Tempero italiano no futebol brasileiro: uma longa relação
Futebol brasileiro com tempero italiano. A receita da CBF para mudar os rumos da seleção ...
Futebol brasileiro com tempero italiano. A receita da CBF para mudar os rumos da seleção pode até parecer diferente. Afinal, a Amarelinha não era comandada por um estrangeiro há 60 anos e o será pela primeira vez numa Copa. Mas a chegada de Carlo Ancelotti, que estreia hoje diante da torcida, não chega a ser uma guinada tão radical. Está mais para novo capítulo de uma relação antiga.
A história de Brasil e Itália no futebol vai além da rivalidade em Copas (cinco confrontos, sendo duas finais). Ao longo do século passado, a ligação entre os países gerou impactos significativos. Do lado de cá, a mais famosa dessas influências talvez seja a criação de Palmeiras e Cruzeiro.
O primeiro deles foi o time paulista, em 1914. Empolgada com a excursão do Torino-ITA e do Pro-Vercelli-ITA ao Brasil naquele ano, a colônia italiana da cidade criou uma dezena de clubes. Mas foi o Palestra Itália o que mais aglutinou torcedores e se firmou.
Belo Horizonte também tinha clubes que aceitavam ou eram basicamente formados por desportistas italianos. Mas foi o Palestra Itália (sim, mesmo nome do "primo" paulista mais velho), criado por eles próprios em 1921, que se estabeleceu.
Em italiano, "Palestra" significa "academia" ou "escola de atividades físicas". Em 1942, por pressão da sociedade, devido à associação direta que o nome fazia à Itália fascista, os clubes foram rebatizados como Palmeiras e Cruzeiro. E o resto virou história.
Só que a influência não parou aí. Após ver seu futebol se afundar ao longo dos anos 1970, a Itália autorizou a reabertura para jogadores estrangeiros. E os brasileiros foram um dos principais alvos.
Os anos 1980 foram, do lado de cá, de torcidas se despedindo de ídolos. Entre os que chegaram na Itália em busca de dinheiro e carreira internacional estão Paulo Roberto Falcão, Edinho, Toninho Cerezo, Zico, Junior, Sócrates, Branco, Casagrande, Careca, Dunga e Aldair.
Os italianos deixaram a "ressaca" dos anos 1970 para trás e viram seu futebol crescer tecnicamente com a contribuição estrangeira (que não se restringia aos brasileiros). Se de 1973 a 1982, os clubes locais não conseguiam chegar sequer à final da Liga dos Campeões, de 1983 a 1998, estiveram em 12, tendo vencido cinco. Os jogadores brasileiros também ganharam.
" O futebol brasileiro, naquela época, não era tático. Ele era técnico e inventivo. Muito jogo de intuição, jogada individual, tabela, dribles e tal " reflete Casagrande, que passou cinco temporadas e meia no país. " Quem ficou bastante tempo lá teve tempo suficiente para aprender a ser tático. E, quando a gente voltou para jogar aqui ou quando se reunia na seleção, já vinha com um senso tático melhor.
A seleção reflete bem essa mudança. Se nas Copas de 1982 e de 1986 a vocação ofensiva era nítida, a de 1994 trouxe uma organização defensiva (com escapes na frente) que acabou consagrada com o tetra.
"O Lazaroni, em 1990, fez a seleção com três zagueiros. Só que ele não tinha experiência suficiente para isso, e nenhum jogador brasileiro tinha. Mas foi um protótipo de um time mais tático do que intuitivo. Aí, em 1994, tinha Bebeto e Romário como intuição, e os outros oito eram táticos " conclui Casagrande. " Ali a tática entrou de vez no futebol brasileiro.
A ironia é que essa transformação rendeu um título sobre a Itália, que tinha Carlo Ancelotti como auxiliar. Agora, ele desembarca no Brasil para escrever um novo capítulo desta história.
(Rafael Oliveira)