fim de semana.
O crescimento desse segmento de bebidas, antes desprezado, acompanha a mudança de hábitos dos consumidores nos últimos anos, principalmente entre os mais jovens. Também é impulsionado por uma maior variedade de rótulos " da cerveja enriquecida com vitamina D à zero álcool com café " em supermercados, bares e até no isopor de ambulantes no carnaval de rua, além de melhorias no sabor e na publicidade.
" Antigamente, cerveja zero era ruim. Hoje, não vejo diferença " opina Patrícia que, há um ano, começou a reduzir o consumo de bebidas alcoólicas para perder peso e se preparar para uma cirurgia. " Nem bebo mais cerveja com álcool, não sinto vontade.
Fatia pequena do mercado
As cervejas zero respondem só por 5% do mercado, mas avançam sobre as convencionais. Há sete anos, eram pouco mais de 1%. Além do marketing, as cervejarias têm ampliado a distribuição. Elbert Beekman, gerente sênior de Marketing da Heineken 0.0 no Brasil, diz que a marca vem trabalhando desde o lançamento no Brasil, em 2020, para oferecer a versão não-alcoólica em todos os pontos em que houver a versão tradicional da cerveja.
" Isso leva tempo, mas estamos avançando " diz o holandês radicado no Brasil, acrescentando que a resistência ao produto tem diminuído em várias faixas etárias, mas o consumo é mais forte entre os jovens, cada vez menos interessados em álcool para manter hábitos saudáveis.
Segundo Beekman, o Brasil é um dos maiores mercados da Heineken 0.0 no mundo, mas ele ainda vê certo estigma. Em campanha global lançada semanas atrás, a empresa busca contornar as desconfianças sobre a versão não-alcoólica. Ela ampliou a presença estratégica do selo em grandes eventos, da Fórmula 1 ao Rock in Rio, passando por campeonatos de e-sports.
Dona das marcas Brahma 0.0 e Budweiser Zero, a Ambev, maior cervejaria do país, também tem ampliado o investimento no segmento a partir da percepção de que há um mercado para pessoas que buscam um estilo de vida mais saudável. Uma das novidades da empresa é a Corona Cero, enriquecida com vitamina D.
" A categoria não veio para substituir, mas para ampliar possibilidades. O consumidor deve ter liberdade para escolher o que faz mais sentido em cada ocasião " diz Gustavo Castro, diretor de Inovação da Ambev, lembrando que a Corona Cero patrocinou a Olimpíada de Paris, e a Bud sem álcool apoia festivais como o Lollapalooza, em São Paulo.
A gigante de bebidas ainda vai anunciar sua estratégia para o carnaval deste ano, mas adiantou ao GLOBO que, nas cidades onde patrocina a festa (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Salvador), ambulantes terão ao menos uma opção zero.
A espanhola Estrella Galicia, que já produz cerveja sem álcool há mais de três décadas, vê no Brasil um dos mercados com maior potencial de crescimento para a categoria, também apostando na associação entre bem-estar e cerveja. Hoje, as vendas da versão zero representam 7% do total no Brasil, mas a meta de Thiago Coelho, presidente da Estrella Galicia no país, é dobrar a participação nos próximos três anos.
" A gente entende globalmente que vai acontecer uma intersecção muito grande do que é a indústria de cerveja com alimentação e bem-estar. Na Espanha, já temos em teste cervejas que ajudam a baixar colesterol, por exemplo " diz o executivo, que prepara o lançamento de um novo segmento no Brasil, com rótulo zero. " O futuro da cerveja sem álcool será oferecer produtos que vão além da moderação e entreguem benefícios adicionais ao consumidor.
A mudança nos hábitos de consumo é global. Nos EUA, um estudo da Gallup mostrou que a proporção de adultos de até 35 anos que consomem álcool caiu de 72% para 62% em 20 anos. No Brasil, o Relatório Covitel de 2023 apontou redução no consumo regular de álcool entre jovens de 18 a 24 anos, de 10,7% para 8,1%. Entre os millennials (25 a 44 anos), caiu de 10% para 7%.
Publicado no ano passado, um estudo da consultoria de tendências Go Magenta aponta que 62% dos consumidores de bebidas alcoólicas já pensaram em reduzir o consumo. O motivo mais apontado é a busca por um estilo de vida mais saudável, opção mais citada (47,7%) pela geração Z, seguida da vontade de "ter mais autocontrole".
" O jovem de hoje não vê mais o excesso de álcool como algo "cool". Pelo contrário, há um novo olhar social em que o "bêbado da festa" pode ser visto como alguém que está passando vergonha " diz Gabriela Terra, responsável pela pesquisa, que vê as pessoas questionado mais os próprios hábitos." Há uma tentativa de sair do piloto automático. Muita gente nos contou que começou a intercalar bebidas alcoólicas com versões zero, e percebeu que isso não afetava a experiência.
Artesanal ‘lúcida’
Já há cervejarias artesanais que nasceram com o portfólio que é 100% não alcoólico. É o caso da Luci, criada no fim do ano passado. A marca " cujo mote é oferecer o "sabor da lucidez" " começou com três tipos de cerveja: uma lager com vitaminas A e D, uma sour com cambuci e jabuticaba e uma pilsen com café. Todas sem álcool.
" A ideia veio depois que fiz uma maratona em Berlim e vi o universo da cerveja sem álcool, que pode ter um benefício se você pratica exercício físico " diz Danniel Rodrigues, que deixou a advocacia para fundar a Luci com um amigo.
Presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, Márcio Maciel explica que a melhora no sabor da zero vem do barateamento da produção sem álcool:
" Nos últimos doze anos, a indústria empregou bilhões em novas tecnologias. Hoje, a cerveja zero é produzida normalmente, e é adicionado um processo final extra para evaporação do álcool. Foi algo que demorou. De início, era acessível só às grandes cervejarias.
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela