Fiscalização e punição são imprescindíveis nas empresas
O modelo de "liderança legítima, por mobilização e autogoverno" foi o apontado pelo ...
O modelo de "liderança legítima, por mobilização e autogoverno" foi o apontado pelo economista, professor e ensaísta Eduardo Giannetti como o mais eficiente nas empresas em termos de ética. Em uma fala que partiu da visão teórica para, depois, elencar orientações práticas que podem ser aplicadas no ambiente organizacional, ele destacou que "pessoas vão transgredir sempre que não houver ameaça de punição". E enfatizou que uma organização empresarial não pode prescindir de fiscalização e punição.
" Seria extremamente ingênuo, seria utópico no mau sentido da palavra. Mas, ao mesmo tempo, achar que apenas fiscalizar e punir dá conta do recado também não dá. Porque, se cada um se beneficia das oportunidades que tem de transgredir impunemente, não há organização que pare em pé " alertou.
Três diferentes modelos de governança têm implicações relevantes para o grau de adesão às normas da organização, enumerou ele. O primeiro é o da coerção, uma obediência cega. O segundo é o das regras de incentivos, baseadas em prêmio e punição. As coisas que são cumpridas de acordo e geram resultados são recompensadas, e aquelas que desapontam são punidas.
Por fim, o modelo da liderança legítima, por mobilização e autogoverno, que Giannetti considera o melhor do ponto de vista da ética. Há um desafio para a governança, destacou, que está sempre se renovando:
" É garantir essa mobilização e a criação de um espaço de autogoverno para que cada membro da organização possa se sentir autorizado a tomar decisões, a fazer as coisas melhor do que vem fazendo por vontade própria, sabendo que aquilo também redunda em algum tipo de recompensa que será compartilhada.
preço da transgressão
O caminho até esse ponto deve considerar um mosaico de conceitos e ações. Giannetti explicou a diferença entre moral e ética. O termo moral, disse, vem de um código compartilhado num grupamento humano, acerca do que é proibido e permitido, do que é certo e errado.
Ele explicou que a moral se constitui gradualmente, é algo que a sociedade reconhece como fundamental para a sua existência. Já a ética entra nesse cenário como um elemento reflexivo acerca do acordo moral. Porém, não é a simples existência desse acordo que pode legitimar os costumes e as práticas. Giannetti sustentou que muitas vezes as pessoas não querem seguir o código moral, mas demonstrar que fazem isso. Ou seja, esconder o que pode transgredir esse acordo.
Há mecanismos nesse jogo, como o da submissão, afirmou:
" O que o economista diz sobre cumprir ou não a lei? A punição é o preço do crime. Existe um aparato de fiscalização e existe um risco de punição para aquele que transgredir a lei. É um cálculo racional. Se a fiscalização é frouxa e o risco de punição é muito baixo, o custo-benefício da transgressão é muito vantajoso. O preço da transgressão é uma punição que será imaterial.
O segundo mecanismo é a identificação, um conjunto de sentimentos morais que inibem comportamentos que possam fazer a pessoa se sentir mal consigo ou aos olhos de quem ela respeita e admira.
" São sentimentos morais. Se a multa fosse apenas o preço do crime, ninguém teria vergonha de ser preso. Seria como apostar na loteria e perder " pontuou.
normas percebidas
Mas, disse Giannetti, quando as pessoas são pilhadas em atos corruptos, há uma complexidade de sentimentos morais que têm peso relevante.
" A identificação é o reconhecimento de que essas leis não existem para nos tolher, não são coisas contrárias às pessoas, mas nos habilitam a viver melhor em sociedade.
Por fim, vem a internalização. É perceber a importância da adesão às normas de convivência para que a sociedade organizada possa funcionar de maneira harmoniosa. A combinação desses três elementos é fundamental, afirmou:
" Nenhum deles é prescindível. Não se pode imaginar a boa governança sem um deles. Pessoas vão transgredir sempre que não houver ameaça de punição. É importante ter a percepção de que esse código de ética pode ser uma coisa externa, mas é algo que precisa ser internalizado, não simplesmente aceito.