Colunistas do globo opinam sobre a apresentação de carlo ancelotti na seleÃo
CARLOS EDUARDO MANSUR
CARLOS EDUARDO MANSUR
Tem eventos que são tão aguardados que, às vezes, a gente acha que vai aparecer uma coisa muito diferente do que realmente é. No fim, foi uma lista de muito parecida com tantas outras listas que a seleção vem tendo. Porque é o que o futebol brasileiro tem no momento, com suas virtudes e suas deficiências: bons atacantes, dificuldades de meias que controlem o jogo, nem tantos laterais unanimidades... O mais simbólico foi toda a cerimônia, que, por vezes, ficou entre o afago a um estrangeiro que chega e deve ser bem recebido e a sensação de um país curvado a um salvador. A coisa foi tão grandiosa em determinado momento que flertou em ultrapassar essa fronteira. Depois de ter esgotado todas as alternativas com técnicos brasileiros, acredita-se que, sozinho, um cara desse porte vai resolver todos os problemas.
Embora ele seja
uma pessoa supercompetente, por outro lado, é um perigo depositar tanta expectativa em uma pessoa só.
GUSTAVO POLI
Imagine o que deve ter sentido Ednaldo Rodrigues. Em seus três anos de gestão " seu raro e derradeiro acerto foi contratar Ancelotti. Quantas vezes não sonhou com o glorioso momento em que o presidente da CBF entregaria a amarelinha para Carleto? A cena aconteceu ontem. Mas o presidente já era outro e atendia por Samir. Futebol é dinâmico e, por vezes, cruel. Há duas semanas... Xaud era conhecido apenas em Roraima. Ontem, ele tomou posse " e rápida e espertamente saiu de cena. Deixou os holofotes para Carleto. E a recepção para os profissionais, que acertaram a mão num elegante vídeo de boas-vindas. Gérson, Rivellino, Falcão, Zico, Pepe, Kaká se juntaram a Bernardinho, Fabi e até Felipe Massa para celebrar a nova estrela da companhia.
Sim, porque, Vini Jr. à parte, Carleto chega como dono da firma. Mandando prender e soltar. Não levou Neymar em sua primeira chamada. Vai pegar um bonde andando com farol tão baixo que qualquer vitória já deve transformar o ambiente.
MARCELO BARRETO
Juntando apresentação e convocação, o evento Carlo Ancelotti falou mais sobre o futebol brasileiro do que sobre o treinador. Nem tanto pelo cerimonial, que teve alguns exageros de praxe, mas pelo clima que envolvia a CBF e até "vocês da imprensa": parecia que estávamos ali para saudar o nosso salvador.
Ancelotti merece, obviamente, ser tratado com reverência. Como já escrevi na minha coluna no GLOBO, ninguém chegou ao cargo com um currículo tão vencedor quanto o dele. Mas esperar que uma pessoa, por mais competente que seja, conserte tudo o que está errado na gestão da seleção é um exagero que se notava nos discursos e nas perguntas. A convocação, na qual ele próprio admitiu ter tido pouca influência, repete nomes que vimos com Diniz e Dorival, resgata esquecidos da última Copa e traz poucas novidades. Nada muito distante do que um técnico brasileiro faria, nada muito discrepante do que o futebol brasileiro tem a oferecer.