Martes, 26 de Agosto de 2025

Fim da isenção de ir alimenta busca por cris, cras e debêntures

BrasilO Globo, Brasil 25 de agosto de 2025

Os investimentos em debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do ...

Os investimentos em debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs) movimentaram R$ 615 bilhões no mercado secundário apenas nos sete primeiros meses deste ano, um crescimento de 14% em relação a 2024 e de 47% em dois anos. Uma das explicações para essa corrida é que os papéis incentivados estão prestes a perder a isenção de Imposto de Renda " e muitos investidores querem garantir o benefício antes que seja tarde. No entanto, há riscos. O caso recente da securitizadora Virgo, acusada de usar indevidamente R$ 216 milhões de fundos de reserva de CRIs e CRAs, reforça os alertas.
Segundo dados da Pop BR, empresa da LUZ Soluções Financeiras, especializada em calcular o preço dos ativos no mercado secundário, nos primeiros sete meses deste ano a movimentação foi de R$ 488 bilhões em debêntures, R$ 76 bilhões em CRIs e R$ 51 bilhões em CRAs. Em 2021, o volume total não chegava a R$ 210 bilhões, com R$ 168 bilhões em debêntures e o restante dividido entre CRIs e CRAs. A alta, portanto, foi de quase 200% em cinco anos.
Já a quantidade negociada de títulos diminuiu. Ela saiu de 10,5 bilhões de papéis nos sete primeiros meses de 2024 para 6,2 bilhões no mesmo período de 2025. O número de negociações, por sua vez, aumentou de 2,1 milhões para 2,5 milhões, respectivamente. A diferença entre o número de operações e a quantidade de papéis negociados se dá porque uma operação pode envolver vários papéis.
Assim, a relação entre a quantidade de títulos e o número de negócios caiu de 4,9 mil papéis por operação em 2024 para 2,5 mil este ano, o que indica aumento da participação das pessoas físicas.
" Se eu comprar um carro, compro um. Quando a locadora de automóveis compra, são centenas. No mercado de títulos é a mesma coisa. Uma pessoa física vai comprar uma ou duas debêntures. Já um fundo de investimento compra algumas centenas. E nós vemos uma queda na quantidade de ativos envolvidos em cada negociação. Isso nos faz entender que há uma quantidade maior de pessoas físicas negociando " afirma Aruã Torigoe Kalmus, analista da Pop BR e responsável pelo levantamento.
O maior interesse das pessoas físicas se deve, principalmente, a dois fatores: a taxa de juros elevada (a Selic está em 15%), que aumenta a atratividade da renda fixa, e a perspectiva do fim da isenção de IR desses títulos. Aqueles que forem emitidos até o fim deste ano continuarão isentos.
Ou seja, tudo o que for emitido até dezembro de 2025 continuará sem imposto. Portanto, as empresas estão correndo para emitir suas dívidas com esse benefício, e os investidores, especialmente pessoas físicas, estão na disputa para garantir seus títulos isentos.
Muita calma nessa hora!
A grande questão é que, embora seja possível para a pessoa física investir diretamente nesses ativos, esse tipo de aplicação não é simples, porque cada título pode ter condições diferentes.
Para saber se um papel vale a pena, é preciso avaliar o risco de crédito, as garantias, a remuneração, o histórico de pagamentos das empresas e, principalmente, entender se o preço oferecido é justo. E essas informações nem sempre estão facilmente disponíveis, especialmente para as pessoas físicas. E é preciso um conhecimento maior sobre o mercado financeiro, e até de contabilidade, para interpretá-las. Segundo os especialistas, ainda é uma minoria que entende bem o produto.
" No geral, o investidor pessoa física não tem noção de no que está investindo. Ele se apega ao fato de ser uma renda fixa isenta. E às vezes coloca 30%, 40% da carteira em um CRI. Tem gente que entende, faz as perguntas certas, mas é a minoria. Se a pessoa não se interessa em conhecer as garantias da emissão, ela não entendeu nada " afirma Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor.
E que garantias são essas? CRIs e CRAs são títulos lastreados em direitos creditórios. Ou seja, em créditos que a empresa tem a receber. A garantia, no caso dos CRIs, vem de contratos ligados ao setor imobiliário (como financiamentos de imóveis ou aluguéis) e, nos CRAs, de operações ligadas ao agronegócio (como vendas de grãos ou insumos).
Já as debêntures são títulos de dívida emitidos diretamente por empresas para captar recursos. Sua segurança varia conforme o título. Alguns têm como garantia apenas a saúde financeira da empresa, outros têm garantias adicionais vinculadas aos bens e ativos da companhia.
Como as análises para estimar o risco de cada emissão são complexas, há empresas especializadas nessa avaliação, que dão notas para os títulos: as agências de classificação de risco. Os títulos mais seguros têm a nota máxima, AAA. Os que deram calote são D. Da nota BBB para cima já é considerado um título bom para investir. Abaixo, o risco é alto.
O problema é que essas notas podem mudar ao longo do tempo. Em casos extremos, um título AAA pode ser rebaixado a D. O investidor precisa acompanhar.
E um ponto importante: os títulos de crédito privado não estão cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), restrito aos papéis emitidos por instituições financeiras.
Recentemente, a securitizadora Virgo foi alvo de queixa na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pelo suposto uso indevido de recursos de fundos de reserva de CRIs e CRAs. Segundo a denúncia, pelo menos R$ 216 milhões teriam sido movimentados de forma irregular em cerca de 80 operações.
Esses fundos funcionam como uma espécie de colchão de segurança para os investidores e só podem ser aplicados em ativos líquidos e conservadores. Mas parte deles teria sido direcionada para aplicações de maior risco e baixa liquidez, o que gerou pressão de investidores pela devolução dos recursos.
Mas não é só isso...
Deve-se levar ainda em consideração a liquidez desses produtos, ou seja, a facilidade de vendê-los no mercado secundário, caso se precise dos recursos. Afinal, o prazo de vencimento de muitos títulos pode ultrapassar os dez anos.
E muitos investidores têm comprado os títulos agora na esperança de vender com lucro mais à frente. Isso porque os títulos isentos emitidos neste ano tendem a se valorizar em 2026, quando os novos papéis estarão sujeitos ao IR.
" O investidor adquire o título no mercado primário, diretamente na emissão, com uma taxa mais atrativa (por exemplo, CDI, equivalente à Selic, mais juros de 2% ao ano). Se depois ele quiser vender no mercado secundário, talvez consiga repassar por CDI mais 1,5% ao ano e embolsa essa diferença " explica Daniel Brandão, principal executivo do banco de investimento da Monte Bravo.
Nos títulos de renda fixa, uma redução da remuneração implica aumento do preço de mercado. Na prática, significa um ganho para quem comprou o título antes. E esse ganho é proporcional ao prazo de vencimento: quanto maior o prazo, maior o lucro.
Mas nem sempre será possível revender o papel em condições favoráveis, especialmente se houver redução da nota de crédito da empresa que emitiu o título. Isso exige do investidor atenção redobrada.
Aqui entra a necessidade de mais informações e dados para o investidor pessoa física. Segundo Suelen Salgo, presidente da LUZ Soluções Financeiras, para investir em CRIs, CRAs é essencial contar com "simuladores, calculadoras nos aplicativos de bancos e relatórios acessíveis, além do apoio de assessores capacitados."
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