‘Quero ser o maior zagueiro da história do botafogo’
Entrevista
Entrevista
Campeão da Libertadores e do Brasileirão como melhor zagueiro do país e do continente em 2024, Alexander Barboza quer mais. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o defensor argentino naturalizado uruguaio falou sobre os sonhos futuros no Botafogo, do desejo de disputar a próxima Copa do Mundo, a sensação de nostalgia ao revisitar as conquistas passadas e o que deu de errado para a equipe nesta temporada.
Como é a sua relação com o Rio de Janeiro? O que mais curte fazer?
Gosto muito de Angra (dos Reis). Temos um amigo lá que tem barco, então vou com a minha família, quase sempre também com o Mateo (Ponte, lateral do Botafogo) e outros companheiros. Também gostamos demais da comida do Rio e da noite. Quando temos tempo, nós curtirmos.
Você é argentino naturalizado uruguaio. Ainda nutre esperança de ser convocado por alguma dessas seleções?
A Argentina tem um grupo muito mais fechado, já conseguiram três ou quatro taças. Então, os jogadores novos que se somam ao projeto são com idade entre 18 e 25 anos. Eu já tenho 30, é um pouco mais difícil. No Uruguai não tem tantos jogadores como na Argentina. Acho que tenho possibilidades de ser convocado. Infelizmente, quando estávamos voando ano passado, eu ainda não tinha documentos para ser uruguaio. Só consegui esse ano, tinha muita expectativa, e não aconteceu. Ainda tem um tempo até a Copa do Mundo, então muita coisa ainda pode acontecer.
O que aconteceu para o Botafogo não ter conseguido o mesmo sucesso de 2024 nesse ano?
O primeiro é que sempre quando um clube ganha títulos, é muito difícil manter o nível. Esse é o principal. Não é fácil. Eu gosto muito da mentalidade do Palmeiras. Todo ano eles tentam brigar por tudo. Não somente os jogadores, mas o técnico e a presidente também. A mentalidade deles é ganhar, ganhar e ganhar. Ganhamos em 2024 no Botafogo, tentamos em 2025 ganhar o que jogamos, mas não deu certo. São muitas coisas pelas quais não deu certo. Obviamente que não sou eu quem vou falar isso. Sou jogador e tento dar o meu melhor dentro do campo.
Esse ano o Botafogo apostou no Davide Ancelotti como treinador. Você já o elogiou. Pode especificar como é o trabalho dele no dia a dia?
Ele tem uma ideia e um plano de jogo muito claros, que, obviamente, tentamos levar ao campo. É fácil de interpretar, e acho que não tem coisa melhor que isso. O que acontece depois é do jogo, também temos um rival que tenta jogar contra nós. Mas é difícil. Na Libertadores (contra a LDU), ganhamos aqui. Fomos jogar na altitude, perdemos. Tínhamos um plano lá, mas deu errado na execução. Sabíamos o que tínhamos que fazer, mas se você erra um passe de três ou quatro metros, fica difícil. Isso já não é do técnico. Nós, jogadores, somos os responsáveis.
Como você vê a sua temporada e a do Botafogo?
Irregular. Acho que descreve bem. Houve jogos em que fomos muito bem, como no 3 a 0 contra o Vasco, mas depois empatamos em 0 a 0 com o Vitória. Jogamos finais contra Flamengo e Racing e perdemos. Mas ganhamos do PSG e avançamos no grupo da morte no Mundial de Clubes. Depois, perdemos para o Palmeiras.
E acho que para mim é a mesma coisa. Minha mentalidade não muda, mas quando você troca de técnico e tem muitos jogadores novos, é difícil se adaptar rápido. Tem jogo a cada três dias, então não dá para conhecer todo mundo.
O quanto te incomoda receber muitos cartões amarelos?
Eu sou um cara que vai sempre para a frente. Não fico pensando se vou receber cartão ou não. Se dou um carrinho, é porque penso que vou chegar primeiro na jogada. Se a única coisa que quiserem reclamar de mim é que tomo muitos amarelos, acho que estou fazendo as coisas bem. Se reclamam que dou bote errado ou erro passes, que não tenho vontade, aí tenho que trabalhar mais. Mas eu sou zagueiro. Não vou deixar o atacante passar. Ou passa a bola ou o jogador. As duas coisas, nunca. Vão ter que se acostumar com isso.
Os jogadores pegam muito no seu pé com isso?
Muito (risos). Porque no treino eu sou igual. Não importa se é meu companheiro, se é meu amigo ou se é meu parceiro. Se eu tenho que dar bote nele para não passar na jogada ou não finalizar, vou dar. Não vou machucar, porque não sou assim. Mas eu treino 100% igual a como jogo. É a minha maneira de viver a vida. Então, acho que estou no caminho certo.
Você se vê como um ídolo do Botafogo?
Não sei… Quando encontro torcedores no dia a dia, o amor que eles demonstram é muito grande. Me chamam de ídolo. Eu gostaria muito de ser ídolo do Botafogo. Sei que ganhei um título inédito, que era a Libertadores, e o Brasileirão após quase 30 anos. Isso me coloca em um lugar bom, mas ainda tenho coisas para conseguir e para tentar ganhar. Não só pela idolatria, mas porque quero ser o melhor zagueiro da história do Botafogo. Mas para isso ainda falta muito. Meu próximo ano é o último do meu contrato, e não sei o que vai acontecer. Mas vou tentar dar tudo de mim no ano que vem para voltar a ganhar títulos e aí sim, ser o melhor zagueiro ou o mais ganhador, como quiserem me colocar. Mas quero ser feliz aqui, e que o torcedor seja também.
Nessas duas temporadas de Botafogo, qual é o seu principal jogo pelo clube?
Acho que contra o PSG. Não tomei nenhum drible, não cometi faltas, não levei cartão amarelo e não perdi nenhum duelo. Ganhamos de 1 a 0, então não levamos gols. E era o campeão da Champions League. Mas a final da Libertadores é o grande jogo da minha carreira. Sempre que estou em casa sem fazer nada começo a procurar vídeos no YouTube ou no TikTok. Gosto muito de ver as reações dos torcedores do Atlético-MG (risos) e do Botafogo, os que estiveram no Nilton Santos e nas ruas.
Como começou sua amizade com Vegetti, do Vasco, e Rossi, do Flamengo? Vocês se falam com frequência?
Joguei com o Rossi no Defensa y Justicia. Nós dividíamos o quarto na concentração e saímos juntos de férias na época, para Cancún, no México. Temos relação próxima desde então. E o meu filho mais novo é da mesma escola do filho do Vegetti. São muito amigos. Depois, minha esposa conheceu a dele e também ficaram muito amigas. Por isso acabamos nos encontrando muito. Vemos os jogadores de Botafogo e Vasco nos aniversários das famílias. Somos amigos e temos uma relação muito boa. Isso é bom, mas sabemos que, dentro de campo, eu vou matar ele e ele vai me matar (risos). Mas fora somos amigos e tudo bem.
Competitivo como você é, conseguirá torcer por eles nas decisões que disputarão?
Eu não torço por ninguém. Nunca. Sou Botafogo. Depois vou dar um abraço neles e dar os parabéns, mas não torço por ninguém.
Alexander Barboza / zagueiro