Amora de beber: fruta serve de base para cerveja, vinho e cachaça
No interior do Paraná, a amora-preta, fruta tradicional no preparo de geleias e sucos, ...
No interior do Paraná, a amora-preta, fruta tradicional no preparo de geleias e sucos, tornou-se também matéria-prima de fermentados, como cerveja e vinho, e destilados, como cachaça e licor. A produção é feita em uma propriedade familiar, de imigrantes belgas, localizada na área rural de Ponta Grossa, a pouco mais de cem quilômetros de Curitiba. As amoras são cultivadas e processadas em uma fábrica artesanal.
A colheita das amoras, da variedade Brazos " vem daí o nome da propriedade, Porto Brazos ", começou em 20 de outubro e deve seguir até o início de janeiro.
" Toda a produção da nossa fábrica é realizada com as frutas de nossos pomares " afirma Anneleen Dewulf, produtora e responsável técnica do empreendimento.
A plantação ocupa aproximadamente 50 hectares, 20 dos quais estão em plena produção, e teve início com a vinda da família belga Dewulf para o Brasil, há 25 anos.
Segundo Anneleen, o cultivar de amora-preta criada pela Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, adaptou-se bem à região e, diferentemente de outras variedades mais comuns no Brasil, a Brazos tem menor teor de açúcar.
" Por ser um pouco mais azeda e adstringente, consideramos a variedade mais apta para a elaboração dos nossos produtos " diz Anneleen.
Mulheres na colheita
Não há uso de agrotóxicos na plantação e nem de corantes na fábrica, o que contribui para manter o sabor da fruta nos produtos, afirma Anneleen. A produção ainda não é certificada como orgânica, mas a empresária pretende iniciar o processo para obter o selo. Enquanto isso, ela define o cultivo como "natural".
A colheita da fruta é manual e exige técnica, pois, além das hastes espinhosas, a amora é delicada.
"É uma fruta bem sensível. Por isso, normalmente, a gente trabalha com mulheres na colheita, porque elas têm mais delicadeza. Se pegar com um pouco mais de força, a fruta já amassa " explica Fabíola Skudlarek, técnica agrícola que supervisiona e atua na colheita.
Por ser uma fruta perecível, a comercialização in natura é feita somente por encomenda, com colheita na hora da entrega. Das frutas congeladas, parte é vendida para confeitarias, padarias e empórios, e parte é destinada à produção própria. Na fábrica artesanal, são produzidos 21 itens. Além das bebidas, geleias e caldas, são feitos subprodutos como biscoitos, sorvetes e trufas.
A colheita na fazenda dos Dewulf representa parcela importante da produção do Paraná. No ano passado, a área de plantio de amora no estado foi de 117 hectares, com produção de 914 toneladas, com valor bruto de R$ 10,4 milhões, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná. Nos últimos dez anos, o cultivo de amora no estado avançou 64,9% em área e 264,1% em volume.
"Esse crescimento se deve em parte às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa que, através de cultivares mais adequados ao nosso clima, tem possibilitado a exploração dessa cultura, como opção de diversificação principalmente para o agricultor familiar " diz Paulo Andrade, agrônomo do Deral.
A Embrapa lançou, nos últimos anos, em torno de oito variedades de amora-preta. Entre estas, diz Clóvis Hoffmann, agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), estão a Cainguá, maior e mais doce, com espinho pouco saliente, indicada para o consumo in natura; e a Ticuna, mais graúda e ácida, voltada à indústria.