Seca e calor derrubam a produção de macadâmia
A produção de macadâmia, considerada a "rainha das nozes", caiu pelo menos 30% na safra ...
A produção de macadâmia, considerada a "rainha das nozes", caiu pelo menos 30% na safra que está se encerrando agora, na comparação com a anterior, e deve ficar abaixo das 4 mil toneladas. A menor oferta desse item de nicho, que tem cerca de 250 produtores no Brasil, vai provocar uma inversão: pela primeira vez, a maior parte da produção deve atender ao mercado interno, ainda em formação.
" Na pandemia, tivemos excesso de produção e queda de preço. Nos últimos dois anos, enfrentamos muita seca e excesso de calor na época da florada, em todas as regiões produtoras " diz Pedro Toledo Piza, diretor da Associação Brasileira da Macadâmia (ABM), entidade que entrou para o guarda-chuva da Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC).
Introduzida no Brasil em 1935 pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a macadâmia teve sua maior safra em 2019, quando alcançou 8.500 toneladas. A produção representa menos de 3% do volume global, mas o Brasil está entre os dez maiores produtores do ranking, liderado por África do Sul e Austrália.
São Paulo, especialmente a região de Dois Córregos, produz cerca de 50% da macadâmia nacional, o Espírito Santo, 30%, e Minas Gerais, 25%. Há plantios pequenos em Bahia, Paraná e Goiás. O Brasil chegou a ter 6.500 hectares plantados, mas a área caiu para 5 mil hectares.
CONQUISTA DE CLIENTES
Piza é diretor da QueenNut, de Dois Córregos, uma das grandes processadoras do país e principal exportadora da noz, com até 60% dos embarques em anos de safra cheia. Pela primeira vez em 30 anos, 90% da produção vão ficar no mercado interno.
" Tivemos um custo muito alto para conquistar clientes no Brasil, como WickBold, Kopenhagen, panificadoras, sorveterias e outros. Vamos exportar neste ano um único contêiner para cumprir contrato " conta Piza.
Com capacidade para 3 mil toneladas, mas previsão de beneficiar menos de mil toneladas neste ano, a agroindústria paulista é uma das fornecedoras do grupo global Green & Gold Macadamia, resultado da fusão de duas grandes empresas produtoras e exportadoras da África do Sul e da Austrália. O grupo processa a noz premium padronizada em cinco países de três continentes, e atende a mais de 35 países. Segundo Piza, atualmente, a Green & Gold responde por 25% da produção mundial.
A outra grande processadora e exportadora do Brasil é a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Noz Macadâmia (Coopmac), de São Mateus (ES). O presidente da Coopmac, Eliseu Bonomo, diz que quase 100% da produção da cooperativa é exportada para um cliente dos EUA, percentual que vai se manter neste ano, apesar da queda de 35% no volume colhido:
" Processamos em torno de 1.800 toneladas, mas neste ano não devemos chegar a 1.200 toneladas devido a problemas climáticos. A macadâmia precisa de temperaturas menores que 15 graus em um período do ano, mas não tivemos isso. Tivemos muito calor e faltou chuva.
Tradicionalmente, a maior parte da produção nacional é exportada para a China (noz em casca). EUA e Europa preferem a amêndoa processada.
CUSTO DE PLANTIO
A QueenNut processa a macadâmia de vários produtores do Sudeste, mas geralmente o maior volume vem dos 400 hectares que pertencem aos donos da empresa, o casal José Eduardo Mendes Camargo e Maria Teresa, que eram produtores de cana. Neste ano, a safra na fazenda caiu de mil toneladas para pouco mais de 400 toneladas.
Atualmente, o custo de plantio de um hectare é de R$ 15 mil e o custo operacional é de R$ 25 mil. Já a receita em anos de bom preço como 2025 pode chegar a R$ 40 mil ou R$ 50 mil, segundo dados do agrônomo e gerente agrícola da QueenNut, Leonardo Moriya.