Já é possível investir em criptoativos dentro da b3
Com um mercado que já movimenta uma média de R$ 30 bilhões por mês, somente em transações de ...
Com um mercado que já movimenta uma média de R$ 30 bilhões por mês, somente em transações de compra e venda diretas, o cardápio de produtos de investimento com exposição a criptoativos vem crescendo consistentemente em um ambiente de negócios muito familiar ao investidor brasileiro: a Bolsa de Valores. Na B3, estão disponíveis desde os tradicionais ETFs (fundos de índice negociados em Bolsa) até veículos mais sofisticados, como contratos futuros, não apenas de Bitcoin - a primeira e principal representante do segmento - mas também de criptos menos famosas, como Ethereum e Solana.
Nos últimos dois meses, uma outra gama heterogênea de oportunidades foi apresentada aos brasileiros, como os inéditos "BDRs de ETFs" (recibos de fundos de índices internacionais) de uma grande gestora europeia e a primeira listagem das ações de uma empresa cujo negócio é "apenas" comprar Bitcoins, as chamadas Bitcoin Treasury Companies.
Segundo Marcos Skistymas, diretor de Produtos da B3, o lançamento de produtos regulados "começou de forma gradual, observando o comportamento dos investidores e a liquidez dos produtos". Os próximos passos nesse processo de inovação preveem a ampliação do horário de negociação para os ativos digitais " com previsão de começar às 8 horas e se estender até as 20 horas, já no início de 2026.
As negociações de compra e venda direta entre investidores, dentro das plataformas criptonativas (as exchanges) não têm horário de abertura ou fechamento, como os mercados tradicionais. Funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, em todos os países do mundo, ao mesmo tempo.
A combinação de crescimento de oferta e aumento de liquidez e de demanda mostra que o mercado brasileiro já vê o segmento de criptoativos como uma extensão natural da alocação de recursos e não "apenas novidade", apontam especialistas.
Desde a estreia do primeiro produto regulado na Bolsa, o HASH11, ETF composto por uma cesta de criptoativos, em abril de 2021, houve uma oferta anual crescente, culminando com os 16 novos veículos lançados este ano - totalizando, até o momento, 35 diferentes itens na prateleira.
PRATELEIRA CHEIA
Só em ETFs já são 24, com estratégias desde exposição a Bitcoin e outras criptos "puras", a novas cestas de ativos e combinações com outras classes, como ouro. Alguns desses ETFs não encontravam correspondentes no mercado americano - o maior do mundo e que dita os rumos dos preços das criptos -, como os de Solana e de XRP, por exemplo, pontuando o protagonismo do Brasil no processo regulatório global. Ao final de outubro, esse segmento somava 400 mil cotistas e um patrimônio de cerca de R$ 8 bilhões.
Os BDRs de ETFs (recibos que representam cotas de um ETF estrangeiro negociado na B3), por sua vez, são dois, com exposição a Bitcoin e Ethereum, da série iShares, uma família de fundos administrados pela BlackRock, que é a maior gestora de ativos do mundo. O IBIT (sigla para iShares Bitcoin Trust, o ETF de Bitcoin à vista da BlackRock), apesar de ter nascido apenas em janeiro de 2024, é o maior ETF de Bitcoin do mundo, com um patrimônio de US$ 68 bilhões, negociado na Nasdaq.
A grande novidade do ano na categoria foram os seis BDRs de ETPs com exposição a criptos que a gestora suíça 21Shares trouxe para a B3. Os ETPs (Exchange-Traded Products) se parecem com os ETFs, mas têm estrutura jurídica mais flexível e são comuns na Europa.
" Os ETFs de criptoativos são majoritariamente procurados por investidores pessoa física, que enxergam nesses produtos uma forma simples, segura e regulada de acessar essa classe de ativos. Já os BDRs de ETFs atraem investidores que buscam diversificação internacional com a facilidade de negociar em reais " observa Skistymas.
Mais diversificação
Com um conceito mais complexo e sofisticado, a B3 disponibilizou contratos futuros de criptos - estes sim já bastante difundidos no mercado americano, há muitos anos. O contrato futuro de Bitcoin foi lançado em abril do ano passado. Somente em outubro, esses papéis negociaram quase R$ 110 bilhões.
Em junho deste ano chegaram os contratos futuros de Ethereum e de Solana. Skistymas diz que o último atingiu volume financeiro superior a R$ 1 bilhão em um único dia, o que, segundo ele, demonstra maturidade e apetite no mercado brasileiro para esse tipo de exposição regulada. Desde os lançamentos, os futuros de Ethereum e de Solana movimentaram R$ 17 bilhões e R$ 26 bilhões, respectivamente, segundo a B3.
Em contraponto aos ETFs, que são considerados portas de entrada para o investidor do mercado de capitais, contratos futuros exigem maior conhecimento e estratégia . O investidor pode entrar para garantir proteção (hedge) contra variações futuras ou para auferir lucro com a volatilidade diária. No caso de criptos, no entanto, o lucro pode dar lugar ao prejuízo, daí a necessidade de conhecer bem o setor.
Novidade da novidade
Para completar o cardápio de produtos dentro da Bolsa, o investidor pode ficar de olho em um veículo com exposição indireta ao segmento cripto: as ações de "empresas compradoras de Bitcoin".
A Méliuz (CASH3) foi a primeira empresa listada na B3 a adotar o Bitcoin como parte da sua tesouraria, inaugurando no Brasil o conceito de Bitcoin Treasury Company. A decisão, aprovada em assembleia no início do ano, marcou o reposicionamento da fintech, antes focada em cashback e serviços financeiros.
No mesmo sentido, a OranjeBTC (OBTC3) já chegou à Bolsa brasileira com negócio 100% voltado para a compra de Bitcoin. Essa estratégia pode ampliar o valor de mercado da empresa e do lucro por ação, já que parte do caixa passa a render com a valorização do Bitcoin - ou perder em um movimento inverso.
Esse modelo de negócio foi inaugurado pela empresa norte-americana de softwares Strategy (ex-MicroStrategy) que, sob a liderança do "bitcoiner" Michael Saylor, detém a maior quantidade de Bitcoins em caixa do mundo, com compras semanais, inclusive com emissão de dívidas para obter capital para novas aquisições.
Na Bolsa, também estão disponíveis para o investidor brasileiros os BDRs de ações da própria Strategy (M2ST34). Nos últimos 12 meses, esses papéis estão entre os cinco mais negociados, ficando atrás apenas de Tesla, Nvidia, Mercado Livre e Nubank.