Domingo, 06 de Julio de 2025

Campeão e marcante, manga foi um dos maiores da história

BrasilO Globo, Brasil 9 de abril de 2025

OBITUÁRIO

OBITUÁRIO
um goleiro que não deixou a vida passar
As mãos gigantes, os dedos tortos, a mania de jogar sem luvas. A manga longa, o short curto. O goleiro do time de Nilton Santos, mas também de Jairzinho. Ídolo no Botafogo, no Internacional, mas campeão também pelo Grêmio. Pernambucano e brasileiro que virou herói também em terras uruguaias. Campeão onde passou, polêmico na mesma medida. Manga, falecido no início da manhã de ontem, aos 87 anos, não viveu discretamente. Fez jus ao seu 1,86 m e à sua elasticidade para aparecer. Campeão, controverso e marcante: uma vida sem deixar nada passar, um sinônimo de goleiro. Um paredão.
O apelido de Haílton Corrêa de Arruda veio ainda no Sport, onde começou, ao ser comparado com Manga, grande goleiro do Santos. Mal sabia que se tornaria o "Manga do Botafogo", grande rival do time da sua inspiração no futebol brasileiro da década de 1960. E viu muito mais que duelos históricos entre Garrincha e Pelé. Quatro vezes campeão carioca (1962, 1963, 1967 e 1968) " além de três Rio-São Paulo " pelo time de General Severiano, Manga viu da sua área dois Botafogos que se confundem na História como um só. Era um jovem goleiro titular do time do Mané, de Didi e Nilton Santos, base da seleção nos títulos de 1958 e 1962; e um já experiente arqueiro na equipe que teve Gerson, Jairzinho e PC Caju, pilares do Brasil tricampeão no México em 1970.
Pela seleção, jogou apenas a Copa de 1966. Há quem acredite que não teve mais espaço pela personalidade polêmica. Dizia, por exemplo, que contra o Flamengo, "o bicho era certo", dando como garantia o prêmio pela vitória contra o maior rival, irritando os rubro-negros antes dos jogos. E era quase certo mesmo. De 1960, quando assumiu a titularidade de Ernâni, a 1968, quando foi para o banco para Cao, foram 30 clássicos entre Botafogo e Flamengo, com apenas seis derrotas. Mais da metade dos duelos (16) saíram com o alvinegro vencedor, e o bolso de Manga mais cheio. O rubro-negro, em gesto nobre, foi uma das diversas instituições que homenagearam o goleiro, apontando-o como "um dos maiores adversários" de sua história.
tiro de joão saldanha
Acusado por João Saldanha, que o indicara para o Botafogo anos antes, de se envolver em um suborno em partida contra o Bangu de Castor de Andrade, Manga quase tomou um tiro do jornalista quando foi tirar satisfações na festa do título carioca de 1967. Da confusão entre o bicheiro, o cronista e o jogador, uma história que agora vê o seu terceiro protagonista se despedir. Na época, foi também o começo do fim de sua trajetória no alvinegro, que ficou mais marcada pela quantidade de taças conquistadas do que confusões acumuladas " foram 20 no total, entre torneios oficiais e amistosos, a maior coleção individual da história do clube. Dali para frente, o goleiro, mesmo desacreditado, mostrou capacidade de ser ídolo também com outras camisas: foi tri gaúcho e bi brasileiro com atuações estonteantes no Inter, voltando a conquistar o campeonato do Rio Grande do Sul, já veterano, pelo Grêmio, no fim da década de 1970.
Ganhou Libertadores
Encerrou a carreira como campeão equatoriano em 1981, aos 45 anos, pelo Barcelona de Guayaquil. Antes, vivera glórias maiores em outras línguas. Pelo Nacional, de Montevidéu, foram "só" um tetra uruguaio, uma Libertadores e um Mundial. As experiências e os amigos que fez fora do país o fizeram morar por anos no Equador e no Uruguai. Ganhou um sotaque espanhol, confundindo palavras entre o português e o castelhano. Esquecido, passou dificuldade quando os primeiros problemas de saúde começaram a aparecer.
Em 2020, reencontrou o Brasil também através da solidariedade de quem o admirava. Torcedores, amigos e jornalistas o resgataram para cuidar da saúde no Rio de Janeiro, onde viveu seus últimos dias ao lado da mulher Cecília. Deixou também um filho. Recebeu, ainda em vida, quando já se sabia que eram os últimos anos, homenagens que o emocionaram e fizeram emocionar. Uma das últimas visitas que recebeu em casa, em dezembro, foi da taça da Libertadores, a mesma que ele conquistou em 1970 no Uruguai, agora tendo seu Botafogo como dono em 2024.
Após longa batalha contra um câncer de próstata, Manga se foi. O 8 de abril virou o dia de sua morte " o velório é hoje, em General Severiano, aberto ao público. Já o 26 do mesmo mês, data do seu nascimento, virou, há alguns anos, o Dia do Goleiro, em sua reverência. Não haverá celebração dos seus 88 anos daqui a alguns dias. Mas, para sempre, Manga estará consagrado. Nisso, o bicho também é certo. E sempre será.
Manga/ ex-goleiro, 87 anos
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