Jueves, 17 de Abril de 2025

Faltas nas empresas começam a afetar resultado financeiro

BrasilO Globo, Brasil 8 de abril de 2025

Novas relações de trabalho

Novas relações de trabalho
Ao divulgar seus resultados financeiros do último trimestre de 2024, o diretor de Relações com os Investidores da Vulcabras, Wagner Dantas, citou um motivo pouco comum para justificar o aumento do custo de produção: o absenteísmo. Para a dona de marcas esportivas como Olympikus e Mizuno, o aumento das faltas de trabalhadores acabou levando a um maior custo de mão de obra por hora na produção no quarto trimestre do ano.
Na teleconferência para divulgar os resultados, Dantas dissera que a origem do fenômeno era difícil de cravar, mas foi percebido "no Brasil como um todo" e não algo restrito às fábricas. Na terceira e última reportagem da série sobre as mudanças nas relações de trabalho, reduzir as faltas entrou no radar das empresas e até do Ministério Público do Trabalho.
O fenômeno não é só no setor de calçados. Seis em cada dez indústrias (59%) do setor têxtil relataram aumento no absenteísmo no ano passado frente a 2023, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), feito em fevereiro.
Para Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit, o dado acende uma luz amarela no setor. Embora não haja uma explicação clara para o fenômeno, ele explica que o aumento das faltas se insere num contexto de mercado de trabalho aquecido, com a taxa de desemprego nas mínimas históricas. Atrair e reter funcionários ficou mais difícil.
dificuldade de contratar
Cerca de 95% das empresas do setor têxtil disseram ter dificuldades para contratação de mão de obra, sendo 38% de pessoal para todas as funções, 8% de trabalhadores qualificados e 3% por valor da remuneração esperada acima do possível.
Isso numa situação onde a maioria das companhias busca incentivar trabalhadores a ter mais produtividade. De acordo com a pesquisa, 76% afirmaram que pagam salários maiores do que os previstos em convenção coletiva, enquanto 49% premiam a maior produtividade do empregado por meio de benefícios e prêmios.
" Os heads de pessoas têm que ter uma abordagem estruturante e holística para entender essa mecânica e desenvolver as melhores atratividades " disse Pimentel.
Segundo ele, a falta de mão de obra é preocupação que também atinge o varejo.
" É um caso generalizado. Supermercados têm adiado a abertura de lojas por falta de mão de obra. Ou começam o processo de contratação bem antes do que faziam anteriormente, dadas as circunstâncias. Quem precisa de mais pessoas sofre mais, e não tem bala de prata " diz Pimentel, ao citar a atração de alunos de escolas técnicas para mão de obra no setor.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) confirma o maior número de faltas dos trabalhadores. Segundo Haroldo Ferreira, presidente-executivo da entidade, a migração de trabalhadores para a informalidade, impulsionada pelo comércio eletrônico, tem sido um problema.
Ele diz que muitos trabalhadores conciliam empregos formais com atividades informais, como trabalho em plataformas digitais, o que acaba aumentando as ausências. A maior parte dos afastamentos é por doença, com apresentação de atestado, ou simplesmente não tem justificativa, afirma.
Benefício... só sem faltas
A Usaflex foi uma das empresas que notou um aumento no absenteísmo nos primeiros meses do ano. A companhia afirma que o mercado de trabalho aquecido tem oferecido outras oportunidades, inclusive na informalidade, para além do desafio estrutural de reter jovens na indústria.
" A grande maioria (das faltas) está muito vinculada às ausências injustificadas. Não tem atestado, não tem nada disso, e ocorre muito entre colaboradores com até um ano de empresa " diz Daniela Paula Colombo, diretora Jurídica e de Desenvolvimento Humano e Organizacional na Usaflex.
Por ser intensiva em mão de obra, a fábrica acompanha o nível de absenteísmo como um indicador importante para o planejamento da produção, explica Marcelo Guimarães, diretor de Operações da Usaflex:
" O absenteísmo já entra na conta do nosso planejamento, mas quando passa da taxa histórica é preciso remanejar pessoas dentro da fábrica ou buscar um recurso extra para compensar as ausências.
A procuradora Cirlene Zimmermann, coordenadora nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), diz que tem identificado reclamações de empresas sobre absenteísmo e práticas que tiram benefícios do trabalhador quando há falta:
" Já vimos que em alguns acordos e convenções coletivos, a concessão de benefícios como cesta básica ser condicionada à presença. Se faltar um dia, mesmo por doença, perde o benefício.
Transtornos mentais
Segundo a procuradora, tem havido aumento dos afastamentos por transtornos mentais que são agora considerados doenças ocupacionais pelo INSS.
As concessões de auxílio doença pelo INSS cresceram 29% no ano passado. Segundo Adroaldo Portal, secretário de Regime Geral de Previdência, o aumento de concessões está relacionado à maior agilidade das perícias:
" O tempo de espera caiu de 70 a 80 dias para 45 dias. E dobramos o número de peritos.
Nessa conta entra o Atestmed, a concessão de benefício pela internet, com apresentação de atestados. Na visão do MPT, isso pode prejudicar o reconhecimento de doença ocupacional.
" Sem avaliação do perito, o trabalhador pode perder. Quando há relação com o trabalho, o depósito do FGTS é mantido e há estabilidade de um ano após a volta da licença " explica Cirlene.
Portal afirma que afastamentos de 180 dias para cima exigem perícia presencial. E, se for atestado o vínculo com o trabalho, o benefício é retroativo.
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela