Menos retorno e mais risco: ibovespa ainda é referência?
O principal índice do Brasil, o Ibovespa, é refém das narrativas macroeconômicas desde ...
O principal índice do Brasil, o Ibovespa, é refém das narrativas macroeconômicas desde 2022, o que tem ofuscado os resultados das empresas nacionais. Gestores já questionam se ele é a melhor referência para a renda variável local. Isso porque o caráter cíclico do mercado faz com que a carteira de ações perca consistentemente, no longo prazo, para o indicador da renda fixa, a taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
Esse quadro atrai movimentos especulativos para as ações domésticas. Até aí, o problema poderia ser o próprio Brasil. Só que o principal índice do mercado também fica atrás de seus pares domésticos. Desde 2010, o Ibovespa teve retorno acumulado de cerca de 90%, enquanto a valorização do Índice Dividendos (Idiv) " hoje um dos seus maiores concorrentes na B3 (a Bolsa de São Paulo), por refletir o desempenho dos papéis que mais pagam dividendos " saltou 305% nesse período.
Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da Fundamenta Investimentos, explica que o quadro revela uma anomalia do Brasil: a referência do mercado local não recompensa o investidor pelo risco que ele assume ao colocar seus recursos em ações.
Por isso, o problema poderia ser o próprio Ibovespa, não o mercado brasileiro, aventam especialistas. Estudo da Tag Investimentos sugere, a partir de levantamentos, que as carteiras de renda variável deveriam se descolar do índice.
Após avaliar performances de diferentes índices de ações da B3 nos últimos 15 anos, o estudo conclui que o Ibovespa é ineficiente. Além do retorno menor, nessa janela a volatilidade do índice é maior que a do Idiv e de outras carteiras. Ou seja, o pior dos mundos: menos ganhos, com mais risco. Enquanto os preços das ações que compõem o Idiv oscilaram, em média, 13,9% nos últimos 12 meses, as do Ibovespa balançaram 14,8%.
Não necessariamente isso implicou perdas para os investidores que seguem os índices, mas sinaliza a inconsistência do desempenho da carteira em períodos de estresse no mercado. Para a Tag, isso escancara uma disfunção estrutural do mercado acionário brasileiro: o investidor que replica o Ibovespa pode estar alocando mal seus recursos.
Hora da ressalva
Neste ponto, cabem ressalvas. A começar que a diferença menor que um ponto percentual entre as margens dos dois índices as tornam próximas. Qualquer ruído de mercado poderia provocar essa distorção. Tanto é que a volatilidade do Idiv ultrapassa a do Ibovespa em dois momentos: entre meados de 2015 e 2018 e de 2021 a 2022. E talvez a ideia de que a carteira do Ibovespa não seja o melhor índice para olhar para o mercado de ações do Brasil possa ser uma questão de recorte também.
Com a dependência do país do ambiente externo e a trava em debates internos, será que foi a percepção dos gestores " e não o Ibovespa " que se contaminou nos 3 últimos a os?
O portfólio alternativo proposto pela Tag é uma carteira com 50% de exposição ao Idiv e 50% ao índice de ações de baixa volatilidade (IBLV), lançado em 2024. Com uma cesta de comportamento mais previsível, o capital na renda variável ficaria mais protegido nos contextos de crise.
A Fundamenta entende que o Ibovespa não é referência para seu fundo e busca bater o IBrX, que mede o desempenho dos 100 ativos mais negociados na B3.