Investigação detalha ação de bruno henrique e envolvidos em caso de apostas
passo a passo
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O inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de manipulação de apostas esportivas envolvendo o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, reconstituiu passo a passo as ações que levantaram suspeitas de que o jogador teria levado propositalmente um cartão amarelo no jogo entre Flamengo e Santos, realizado em 1º de novembro de 2023, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, pelo Campeonato Brasileiro. O objetivo seria beneficiar apostadores, entre eles, familiares do atleta. Ao todo, dez pessoas foram indiciadas.
Em um relatório de 84 páginas, a PF detalha conversas e os vínculos entre os envolvidos. O documento organiza os investigados em dois núcleos. O primeiro, familiar, é composto por Bruno Henrique; seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior; a prima, Poliana Ester Nunes Cardoso; e a cunhada, Ludymilla Araujo Lima. O segundo núcleo reúne ex-jogadores habituados a realizar apostas esportivas, além de duas pessoas ligadas a um deles (gráfico ao lado). De acordo com as conversas interceptadas, o elo entre os grupos é Wander, irmão do atacante.
Ao blog do Diogo Dantas, no GLOBO, o presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), Luís Otávio Veríssimo Teixeira, disse aguardar o recebimento das provas para reabrir a investigação no âmbito esportivo. Em entrevista à ESPN, ele disse não ver razão para uma suspensão preventiva do atacante. No ano passado, o STJD arquivou a investigação por considerar que "o alerta não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador".
Na Justiça Comum, com a investigação já em posse do Ministério Público do Distrito Federal, a expectativa é que o órgão apresente denúncia contra Bruno Henrique até o fim de abril ou início de maio, para que a Justiça decida se o tornará réu. Bruno Henrique e Wander foram indiciados por violarem o artigo 200 da Lei Geral do Esporte " que trata da prática ou facilitação de fraude em competições esportivas ", cuja pena varia de dois a seis anos de reclusão. Os dez investigados também são suspeitos de infringir o artigo 171 do Código Penal (estelionato): "obter vantagem ilícita [...] mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento", com pena de um a cinco anos de prisão e multa.
O Flamengo, que se manifestou ainda na noite de segunda-feira reafirmando o compromisso com o "fair play", mas também defendendo a "presunção de inocência" de seu jogador, tem adotado cautela no tratamento do caso e manteve Bruno Henrique relacionado para o jogo de ontem, contra o Juventude, pelo Brasileirão. Antes da partida, o atacante publicou uma imagem com uma citação bíblica: "Isaías 41:10", que diz: "Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus".
Nos bastidores do clube, a ideia é seguir utilizando o jogador normalmente até que alguma autoridade comunique oficialmente uma decisão que o impeça de atuar. A direção entende que afastar um atleta que está apto a jogar não seria a conduta correta " a menos que o próprio Bruno Henrique alegue não ter condições emocionais de entrar em campo em razão do caso.
O inquérito mostra que no dia 29 de agosto de 2023, 64 dias antes da partida contra o Santos, Wander enviou mensagens a Bruno pedindo para ser avisado quando o "pessoal mandar" tomar um cartão amarelo. "Contra o Santos", respondeu o atacante. "Já vou guardar o dinheiro. Investimento com sucesso", escreveu o irmão.
Nos dias 31 de outubro e 1º de novembro de 2023, véspera e dia do jogo, familiares de Bruno Henrique e os demais envolvidos fizeram movimentações atípicas pelo cartão amarelo. Os valores apostados, a concentração em Belo Horizonte (cidade natal do atleta), a criação de novas contas e o comportamento fora do padrão de apostadores habituais chamaram a atenção.
A investigação cita quatro lances em que Bruno Henrique poderia ter tomado cartão na partida. Ele foi advertido apenas nos acréscimos do segundo tempo por falta dura em Soteldo.
No dia seguinte, três empresas de apostas esportivas emitiram alertas formais e volume anormal de apostas envolvendo o cartão amarelo de Bruno Henrique. Em um dos sites, 98% das apostas relacionadas a cartões amarelos na partida foram direcionadas ao jogador " um percentual considerado extremamente incomum.
A partir dessas informações, a IBIA (International Betting Integrity Association), entidade internacional voltada à integridade esportiva, emitiu um alerta à Conmebol. A entidade sul-americana, por sua vez, encaminhou a notificação à CBF. Com os dados em mãos, a confederação considerou necessário aprofundar a apuração e acionou a Polícia Federal, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT). O inquérito foi instaurado em 9 de setembro de 2024 e as investigações foram concluídas em 14 de abril de 2025.