Martes, 22 de Julio de 2025

O trabalho por trás da evolução de joão pedro

BrasilO Globo, Brasil 21 de julio de 2025

João Pedro estava de férias quando viajou aos Estados Unidos para assinar com o Chelsea e se ...

João Pedro estava de férias quando viajou aos Estados Unidos para assinar com o Chelsea e se apresentar para a Copa de Clubes, já em curso. Se havia dúvida sobre uma eventual falta de ritmo, ninguém se lembra mais. O atacante entrou durante o duelo com o Palmeiras, pelas quartas de final, e foi titular nos dois jogos seguintes, nos quais marcou três gols. Importante na conquista do título, impressionou técnica e fisicamente. Quesitos nos quais ele não cansa de surpreender.
João já quase não lembra o garoto que deixou o Brasil em 2020. Sua transformação salta aos olhos. O corpo franzino de 69 kg deu lugar a um atlético de 78 kg. A diferença está na massa muscular. Sua rotina envolve treinos, trabalho preventivo de lesões e dedicação a questões como descanso, alimentação e suplementação. Para isso, ele conta com uma equipe que inclui preparador físico, fisioterapeuta e endocrinologista.
Quem convive com o atacante destaca seu comprometimento. Um exemplo simples é o fato de ele há três anos não beber refrigerante.
" É muito fácil trabalhar com o João, porque ele é compenetrado " elogia o fisioterapeuta Caio Mello. " Ele tem hora para comer, treinar, descansar, se divertir, namorar, dormir, acordar... Para tudo.
O jogador já estava numa fase mais intensa de treinos antes do acerto com o Chelsea. Nas férias, ele costuma bater ponto com seu preparador físico no Brasil.
" Ele tira uma semana de descanso e depois me procura. Nós traçamos um trabalho diário, não tem uma rotina. Partimos do descanso total e vamos ganhando em intensidade. O objetivo é sempre chegar bem às pré-temporadas " conta Rodrigo Gonçalves, há 13 anos com João e que não se surpreendeu com o bom começo no Chelsea. " Ele tem uma memória motora muito boa, consegue retornar das férias mais rápido. Além disso, é muito tranquilo. Não se deixa ficar ansioso. Então, não tem perda emocional, o que facilita suas tomadas de decisão.
PEDRAS NO CAMINHO
Essa última característica mostra que sua transformação também envolve amadurecimento. João Pedro já não mora mais com a mãe, Flávia Junqueira, e nem com a avó, Dona Dalva, que se mudaram com ele para a Inglaterra. Aos 23 anos, vive sozinho em Londres " o que soa mais pesado do que é na prática, já que uma funcionária cuida da casa e a namorada, Khadije, lhe faz companhia em alguns dias.
Muitas foram as mudanças desde janeiro de 2012, quando o garoto de 11 anos do Botafogo de Ribeirão Preto foi visto por Luis Felipe, então olheiro do Fluminense, num torneio em Valparaíso (SP). Menos de uma semana depois, foi avaliado em Xerém. E, logo no primeiro dia, agradou tanto ao técnico Daniel Pinheiro que o clube nem achou necessário submetê-lo a mais testes.
O futebol era um sonho tanto para João Pedro quanto para Flávia, que até tentou ser jogadora. O menino cresceu nesse meio. É filho do ex-volante Chicão, vice paulista com o Botafogo em 2001 e que, no ano seguinte, foi preso por envolvimento num homicídio. Os dois já não estavam juntos.
Quando o Fluminense abriu as portas, Flávia não pensou duas vezes e se mudou com João para Xerém, na Baixada Fluminense. Mas a velocidade com que as coisas aconteceram nesse primeiro momento não foi a tônica dos anos seguintes.
Até os 15, João recebeu poucas chances na base. Foi um período de constante medo da dispensa. Além de fazer aniversário em setembro, o que já lhe deixava em desvantagem física em relação aos outros meninos, sua maturação foi tardia.
" Até bullying o João sofreu. Tinha menino que dizia a ele para nem se esforçar, porque não iria passar " recorda Flávia.
Fora de campo, a caminhada também foi difícil. Num alinhamento infeliz, todas as fontes de renda de Flávia secaram. Para completar, o empresário de João os abandonou. Desesperada, ela procurou o então diretor da base do Fluminense, Marcelo Teixeira, e desabafou. Não tinha dinheiro para comprar roupa ou comida para o filho e teria que voltar para Ribeirão Preto. O clube lhe amparou e aumentou a ajuda de custo.
Aos 16, o corpo do garoto enfim começou a crescer. Ao mesmo tempo, o coordenador da base, Marcelo Veiga, assumiu o sub-17 e decidiu testar João Pedro, que já havia sido volante e atacante pelos lados, como centroavante. Foi um sucesso. No jogo seguinte, ele fez cinco gols contra o Goytacaz pelo Estadual da categoria.
O dono da posição era Marcos Paulo, joia mais badalada daquele time e que estava com a seleção de base. Naquele ano, os dois passaram a ser conhecidos como o Casal 20 de Xerém " uma referência à dupla dos anos 1980 Washington e Assis. A temporada 2018 terminaria com 35 gols de João Pedro em 29 partidas. E um contrato assinado com o Watford-ING, que passou à frente da concorrência e apresentou um projeto.
" O Watford antecipou todos os processos. É um clube que tem essa característica. Uma captação muito voltada para a projeção e que tem um trabalho de scout bem elaborado. Então, a gente conseguiu realizar a operação com ele muito novo. Aos 16 anos, a transferência já havia sido realizada entre os clubes, sendo que o João só pôde ir com 18 " explica Vinícius Vivá, da agência Promanager, que cuida da carreira do atleta.
MUDANÇA DE PATAMAR
Em 2019, João Pedro fez sua única temporada pelo profissional tricolor. Marcou dez gols em 37 jogos e conheceu a fama aos 17 anos. Mas, ao chegar à Inglaterra, em 2020, voltou a ser um jovem em busca de espaço.
Além da mãe e da avó, João se mudou com o padrasto Carlos e o amigo Ruan. Jogar pelo time sub-23, longe do glamour da Premier League, foi menos problemático que se adaptar ao frio e à comida. No começo, era comum Flávia aparecer no estacionamento do Watford para lhe dar uma marmita.
Logo veio a pandemia. O isolamento foi marcado por meses de dedicação às atividades físicas. E o que era para ser um período de dificuldade virou um marco.
" Ele ganhou muito corpo. Porque só ficava em casa treinando, com a alimentação regrada. A parte física evoluiu muito, e isso depois foi importante na Premier League " recorda Ruan.
O padrasto foi figura fundamental nessa fase. Carlos virou uma presença paterna para João. Mas, em 2021, morreu após sofrer uma crise de insuficiência renal.
" João parou com o preparador físico, com a fisioterapia, com o canal no YouTube... " recorda Flávia.
Carlos tinha tatuado o gol de bicicleta do enteado pelo Fluminense (contra o Cruzeiro). Morreu duas semanas antes de realizar o sonho de vê-lo jogar contra o Manchester United do craque Cristiano Ronaldo.
João saiu do banco e marcou seu primeiro gol na Premier League (na temporada anterior o Watford estava na segunda divisão). Na comemoração, foi às lágrimas.
A vida seguiu em frente para o brasileiro, focado em evoluir. Uma dedicação que conta com a influência de Thiago Silva, no Chelsea até o ano passado e hoje ícone no Fluminense aos 40 anos. Os dois trabalham com o mesmo fisioterapeuta, que pediu ao zagueiro para dar a João alguns conselhos sobre longevidade física. Por chamada de vídeo, o defensor falou sobre dedicação e alimentação e lhe indicou seu endocrinologista.
" Foi engraçado que o João só respondeu: "Pô, Thiago, vindo de você, o que vier eu vou fazer" " conta Caio.
Quis o destino que eles se enfrentassem na semifinal do Mundial e o atacante decidisse com dois gols. Uma atuação que marcou o começo de mais uma fase da carreira de João. Difícil saber até onde ela vai. Mas, a menos de um ano da Copa de 2026, retornar aos EUA com a seleção virou uma meta. E que ninguém volte a se surpreender com o que ocorrer daqui para a frente.
" O desejo dele é um dia ser o melhor do mundo " revela o amigo Ruan. " E ele trabalha para isso.
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