Aceleradora amplia apoio a negócios de afrodescendentes
Empreender no Brasil não é tarefa fácil, e o desafio é ainda maior para pessoas negras. Além de ...
Empreender no Brasil não é tarefa fácil, e o desafio é ainda maior para pessoas negras. Além de enfrentarem a burocracia, as dificuldades para apresentarem um produto a um mercado em crise, elas ainda precisam lidar com o racismo. Tarefas simples, como abrir uma conta bancária, podem exigir muita paciência e empenho. Pensando nisso, o Instituto Ekloos, uma aceleradora focada em negócios com impacto social, vem selecionando cada vez mais projetos de afrodescendentes, oferecendo formação, mentoria e contatos com investidores.
De acordo com a fundadora do instituto, Andréa Gomides, no ano passado, 40% dos projetos acelerados eram de empreendedores negros, percentual que subiu para 54% neste ano. O foco, conta Andréa, é dar apoio a soluções criativas, principalmente as que surjam em comunidades carentes e na periferia.
" Se você é negro, da periferia, tem menos chances de conseguir crédito para financiar o seu projeto " afirma Andréa. " Não apenas pela cor da pele, mas por ter um círculo de conhecimento mais restrito. Para vender seu produto, você precisa das redes de lojas; para conseguir capital para escalar, você precisa de investidores. Fazemos essa ponte. O empreendedor sozinho fica apenas na ideia e não consegue tirá-la do papel.
Um dos 44 negócios selecionados para o ciclo de aceleração deste ano é a Era Uma Vez o Mundo, empresa criada há cinco anos pela historiadora Jaciana Melquíades, especializada na fabricação e comércio de bonecas e brinquedos para crianças negras. Nascida na periferia do Rio, Jaciana conta como o racismo ainda é uma barreira para o empreendedorismo.
" Eu precisava muito de uma conta para a minha empresa, para poder fazer vendas com maquininhas. Apresentei toda a documentação, mas um procedimento que normalmente leva dois ou três dias, para mim demorou dois meses " conta a empreendedora. " Um dia, questionei por que a conta não era liberada, e me disseram que estavam verificando se a empresa realmente existia, pois era muito comum pessoas iguais a mim usarem as máquinas para prostituição.
Há dois meses na Ekloos, Jaciana diz já perceber os resultados do apoio recebido. O que falta, afirma, é a sociedade perceber que ela " mulher, mãe e negra " pode ser a "chefe".
" Tenho que desconstruir uma série de paradigmas para ser respeitada como a dona de uma empresa, ser vista como quem dá as ordens.