Consignado privado entra em nova fase e deve ter juro menor
O recém-lançado modelo de crédito consignado para trabalhadores do setor privado entra em ...
O recém-lançado modelo de crédito consignado para trabalhadores do setor privado entra em nova fase a partir de hoje, e integrantes da equipe econômica avaliam que isso dará um impulso adicional ao programa, que já liberou mais de R$ 8,2 bilhões em financiamento para 1,5 milhão de empregados do regime CLT. O programa tem potencial de turbinar o PIB neste ano, segundo análises de mercado.
A partir de agora, o Crédito do Trabalhador poderá ser ofertada também nos canais das instituições financeiras. Hoje, isso só pode ser feito no aplicativo da carteira de trabalho digital, ou seja, com intermediação do governo. Trabalhadores que já têm empréstimos com desconto em folha podem migrar o contrato existente para o novo modelo a partir de hoje.
Segundo membros do governo, a taxa cobrada hoje na modalidade está ligeiramente acima de 3% ao mês " ou 42,5% ao ano. É um percentual que supera a taxa média de 2,9% ao mês do consignado tradicional para a categoria.
Para integrantes da equipe econômica, a permissão para contratação via app dos bancos e outras novidades vão ajudar a reduzir os juros.
O governo avalia antecipar para o início de maio a portabilidade dos empréstimos entre bancos, o que vai permitir trocar um contrato por outro em melhores condições.
Assim que a portabilidade entrar em vigor, destacou um técnico, as travas vão começar a diminuir. O argumento é que os bancos terão não só que conquistar clientes, mas entrar em um "jogo mais aguerrido" para mantê-los satisfeitos com as taxas para não haver migração para rivais.
Além disso, no segundo semestre, o governo vai regulamentar o uso de 10% do saldo do FGTS como garantia em caso de demissão sem justa causa. A rescisão do contrato de trabalho é um dos receios dos bancos na concessão do crédito. Pelas regras de hoje, os trabalhadores já podem oferecer o FGTS como garantia no consignado. Mas como ainda não foi regulamentado, os bancos não podem executar essas garantias.
O Ministério do Trabalho estima que boa parte de um volume total de dívida com Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e consignado antigo, de R$ 120 bilhões, migre para a nova modalidade, quando a portabilidade entrar em vigor.
O novo modelo desenvolvido pela equipe dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Trabalho, Luiz Marinho, começou a funcionar em 21 de março. É uma das principais apostas do governo para reduzir o custo do crédito e reverter o baque na popularidade do presidente Lula.
A principal diferença em relação ao modelo antigo é que o novo consignado pode ser acessado por todos os trabalhadores com carteira assinada, um público de 42 milhões. Não é necessário fechar acordo bilateral entre empresas e bancos. O pedido de crédito é feito na plataforma do governo, e o tomador escolhe a instituição de sua preferência, com base nas condições do empréstimo, como juros e prazo.
Metade da taxa do CDC
Instituições financeiras calculam que o consignado terá efeito positivo no PIB. Segundo o diretor de Pesquisa Econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a modalidade terá efeito positivo de 0,25 ponto percentual (pp) em 2025, e de, no mínimo, 0,5 pp em 2026. Ele explicou que o crédito mais barato gera aumento da produção e do consumo de bens duráveis e serviços:
" A substituição de crédito caro por crédito barato aumenta a renda disponível das classes com maior propensão a consumir e menor propensão de poupança.
O BTG estima impacto positivo de 0,2 pp em 2025 e de 0,3pp em 2026. O Itaú calcula impacto potencial de 0,6 pp em 12 meses, com impacto parcial em 2025. A XP prevê que os novos empréstimos deverão adicionar cerca de 0,6 pp ao crescimento do PIB em termos anualizados.
A reformulação visou ampliar o acesso ao crédito consignado para todos os trabalhadores formais, incluindo empregados domésticos e funcionários de microempreendedores individuais. Com público mais heterogêneo em risco de inadimplência, técnicos da equipe econômica avaliam que o juro cobrado, em média, está dentro do esperado, considerando o aumento da Taxa Selic para 14,25% ao ano.
O juro médio cobrado no Crédito do Trabalhador, segundo os interlocutores, deve cair aos poucos, conforme a "curva de aprendizado" dos bancos e à medida que todas as possibilidades da linha de crédito estejam disponíveis.
Para a equipe econômica, no curto prazo, a taxa do novo consignado deve ser comparada aos juros cobrados no CDC, entre 6,5% e 7% ao mês. Essa era a linha de crédito disponível antes para os trabalhadores de empresas que não tinham convênio de consignado com bancos. Nesse sentido, o custo do crédito caiu pela metade.
troca de dívida
A expectativa do governo é que, quando o programa se consolidar, a médio prazo, a taxa fique entre 2% e 3%, entre os juros cobrados do consignado para servidores públicos e aposentados do INSS.
No caso dos trabalhadores do setor privado, um dos receios dos bancos é o risco da demissão. O novo consignado inova ao permitir a migração do empréstimo para outra empresa quando o tomador conseguir novo emprego.
A equipe econômica ainda não tem estudos detalhados sobre o impacto do novo consignado na economia. Mas os primeiros dados que chegaram à Fazenda mostram que a iniciativa tem surtido o efeito esperado, propiciando a troca de crédito caro por mais barato. No Banco do Brasil, 60% dos novos contratos da modalidade foram usados para refinanciar dívida antiga.
Pela nova modalidade, para quem já tem dívida, o banco não pode conceder um consignado se o dinheiro não for usado para quitar débitos, como CDC, por exemplo.
Para o economista da LCA 4intelligence, Caio Napoleão, os juros ainda estão em patamar elevado porque os grandes bancos, com exceção dos públicos, ainda não entraram com ímpeto na modalidade:
" A tendência é que a taxa se reduza gradualmente conforme os grandes bancos privados aumentem a participação, quando ficará liberada a migração do consignado antigo e a oferta pelos canais próprios do banco.
O professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rafael Schiozer, considera uma taxa em torno de 3% ao mês "bastante razoável".
" Quem trabalha em empresa grande tem risco de crédito menor, tem mais tempo de casa, mais estabilidade e salários maiores. Esses trabalhadores que estão entrando no novo consignado têm risco maior. A taxa pode cair mais um pouco porque há um processo de aprendizagem, muitos players estão entrando com cuidado " observou.
Para a equipe econômica, a adesão ao programa surpreendeu. Desde a criação do consignado foram necessários 20 anos para que a modalidade do setor privado alcançasse uma carteira de R$ 40 bilhões.
O diretor da Associação Nacional de Executivos (Anefac), Miguel de Oliveira, lembrou que o consignado antigo começou com pouca concorrência. Primeiro foram as financeiras e depois os grandes bancos aderiram. Segundo ele, todos ganham com o aperfeiçoamento:
" Essa é uma linha muito interessante, é boa para todo mundo. Para os bancos porque possibilita aumentar o volume de crédito com baixo risco; para os consumidores que precisam de dinheiro emprestado e tem oportunidade de ter um empréstimo com custo mais baixo e para o governo, porque faz girar a economia.
bancos planejam entrar
Nem todos os bancos que oferecem o Crédito do Trabalhador começarão a ofertá-lo de forma direta a partir de hoje. O banco BV não vai disponibilizar por ora o empréstimo na sua plataforma. O C6 Bank só vai iniciar a oferta do consignado privado em seu app na próxima semana.
Já o Nubank vai oferecer a modalidade de forma gradual aos consumidores. Para isso, criou um recurso chamado "Consignado do trabalhador" na aba de empréstimos no app.
No Inter, os clientes do app deixarão de ser redirecionados para a Carteira de Trabalho Digital e passarão a ter todo o processo de contratação por lá. A expectativa é aumentar a adesão.
" A gente está bem animado com os números que tivemos até agora e com ótimas expectativas para o que está por vir, agora com essa fase de disponibilizar no nosso app, e depois com a fase da portabilidade " diz Flavio Queijo, diretor de Crédito Consignado e Imobiliário do Inter.
Clientes do Banco do Brasil terão acesso à modalidade de crédito de forma direta. No Itaú, o consignado CLT será disponibilizado por meio do app "de forma progressiva para os clientes". No PicPay, o produto será ofertado a partir de hoje. O Bradesco informou que trabalha para ofertar o crédito consignado CLT nos canais próprios "o mais breve possível", mas não informou data exata.
No banco PAN, o produto estará disponível "em breve" para contratação por app, canais on-line e atendimento via WhatsApp. Procurados, Agibank, BMG, BTG e Caixa não responderam.