Jueves, 04 de Septiembre de 2025

‘Ele me fazia de gato e sapato, me cegava’

BrasilO Globo, Brasil 3 de abril de 2021

Entrevista

Entrevista
Ao saber da morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, em 8 de março, uma cabeleireira de 31 anos diz que teve uma crise de consciência. Ex-namorada do médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade), padrasto do menino, a moça foi à delegacia relatar que ela e a filha, hoje com 13 anos, foram agredidas por ele há quase uma década. Dr. Jairinho, por sua vez, acusa a cabeleireira de mentir por "vingança" após ter sido abandonada por ele no altar. Ontem, depois da reconstituição da da morte da criança, a polícia passou a tratar o político e a mãe do menino, Monique Medeiros, como investigados no caso.
Em entrevista ao GLOBO, a ex-namorada do vereador, se emocionou ao contar por que decidiu contar sua história. "Comecei a pensar: ‘Será que se eu tivesse feito alguma coisa, isso teria sido evitado?’", disse, referindo-se à morte de Henry.
Assim como o menino apresentava problemas psicológicos, a filha dela, que tinha 3 anos à época, chorava e vomitava ao ver Jairinho. Ela revelou na 16ª DP, na Barra da Tijuca, que a menina chegou a ter a cabeça afundada por ele em uma piscina. Ontem, em entrevista da revista Veja, a mesma ex-namorada disse que o parlamentar saía sozinho com a filha e a teria levado a um motel. Na reportagem, o pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel, falou não ter dúvidas de que o vereador é o culpado pela morte do menino. Borel disse ter estranhado a frieza de Jarinho que, na emergência do hospital onde o menino foi socorrido, teria lhe dito: "Vamos virar essa página, vida que segue. Faz outro filho".
Como era o Jairinho?
Era meu príncipe encantado, cara de fala mansa, inteligente, que conversa de tudo, que puxa a cadeira para você sentar, que abre a porta do carro. Nunca, nos meus piores pesadelos, pude imaginar a pessoa que mostrou ser. Só quem convive sabe o poder de persuasão que ele tem. Ele me fazia de gato e sapato, me cegava.
Como era seu relacionamento com ele?
Nos conhecemos quando eu trabalhei na campanha para eleição do pai dele (o policial militar e deputado federal Jairo Souza Santos, o Coronel Jairo). Começamos a ficar e depois a namorar. Tínhamos uma relação normal, ele ficava na minha casa, eu ficava no flat que ele alugou, nós viajávamos, conhecemos nossas famílias, nossos amigos.
Você sabia que ele era casado?
Eu sabia que ele tinha contato com uma ex, até porque eles tinham filho juntos. Um dia, ela foi à minha casa e disse ser esposa dele. Ele disse que era tudo mentira. Dali em diante, ela começou a querer provar ser mulher dele, e ele a provar que ela era maluca. Até que ela engravidou do segundo filho.
Vocês marcaram noivado?
A gente tinha organizado uma festa num restaurante, com 30, 40 pessoas da minha família, mas ele disse que a mãe dele passou mal e não podíamos noivar sem ela. Segui (com ele), pensei ser verdade.
Por que vocês terminaram?
Vi que realmente vivia com ele uma ilusão, uma mentira. Não era o que eu queria, virar amante de alguém. Me culpo muito por ter me ocupado tanto tentando descobrir se ele era a pessoa que demonstrava para mim e não enxergar o que ele fazia com minha filha. Minha maior culpa na vida é essa.
Como foi esse término?
Não quis mais e fui viver uma vida normal. Eu tinha 21, 22 anos, e comecei a sair. Ele passou a me perseguir. Eu chegava em casa e ele estava na esquina. Uma vez um amigo me deixou no portão, ele estava atrás de uma árvore, me agarrou e rasgou minha roupa. Teve ocasião em que me escondi na casa de uma amiga e ele passou a madrugada inteira batendo na porta.
Ele te acusa de perseguir ele e sua ex-mulher. Isso aconteceu?
Eu nem sabia que eles eram casados. Lembro de ter falado com ela duas vezes: quando ela foi à porta da minha casa e quando me mandou mensagem chamando para ir a um shopping na Barra. Eu fui e, ao chegar, ele ficou surpreso de me ver e começaram a discutir. Fui embora.
Como e quando a sua filha falou sobre as agressões?
Mais ou menos um ano e meio após terminarmos, ela estava assistindo a um programa de televisão com a minha mãe, sobre abuso infantil, e teve uma crise de choro. A avó perguntou e ela disse que ele fazia essas coisas, que batia nela e começou a narrar os episódios todos. No dia seguinte, confirmou tudo para mim.
Por que você não procurou a polícia antes?
Ele é um homem poderoso, com dinheiro, o pai dele é influente na polícia e eu não sou ninguém. Eu e minha mãe entramos em desespero. Mas a minha filha não tinha marca nem nada. Seria nossa palavra contra a dele.
Por que o registro agora?
Quando estourou o caso do Henry, tive a minha primeira crise de consciência, me senti deprimida. E comecei a pensar: "Será que se eu tivesse feito alguma coisa, isso teria sido evitado?"
Como foi levar sua filha para depor sobre isso?
Conversei e pedi a permissão dela para falar com o pai do Henry e irmos à delegacia. Ela quis fazer, tirou uma força nem sei de onde.
Há quanto tempo você e Jairinho não tinham contato?
Há um ano e pouco, ele falou comigo por Instagram porque o filho de uma amiga minha faleceu, mandou mensagem. Respondi para ele não falar no meu nome. Soube que ele ligou para minha irmã antes do meu depoimento e perguntou de mim e da minha filha. Na nossa casa está todo mundo com medo.
Ex-namorada de Dr. Jairinho / cabeleireira
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