Encontro de bcs é marcado por defesa de autonomia
O encontro anual do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em Jackson Hole, no estado ...
O encontro anual do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em Jackson Hole, no estado americano do Wyoming, costuma ser um momento em que representantes dos bancos centrais relaxam, discutem alguns temas econômicos complexos e depois fazem uma caminhada no Parque Nacional de Grand Teton. Neste ano, porém, o simpósio, que ocorreu no fim de semana, foi marcado por reações às pressões políticas sobre o Fed, diante dos ataques do presidente Donald Trump. Dirigentes ressaltaram a importância da independência dos bancos centrais.
A pressão crescente da Casa Branca sobre o Fed " Trump já ameaçou demitir Jerome Powell da presidência da instituição mais de uma vez " dominou os bastidores do encontro. O tema surgiu em conversas de corredor e durante cafés e refeições.
Até a segurança do evento estava reforçada em relação a anos recentes. Policiais do Fed, da Polícia dos Parques Nacionais e do xerife do Condado de Teton, alguns com uniformes de estilo militar e armados, eram presença constante.
apoio de Lagarde
Na manhã de sexta-feira, os oficiais chegaram a retirar James Fishback, apoiador de Trump e crítico frequente do Fed, depois que ele confrontou a diretora do Fed Lisa Cook no saguão do hotel e fez perguntas, aos berros, sobre a polêmica das hipotecas.
Naquele dia, Trump afirmou que demitiria Lisa se ela não renunciasse após acusações recentes de fraude hipotecária. Foi a mais recente tentativa do pesidente americano de pressionar o BC dos EUA por juros mais baixos.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, aproveitou uma entrevista à Fox News para ressaltar que, sem um BC independente, as economias correm o risco de se tornar disfuncionais, caso os governos se envolvam na definição dos juros.
" A independência de qualquer banco central é extremamente importante " disse Lagarde no programa Sunday Morning Futures. " Temos que prestar contas, temos que reportar e responder a todas as perguntas do Congresso dos Estados Unidos ou do Parlamento Europeu, no meu caso. Mas é de vital importância que um banco central seja independente.
Ela acrescentou que, durante seu mandato à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI), teve a oportunidade de observar o que acontece quando a independência do banco central é ameaçada.
" Ele se torna disfuncional, começa a fazer coisas que não deveria fazer. O passo seguinte é a perturbação. É instabilidade, se não pior. Portanto, acho que isso não deve ser debatido.
O recado de defesa da autonomia da instituição foi endossado pelos dirigentes no encontro. O apoio a Powell ficou evidente na manhã de sexta-feira, quando ele foi ovacionado de pé por economistas e autoridades de diversos países.
Para eles, a independência do Fed não é apenas uma questão de princípio, mas também de praticidade, já que as decisões tomadas em Washington inevitavelmente têm consequências globais.
Em seu provável último discurso em Jackson Hole como presidente do Fed, Powell admitiu a possibilidade de corte de juros na reunião de setembro, mas destacou que ainda não se sabe se as tarifas reacenderão a inflação de forma persistente.
Powell aproveitou a apresentação do novo arcabouço de política monetária (documento que orienta o Fed em suas metas de inflação e emprego) para enfatizar que estes desafios só podem ser enfrentados com um banco central independente.
falta de clareza
Sem clareza sobre os próximos passos, as divergências entre os dirigentes do Fed podem se intensificar nos próximos meses, especialmente com novas indicações de Trump para o banco central e o fim do mandato de Powell, em maio de 2026.
" Se houver corte (de juros), e ele refletir um crescimento mais lento dos EUA, isso pode significar crescimento mais lento para eles também, dado o tamanho da economia americana " disse Maurice Obstfeld, pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics e ex-economista-chefe do FMI, referindo-se à zona do euro e a outras economias.