Miércoles, 07 de Mayo de 2025

Além da geração ansiosa

BrasilO Globo, Brasil 5 de mayo de 2025

Ricardo Henriques

Ricardo Henriques
Desde a massificação do acesso a redes sociais e smartphones, intensificamos o debate sobre as consequências na saúde e desempenho escolar de crianças e adolescentes. Esse movimento resultou, em vários países, em políticas de restrição ao uso de celulares em escolas, como a lei nº 15.100/2025 que entrou em vigor no Brasil neste ano. Foi um movimento na direção certa, com foco nas crianças e adolescentes, enquadradas como "geração ansiosa" " termo cunhado pelo psicólogo social Jonathan Haidt.
No entanto, agora é necessário ampliarmos a preocupação para a população jovem e adulta. Um estudo publicado no mês passado pelo NBER (National Bureau of Economic Research) traz novas evidências sobre o impacto do uso de redes sociais nos Estados Unidos, no contexto da eleição presidencial de 2020. No trabalho, Hunt Allcott (Stanford) e outros 26 autores analisaram indicadores de felicidade, depressão e ansiedade em cerca de 20 mil adultos nas seis semanas anteriores à eleição, constatando que indivíduos que desativaram o Facebook e o Instagram apresentaram níveis mais satisfatórios de saúde emocional. O artigo é restrito a um contexto específico e focado em apenas duas plataformas, portanto seus resultados não devem ser generalizados, mas eles se somam a um volume crescente de evidências sobre os efeitos negativos do uso de mídias sociais na saúde mental, produtividade ou nas relações sociais e democráticas.
Outros dois trabalhos recentes, também publicados pelo NBER, apresentam conclusões igualmente preocupantes em jovens adultos. Em abril, Billur Aksoy (Rensselaer Polytechnic Institute) e coautores divulgaram um estudo sobre o impacto de um aplicativo que buscou reduzir o uso de celular na Universidade do Texas. O app identificava quando o celular estava bloqueado no período das aulas e oferecia recompensas, como descontos em lojas no campus. A pesquisa mostrou uma melhoria na concentração, frequência e satisfação acadêmica geral dos universitários.
Evidência adicional para o debate é um estudo publicado em 2024 e realizado na China por Panle Barwick (Wisconsin) e coautores que acompanhou, durante quatro anos, estudantes universitários por meio de dados fornecidos por companhias telefônicas e calculou o tempo gasto em jogos mobile. O cruzamento dessas informações com registros acadêmicos " contendo inclusive dados sobre o ingresso no mercado de trabalho " revelou que o tempo gasto em jogos estava associado a pior desempenho acadêmico, menores salários de ingresso no mercado de trabalho e prejuízos à saúde física e mental. Outro achado relevante foi o "efeito contágio": quanto mais um aluno passava tempo jogando no celular, maior a probabilidade de seus colegas fazerem o mesmo.
Essas novas evidências reforçam um diagnóstico já conhecido: jovens e adultos também precisam ser alcançados por políticas públicas que visem o letramento digital e a educação midiática. No caso de crianças e adolescentes, o espaço natural para esse tipo de intervenção são as escolas. Em relação aos jovens e adultos, campanhas de conscientização são importantes, mas devem ser complementadas com outras iniciativas. É importante pensarmos em protocolos e estratégias que alcancem esse público em espaços diversificados, como universidades, empresas, equipamentos de saúde, assistência social e ambientes de requalificação para o trabalho. Com efeito, os esforços de upskilling (aperfeiçoamento em competências adquiridas) e reskilling (aprendizado de novas competências) com foco no mercado de trabalho necessitam ser combinados com intervenções voltadas à saúde mental e ao aprendizado sobre o uso consciente de novas tecnologias.
O esforço de melhor preparação de jovens e adultos pode ocorrer em simultâneo aos avanços no debate sobre regulação das redes sociais. E, aqui, cabe a ressalva de que mesmo países desenvolvidos ainda estão debatendo ou em estágio inicial de implementação de suas políticas, que, sem surpresa, enfrentam grande resistência das big techs. Criar uma regulamentação que não engesse a inovação, resguarde direitos individuais (inclusive autorais) e mitigue riscos à cidadania, embora não seja uma tarefa simples, é ação urgente e necessária.
Novas tecnologias geram excelentes oportunidades, mas também colocam em risco a saúde, a produtividade e a própria capacidade de exercício qualificado da cidadania de jovens e adultos que já concluíram a educação básica. Tal como fizemos com crianças e adolescentes, é fundamental também debatermos sobre como prepará-los para esse mundo novo, não necessariamente admirável.
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