Jueves, 02 de Mayo de 2024

Argentina e méxico consolidam aliança e tentam ocupar espaço deixado pelo brasil

BrasilO Globo, Brasil 26 de febrero de 2021

vácuo de liderança

vácuo de liderança
O vazio deixado pelo Brasil, que abriu mão da liderança regional principalmente no governo de Jair Bolsonaro, vem dando espaço para a ascensão de novos atores na América Latina. Dois presidentes buscam se articular para ocupar esse papel, Alberto Fernández e Andrés Manuel López Obrador, objetivo que ficou claro na visita do argentino ao México, nesta semana. Mesmo os problemas internos dos dois governantes de esquerda, que veem sua popularidade em queda por causa da pandemia do coronavírus, não parecem atrapalhar seus planos. No entanto, assumir uma liderança na região é um objetivo difícil de se concretizar na atual conjuntura, acreditam analistas ouvidos pelo GLOBO.
Os três dias da visita " Fernández é o primeiro presidente argentino em uma década a visitar o México " deixaram claras as afinidades ideológicas e os planos de liderança dos dois políticos. López Obrador lembrou que "México e Argentina são nações irmãs", enquanto Fernández prometeu "um novo plano para tirar milhões de latino-americanos da pobreza".
colaboração com vacina
Fernández já vinha se concentrando em outros parceiros, como a Bolívia, que elegeu para a Presidência no ano passado o candidato de Evo Morales, Luis Arce; e possivelmente o Equador, onde um aliado de Rafael Correa, Andrés Arauz, tem grandes chances de vencer o segundo turno em 11 de abril.
" A Argentina sempre teve uma agenda regional, principalmente durante os governos peronistas. Agora, Fernández tem trânsito não só com governos afins, mas com vizinhos de centro-direita com os quais tem necessidade de se relacionar, caso do Chile e do Uruguai " explica a professora Monica Hirst, da Universidade Di Tella da Argentina. " Mas, ao mesmo tempo, nem Argentina nem o México estão em condições, juntos ou separadamente, de levar adiante um processo de retomada de uma agenda política regional de maior impacto. A ausência do Brasil, que pratica hoje uma política de má vizinhança exacerbada durante a pandemia, produz um vazio na região que é muito difícil de preencher.
A visita teve como pano de fundo a colaboração entre os dois países e a AstraZeneca na produção de cerca de 200 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, que serão produzidas na Argentina, embaladas no México e vendidas para países da região " Fernández esteve no laboratório Liomont, onde o imunizante será embalado.
O ponto alto foi a publicação, na quarta-feira, de um documento conjunto que inclui acordos comerciais e estratégias para enfrentar a pandemia e reestruturar a economia regional depois da crise sanitária. "A pandemia da Covid-19 pôs em evidência a importância de manter a América Latina e o Caribe fortes, unidos e solidários, onde nenhum país da região esteja excluído do acesso universal, justo, equitativo e oportuno a medicamentos, vacinas e suprimentos médicos", diz o documento.
china e estados unidos
No mesmo dia, em um evento para anunciar uma aliança "contra a desigualdade", no estado de Guerrero, Fernández já havia falado sobre a parceria:
" Que o México e a Argentina estejam unidos é um dever que temos. Que encarem um futuro comum e que isto ajude a América Latina é uma obrigação que temos. Do país mais setentrional ao mais austral, devemos ser capazes de traçar um eixo que una todo o continente " afirmou o argentino.
O professor Paulo Esteves, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, observa, no entanto, que os dois países juntos "não têm a capacidade necessária de liderar um esforço capaz de se transformar em um hub (centro) de produção de vacinas".
" O Brasil, sim, poderia estar fabricando um número superior de vacinas e eventualmente liderar um processo de compras regionais, mas nem sequer consegue coordenar as ações internamente. Com isso, outros agentes da região, e também de fora, como China e Rússia, vêm fazendo esse papel, aprofundando ainda mais sua presença na América Latina.
Esteves não acredita que a parceria mexicano-argentina possa se transformar em uma aliança maior:
" Com sérias crises internas, a Argentina cada vez mais dependente economicamente da China, e o México, preso aos Estados Unidos, não vejo como esse relacionamento possa se aprofundar. Há um potencial de fortalecer determinadas instituições na região, como a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), da qual o México é presidente rotativo.
obrador mudou discurso
Os últimos movimentos de Obrador e a parceria com Fernández evidenciam ainda uma mudança de tom em relação ao discurso negacionista que o mexicano tinha no início da pandemia, quando chegou a ser comparado a Bolsonaro. Para Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional da UFMG, a união em prol da vacinação pode efetivamente ajudar na recuperação da imagem dos líderes.
" Fernández tem usado diplomaticamente, de maneira hábil, o contexto atual para alavancar o papel da Argentina. O próprio Obrador, que foi um negacionista e antivacina, entendeu as recompensas políticas potenciais que uma vacinação ampla e rápida da população pode trazer, não só para a recuperação econômica, de setores como o turismo, e para a melhoria das condições sociais e sanitárias, mas pensando em uma possível reeleição. Ao se apoiarem, eles conseguem agradar a suas populações. No contexto da pandemia, política externa e política doméstica são a mesma coisa rigorosamente.
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