Domingo, 27 de Julio de 2025

Hidrogênio verde começa nova fase agora

BrasilO Globo, Brasil 26 de julio de 2025

Entrevista

Entrevista
À frente da companhia centenária que é líder do mercado de gases industriais no Brasil, o executivo conta que seu projeto de hidrogênio verde " combustível limpo, feito a partir da eletrólise da água e com energia verde " está prestes a entrar em fase verdadeiramente industrial. Uma nova planta em Jacareí (SP) vai quintuplicar a produção e, pela primeira vez, buscar um mercado consumidor.
Como o tarifaço impacta seu negócio?
O impacto direto é baixo, porque nosso produto não é exportável. Exportamos carbureto de cálcio para os EUA, mas é algo muito reduzido. O impacto se daria pela potencial repercussão na indústria, que representa 70% do nosso mercado.
Isso é tema de conversa com a matriz?
Para ser sincero, não dá nem tempo, porque a cada hora ele (Trump) anuncia uma tarifa para algum país. Como somos parte do grupo Linde (de origem alemã), que opera em cem mercados, é muita coisa para a matriz acompanhar… Mas, claro, isso preocupa um pouco.
Fora isso, vocês estavam otimistas com o crescimento no Brasil?
Nossa meta é crescer dois dígitos ao ano, mesmo com juros altos. O ano estava indo bem e, se houver impacto das tarifas, não será imediato. E os planos que temos levado para a matriz têm sido aprovados. Eles confiam no potencial do Brasil, independentemente desses quebra-molas que aparecem eventualmente.
Qual é a importância do Brasil na operação global do grupo?
Estamos entre os cinco maiores mercados, faturando entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,3 bilhão. Todo mundo vê nossa marca quando vai a uma emergência de hospital, mas fornecemos gases para clientes que vão da siderurgia à indústria química, passando pelo setor de alimentos e bebidas. Vendemos o CO₂ do refrigerante. E já somos fabricantes de hidrogênio há muitos anos, mas, recentemente, entramos na aventura do hidrogênio verde.
Como está evoluindo o projeto?
Temos uma planta operando há mais de dois anos, em Pernambuco. É nosso showroom. Mas vamos inaugurar uma nova unidade em outubro, em Jacareí (SP). Será cinco vezes maior, com 800 toneladas de produção de hidrogênio verde por ano. Apenas 20% da produção irão para um cliente específico, a fabricante de vidros Cebrace. Todo o restante será destinado ao mercado, o que é inédito. Daí a importância da estratégia para garantir que seja um gás competitivo em termos de custo.
Mas há demanda no mercado?
O mercado quer, porque há grande apelo de sustentabilidade. Mas é essencial que o custo seja competitivo.
A planta de PE não vende para o mercado?
É residual. Lá, 80% da produção vão para um cliente único, uma indústria de alimentos. E só 20% vão para o mercado, em cilindros. Mas aquela é uma planta-piloto, cujo objetivo era testar a possibilidade de fazer um produto competitivo. Agora, vamos abrir uma planta verdadeiramente em escala industrial.
Quão mais caro é o hidrogênio verde em relação ao cinza (obtido a partir de combustível fóssil)?
Não se sabe ao certo, porque a produção ainda é praticamente inexistente. Queremos colocar a nova planta para operar e entender exatamente quanto gastaremos em energia para gerar o hidrogênio verde, e ver se nossas projeções no papel se confirmam. É uma tecnologia nova, com muita demanda latente, mas o custo ainda é uma incógnita " e os clientes querem ver a operação funcionando.
Mas as contas preveem qual custo?
Estamos estimando um custo que fique no zero a zero em relação ao hidrogênio cinza. Estamos otimistas com a competitividade.
O mercado externo será o principal comprador do hidrogênio verde?
Tem muita gente brigando pelo mercado europeu, que demanda hidrogênio verde até por pressão política. Com a guerra na Ucrânia, o mercado deu uma esfriada, com os países da região buscando energia fóssil para garantir a oferta. Agora, a demanda pelo hidrogênio verde está voltando devagarzinho, e os projetos começam a se reestruturar. O Brasil tem posição privilegiada porque, ao mesmo tempo que possui um enorme potencial de energia limpa, também tem um mercado interno relevante, o que viabiliza os projetos.
Reclama-se da dificuldade de acesso à infraestrutura de energia para os projetos.
Depende. Os maiores projetos, voltados à exportação, estão localizados em áreas onde já há infraestrutura de energia " nos portos do Pecém (CE) e do Açu (RJ), por exemplo.
Vocês planejam novas plantas de hidrogênio?
Se o mercado comprar, a estratégia é colocar novas plantas para operar. Fazemos isso não só com hidrogênio verde, mas também com gases do ar, como oxigênio e nitrogênio. Nos últimos 12 meses, nosso plano de expansão consumiu investimentos de R$ 600 milhões, além de R$ 50 milhões no projeto de hidrogênio verde. Mas o hidrogênio verde é nossa grande aposta para o futuro da empresa. Já temos 113 anos e, se quisermos outro século de operação, temos a obrigação de participar de mercados crescentes.
Gilney Bastos, CEO da White Martins
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela