‘Day trade’ disparou na pandemia, atraiu de médicos a porteiros e trouxe prejuízos
Quase 1 milhão de pessoas perderam R$ 9,9 bilhões fazendo day trade na pandemia, revela ...
Quase 1 milhão de pessoas perderam R$ 9,9 bilhões fazendo day trade na pandemia, revela estudo da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV). Trata-se de uma operação arriscada na bolsa, de compra e venda de um ativo no mesmo dia. Os prejuízos atingiram desde profissionais com renda elevada até porteiros, motoristas e empregados domésticos, entre outros.
Os maiores grupos de day traders no período foram de administradores, empresários e engenheiros, mas também há astrônomos, atores e sacerdotes. A pesquisa mostra que o day trade é um fenômeno que não se restringe a uma população específica e prejudica sistematicamente as pessoas físicas, ainda mais em momentos de vulnerabilidade, como a pandemia.
Os brasileiros perderam, em média, R$ 10,2 mil por pessoa na pandemia com day trade, sem contar gastos com taxas das plataformas de investimentos e outros custos, diz o estudo. Desagregando por profissão, entre os maiores prejuízos figuram tabeliões, que perderam em média R$ 86 mil, procuradores, com R$ 37,8 mil, e médicos, R$ 34,9 mil. Mas a perda foi maior como proporção da renda para porteiros de edifícios (R$ 2,7 mil), motoristas (R$ 3,7 mil), empregados domésticos (R$ 4,2 mil), eletricistas (R$ 4,9 mil) e cabeleireiros (R$ 5,5 mil).
"A promessa de ganhos rápidos, aliada à difusão das plataformas digitais, transformou o day trade em um fenômeno de massa, cujas consequências financeiras negativas se espalharam por toda a sociedade", afirmam no estudo Bruno Giovannetti e Fernando Chague, professores da FGV EESP autores do levantamentos.
Confinados, centenas de milhares de investidores ingressaram nesse mercado na pandemia para procurar renda em um momento de incerteza econômica, e as perdas dispararam. Os pesquisadores usaram dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de todas as transações realizadas na Bolsa brasileira de 2017 a 2023, com recorte no período da pandemia, de 11 de março de 2020 a 28 de dezembro de 2023. No pré-pandemia, a média de day traders era de 25 mil ao dia. Já no pós-pandemia, aumentou para 88 mil.
O day trade causou prejuízos antes e depois da pandemia, em quase todos os dias: no pré-Covid, 95,8% dos dias foram de perdas, somando todas as operações. A fatia aumentou para 96,4% após o começo da pandemia. "Após a pandemia, as perdas diárias ficaram maiores devido ao aumento expressivo no número de participantes no mercado", diz o estudo.
Segundo os autores, os investidores pequenos tendem a perder dinheiro com day trade porque competem em condições adversas "contra instituições muito mais bem equipadas, com tecnologia de ponta, algoritmos de alta frequência, acesso a informações de mercado privilegiadas e equipes especializadas de análise".
Os dados mostram que o day trade atraiu pessoas mais velhas, afastadas do emprego formal, e jovens em busca de oportunidades rápidas. A idade mínima dos investidores é de 18 anos " 34 anos, na mediana ", mas quase um terço deles têm entre 40 e 60 anos. A idade máxima chegou a 67 anos, e o fenômeno foi nacional: São Paulo (com 32,3% do total), Minas Gerais (9,6%) e Rio de Janeiro (9,2%) lideraram como local de residência, mas até estados de menor população, como Acre, Amapá e Roraima tiveram investidores.
Os pesquisadores suspeitam que, após o fim da pandemia, uma parte da demanda do day trade foi para as bets, as apostas esportivas on-line.