‘O gringo está com o dedo no gatilho para investir no brasil’
Os juros são os mais altos em quase duas décadas, o país é alvo das maiores tarifas ...
Os juros são os mais altos em quase duas décadas, o país é alvo das maiores tarifas comerciais impostas por Donald Trump, as próximas eleições são uma incógnita e, no Supremo Tribunal Federal (STF), uma tentativa de golpe de Estado está em julgamento. Tudo conspira para tornar o Brasil tóxico para o investidor estrangeiro, certo? Pelo contrário, sugere o comando do banco de investimento UBS BB: o gringo só está esperando a "fumaça baixar" para entrar de cabeça aqui.
" Os estrangeiros estão com o dedo no gatilho para investir, mas esperando o momento certo para puxá-lo. Temos recebido cada vez mais consultas de investidores institucionais sobre como acessar diretamente o mercado brasileiro. Eles só esperam que essa fumaça dê uma baixada " analisa Marcelo Okura, codiretor na América Latina da corretora do UBS e responsável pela corretora do UBS BB.
Mas, enquanto o dedo está no gatilho, o compasso é de espera. O fluxo da Bolsa despencou já em junho, com o noticiário sobre as mudanças de IOF e, depois, com o tarifaço. Isso tudo em um cenário que, por causa dos juros de 15%, há quatro anos não vê um IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações).
" Os estrangeiros não têm como fazer uma avaliação justa se não sabem se a tarifa é de 10% ou 50%. Eles querem entender melhor o que vai acontecer. Mas as condições de entrada estão dadas. A inflação está desacelerando, o juro está mais perto de cair do que de subir e o PIB continua forte. Com uma taxa de 15%, crescer mais de 2% é espetacular " pondera Daniel Barros, CEO do UBS BB, em conversa com a coluna durante evento do banco no Rio.
Se há muito investimento represado, o que está saindo " e há muita coisa saindo em certos segmentos " passa por uma "mudança de geografia relevante", segundo Anderson Brito, presidente da área de banco de investimento do UBS BB.
" O que a gente está vendo é uma mudança de geografia relevante. Por enxergar mais volatilidade e risco implícito no mercado americano, o europeu e o asiático passam a ver o Brasil como uma opção, por ser um mercado enorme e pouco explorado. Nos últimos dois meses, recebemos dez mandatos de investidores europeus que procuram ativos no Brasil. Enquanto isso, os EUA estão fazendo mais transações dentro do seu próprio mercado " explica. " Como a gente tem uma plataforma global e atua em todos os continentes, fica mais fácil se adaptar a esse mix de geografias.
De acordo com Brito, na seara de fusões e aquisições (M&A), europeus têm olhado com mais apetite segmentos como mineração. Asiáticos estão mais interessados em fintechs e serviços financeiros.
Com a seca de IPOs, o nicho de M&A está especialmente aquecido, aliás. Embora tenha havido uma leve queda no número de transações, o volume cresceu 25% na comparação com o ano passado, segundo Brito. Este ano, o próprio UBS BB participou de aquisições como a compra da empresa de banco de sangue GSH " da qual a Rede D’Or era acionista e que foi avaliada em R$ 1,6 bilhão " pelo fundo global CVC; e da compra da Dermage pela Eurofarma, por exemplo. Hoje, o banco tem 75 mandatos na mão " ou seja, foi contratado por esse número de vendedores ou compradores para fechar negócio ", sendo que 40 operações já estão em curso.
Brito afirma que, além de mineração e fintechs, estão especialmente abertos a transações em setores como saneamento, hidrelétricas, tintas (coatings), indústria química e data centers, além da consolidação de empresas de óleo e gás e provedores de internet.
Esses negócios vão ajudar o UBS BB a bater, em outubro, mil operações assessoradas desde que o banco suíço e o gigante estatal brasileiro criaram a joint venture na área de banco de investimento, há cinco anos. (O UBS mantém no Brasil uma grande operação de gestão de fortunas que não fica sob o guarda-chuva do UBS BB).
" Os dois acionistas estão satisfeitos com a parceria. O UBS trouxe a presença global, e a participação do BB no crédito nos colocou em um mercado de emissão de dívidas no mercado local, que antes o UBS não acessava " diz Barros.
Falando em emissão de dívidas, esse mercado não parou de crescer nem com o tarifaço. Segundo Brito, embora o volume de debêntures (em reais) esteja menor, isso se deve ao fato de que, no ano passado, houve um salto de 76%, para patamar recorde.
" Em bonds (títulos emitidos por empresas brasileiras no exterior, em dólar), o mercado já fez este ano volume equivalente ao registrado em todo o ano de 2024. E, a partir deste mês, devemos colocar na rua cerca de dez operações, aproveitando a expectativa de queda dos juros americanos " detalha o executivo.