‘Para sermos competitivos, precisamos fabricar no brasil’
Entrevista
Entrevista
Uma das principais fabricantes de TVs e ar-condicionado no país, atrás de Samsung e LG, a multinacional chinesa de eletroeletrônicos TLC Semp quer ampliar sua atuação no Brasil. Em entrevista ao GLOBO, o CEO da companhia, Eason Cai, revela que a empresa vai abrir sua terceira fábrica no país, que deve ficar perto de São Paulo, para a produção de itens de linha branca, como geladeiras. "Já estamos iniciando os estudos e o processo de investimento."
Com faturamento global anual de US$ 40 bilhões, a companhia também mira no Brasil o acirrado mercado de smartphones, monitores para games e outros dispositivos, para tornar a TCL uma marca premium em eletrônicos de consumo e eletrodomésticos no Brasil.
Quais os planos para o Brasil?
Temos uma estratégia de longo prazo para crescer no país. Vamos investir para tornar a TCL Semp uma marca premium em eletrônicos de consumo e eletrodomésticos no Brasil. Por isso, traremos cada vez mais categorias para cá. Não apenas TVs. No ano passado, trouxemos aparelhos de ar-condicionado e também eletrodomésticos como máquinas de lavar e refrigeradores. E estamos considerando trazer celulares. Talvez também incluamos soundbars, monitores e negócios B2B (para empresas), como energia solar e sistemas de ar-condicionado comerciais. Há muitos produtos em vista. O próximo passo será subir de nível.
Há planos para novas fábricas?
Até o momento, temos duas fábricas, uma de TVs e outra de ar-condicionado. Ambas estão localizadas em Manaus. O primeiro passo será ampliar a capacidade das fábricas já existentes, pois o nosso negócio está crescendo muito rapidamente, e a capacidade atual de produção já está próxima do limite. O segundo passo envolve a produção de novos produtos, como máquinas de lavar e refrigeradores. Hoje, esses itens são importados da China prontos, mas as tarifas de importação são muito altas, cerca de 20%. Por isso, estamos buscando locais estratégicos para instalar uma nova fábrica dedicada à linha branca no Brasil, e já estamos iniciando os estudos e o processo de investimento. Portanto, a próxima fábrica deve ser focada em eletrodomésticos, como geladeiras e lavadoras.
O local já está decidido?
Acreditamos que será próximo a São Paulo. Manaus é uma opção cara para produção de linha branca. Produtos como geladeiras e máquinas de lavar são mais viáveis em regiões como Sul ou Sudeste, por isso, não deve ser em Manaus.
Qual é a importância estratégica de fabricar localmente?
Eu destacaria dois pontos principais. Um deles é a logística. Hoje, quando enviamos produtos da China, o transporte leva mais de dois meses, o que é um processo muito demorado e ineficiente. Outro é a tributação. Há tarifas de importação em torno de 20% para TVs, ar-condicionado e linha branca. Entendemos que essa política busca proteger a produção local. Por isso, para sermos competitivos, precisamos fabricar no Brasil. Além disso, nossos principais concorrentes, como Samsung, LG e Electrolux, já têm fábricas no país. Isso reduz significativamente os custos deles. Se não produzirmos aqui, perdemos competitividade em preço. Por tudo isso, produzir no Brasil é uma decisão estratégica de longo prazo.
A TCL é uma das maiores fornecedoras de telas no mundo. Como crescer nesse mercado?
Esperamos expandir para monitores gamers. Temos muita tecnologia avançada em painéis Mini LED aplicados a monitores. Neste ano, vamos trazer essa categoria para o Brasil. Esse será o primeiro novo produto. O negócio número um da TCL no Brasil é o de televisores, onde já alcançamos participação de mercado de mais de 20%, chegando a 23% ou 24%. No ano passado, o segmento de telas grandes, de 70 polegadas ou mais, cresceu 33% no mercado total brasileiro, mas no caso da TCL o crescimento foi de 180% no segmento. Estamos realmente acelerando e apostando no aumento das telas, porque o consumidor está demandando isso.
Hoje, com o avanço da tecnologia, conseguimos manter a imagem extremamente nítida mesmo em TVs de 85 polegadas, mesmo quando vistas de perto. Também é uma questão de eficiência na produção. A eficiência de produção dos painéis maiores é maior, e o custo, proporcionalmente, é menor. Por isso, as fábricas preferem produzir painéis maiores " o que também atende à demanda crescente do consumidor. Do ponto de vista do varejo, também há uma tendência clara: nos últimos três ou quatro anos, os preços médios caíram significativamente, mesmo para telas em torno de 55 polegadas.
Então, os modelos maiores são mais rentáveis?
Se o mix de produtos não mudar, a receita média das lojas continuará caindo. E aí entra a solução: apostar em telas maiores, que têm valor agregado mais alto e atendem tanto à demanda do consumidor quanto à necessidade de rentabilidade do varejo.
É possível ir além de TVs, monitores e linha branca?
Outra área que estamos estudando é o desenvolvimento dos óculos de realidade aumentada. Estamos em fase de pesquisa e faz parte da nossa estratégia futura. Esses óculos terão, por exemplo, função de tradução automática. Se eu estiver falando algo e a outra pessoa não entender, os óculos captam o áudio e exibem a tradução em tempo real para chinês, inglês ou outro idioma, diretamente nas lentes. É uma tecnologia muito interessante.
Outro produto em desenvolvimento é um miniprojetor portátil. Um modelo bem compacto, que já está sendo vendido nos Estados Unidos, especialmente via e-commerce. O preço, se não me engano, é de US$ 499. A ideia é começar a comercialização no Brasil também, provavelmente primeiro por vendas on-line. São produtos inovadores que em breve estarão disponíveis ao consumidor brasileiro. Então, em breve você verá que temos muitos novos produtos chegando, incluindo também o tablet com tela grande.
Eason Cai / CEO da TCL Semp no Brasil