Domingo, 08 de Junio de 2025

Fundos que rendem menos que poupança têm r$ 218 bilhões

BrasilO Globo, Brasil 30 de agosto de 2021

A proposta soa interessante. "Em vez de deixar o dinheiro parado na conta-corrente, por que não ...

A proposta soa interessante. "Em vez de deixar o dinheiro parado na conta-corrente, por que não habilitar um investimento automático?", oferecem os bancos. Basta dar seu aval para que o montante seja redirecionado para um produto que permite resgate imediato, quando você precisar. O problema é que essas aplicações nem de longe são as mais vantajosas.
Pelo contrário, muitos dos fundos de aplicação automática, conhecidos como "raspa-conta", costumam ter taxas de administração altas, além de estarem sujeitos à alíquota de Imposto de Renda de curto prazo. Resultado? Rentabilidade pífia.
Segundo levantamento feito pela casa de análise Spiti, há mais de R$ 218 bilhões em fundos com rentabilidade abaixo da poupança nova, que já rende bem pouco.
O argumento é que é melhor render pouco do que nada. Além disso, eles são automáticos. Mas há outras alternativas. Uma simples movimentação para a velha caderneta já traria mais benefícios. Mesmo a poupança nova, que rende só 70% da Selic, é melhor, pois tem isenção de IR.
" Dá uma falsa sensação de conforto, de que o dinheiro não está parado, está rendendo. Seria mais simples passar o dinheiro para poupança ou ir para contas remuneradas em bancos digitais, para um título do Tesouro Selic ou, melhor, fundos DI com taxa zero " diz Luciana Seabra, especialista de fundos responsável pela pesquisa, feita com a ferramenta Quantum Axis.
Os filtros do estudo foram fundos com taxas acima de 1% ao ano e aplicação automática.
Composição engessada
O fundo do Banco do Brasil BB Automático Estilo FIC Renda Fixa Curto Prazo, com estoque acima de R$ 18 bilhões, teve rentabilidade de 0,72% este ano, contra 1,24% da poupança nova e 1,85% de aplicações que rendem 100% do CDI. Isso se explica em grande parte pela taxa de administração, de 1,75% ao ano, superior à de muitos fundos multimercados ou de renda variável com estratégias mais arrojadas e rentabilidade maior. E, nesses fundos, os gestores sequer têm o trabalho de atuar para gerar mais retorno.
A maior parte deles é de renda fixa e tem composição engessada. Por regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), fundos do tipo "renda fixa" devem ter ao menos 80% do patrimônio investido em ativos como títulos públicos federais, de dívida de empresas (debêntures) e de emissão bancária, como CDBs e LCIs.
" No dia em que o banco perceber que não estamos mais topando essas aplicações, eles vão baixar a taxa. Tem que ter um boicote " diz Luciana.
Muitos investem em títulos privados que oferecem mais risco que os títulos do Tesouro. E em alguns casos a composição de carteira com perfil de crédito mais arriscado também reduz a rentabilidade, pois mudanças na percepção de risco de crédito dos emissores podem afetar o retorno.
Há ainda o IR. Aqueles com "curto prazo" no nome têm um imposto mínimo de 20% sobre os rendimentos na tabela regressiva, contra 15% em fundos com prazos maiores.
Vantagem é para o banco
Vale lembrar que os fundos de renda fixa de curto prazo investem em títulos públicos e privados com vencimento em até 375 dias. Isso não tem a ver com a liquidez (prazo para resgate) do fundo. Os que não são de curto prazo podem oferecer a possibilidade de saque imediato, com resgate no mesmo dia ou em um dia útil.
Além disso, resgates feitos em menos de 30 dias estão sujeitos ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Para os bancos, uma vantagem é que esses fundos não estão submetidos ao depósito compulsório " a parcela do dinheiro parado nas contas-correntes que eles têm de depositar no Banco Central.
Embora os produtos sejam classificados como fundos "de investimento", a maioria dos bancos diz que não se trata exatamente de investimentos. São apenas "dispositivos para movimentação automática", como classificou a Caixa. Ressaltou ainda que, nos últimos 12 meses, cortou em 15% a taxa de administração do Caixa Movimentações Automáticas FIC Renda Fixa Simples.
O Banco do Brasil afirma que, diferentemente da poupança, que rende mensalmente, os fundos automáticos têm remuneração diária. E assegura informar aos clientes que o único objetivo desses produtos é movimentar um dinheiro que ficaria parado. Diz ainda que revisa constantemente as taxas de administração.
O Bradesco informou ter opções de fundos e oferecer assessoria aos clientes que desejem revisar seu portfólio.
Procurados, Safra, Banrisul, Banestes e BNB não retornaram.
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