Especialistas e organização veem fatalidade em mortes na motogp
Velocidade e risco
Velocidade e risco
Os riscos das modalidades a motor voltaram a assustar o esporte brasileiro no último final de semana. As mortes dos pilotos André Veríssimo Cardoso e Érico Veríssimo da Rocha em etapa do Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, na Moto1000GP, domingo, em Cascavel (PR), chocaram pela violência do episódio, um acidente em pista que terminou em atropelamento. As mortes de Érico e André são a 53ª e a 54ª no motociclismo esportivo brasileiro desde o século XIX. As fatalidades em incidentes na modalidade são compiladas extraoficialmente pelo site Motorsport Memorial.
Segundo o portal, são 3.910 perdas registradas até hoje ao redor do mundo. As fatalidades do Brasil, que tem mais mortes no motocross, categoria mais radical, equivalem a cerca de 1,3% do registro mundial. O país não chega a aparecer na lista de países com mais vítimas, liderada por Reino Unido (853 mortes) e Estados Unidos (636).
Ao GLOBO, o presidente da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM), Firmo Henrique Alves, afirmou que não há nenhum tipo de protocolo a ser revisto por causa do acidente.
De acordo com Firmo, o que aconteceu foi uma fatalidade e não algum erro que possa ser corrigido:
" Não teve erro do piloto ou mecânico. As imagens falam por si. O primeiro piloto caiu e o outro o atropelou. Nesse caso foi uma fatalidade. Não tenho como rever nenhum padrão de segurança por conta desse acidente.
O presidente da CBM também respaldou a qualidade do autódromo. Ele explicou que cada categoria tem o seu padrão de segurança e que para o Campeonato Brasileiro a pista do Autódromo Internacional Zilmar Beux, em Cascavel, atende aos padrões:
" O nível de segurança depende do campeonato e nós usamos os melhores.
Com o acidente de domingo, o número de mortes em corridas de moto no Zilmar Beux subiu para três. A primeira aconteceu em março deste ano. No dia 18, o piloto Leonardo Mascarello Pozzer, de 38 anos, morreu em um acidente durante as provas da 12ª edição do Track Day de motovelocidade. Ele não conseguiu fazer uma curva, colidiu violentamente contra uma barreira de pneus e foi socorrido imediatamente, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu no local.
Sobre esse incidente, Firmo disse que a prova em que Pozzer morreu não era reconhecida pela CBM. O evento era um track day, quando uma pista é alugada para uma prova particular, de exibição ou lazer.
No Brasil já são pelo menos cinco mortes de pilotos de motociclismo esportivo em acidentes em 2023 " quatro em pista.
Moto1000GP se manifesta
Também em março, Anderson Lopes Popovickz, de 34 anos, estava a caminho de um treino para a Copa Oeste de Motovelocidade quando bateu em uma colheitadeira na BR-369, que atravessava a rodovia. Semanas antes, Gabriela Valentini, de 17 anos, morreu na pista do Parque de Exposições e Eventos da Lapa, em Curitiba. Ela sofreu um acidente na primeira etapa do Campeonato Paranaense de Velocross. A vítima perdeu o controle da direção, capotou, foi atingida pela própria moto e ficou desacordada no chão.
Após nota de pesar no domingo, a direção da Moto1000GP fez comunicado a jornalistas de Cascavel na noite de ontem. Falaram o CEO Gilson Scudeler e o diretor de prova Marcus Vinícius Oliveira.
" Nós seguimos todos os padrões de segurança. A parte médica, a qualificação dos pilotos e até questões contratuais seguem o padrão internacional estabelecido pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM). O evento conta com membros da FIM em todas as provas, que nos acompanham e, junto com a organização, verificam todas essas questões " afirmou Scudeler.
O CEO disse ainda que a categoria "faz tudo que é possível para minimizar acidentes" e explicou que a inscrição de pilotos envolve avaliação curricular e pontuação em pista, e que os "procedimentos de segurança seguem padrões internacionais", com vistorias em equipamentos e motos. Ele ressaltou ainda que o circuito de Cascavel passou por recente recapeamento "com um dos melhores asfaltos dos circuitos brasileiros".
" O que eu posso dizer é que o acidente não tem nada a ver com o circuito. Esse tipo de acidente é o mais grave dentro da motovelocidade. É o único tipo de acidente que nós, enquanto membros e comissário internacionais homologados pelo braço latino-americano da Federação, não conseguimos uma proteção efetiva " diz Oliveira.
Polícia vai investigar
A organização chamou atenção também para a presença de um chefe médico nas provas e a velocidade e quantidade de equipamentos e pessoal de atendimento em pista no momento do acidente: "O medical car chegou em 21 segundos. A ambulância chegou 20 segundos depois. O primeiro atendimento, com dois médicos, UTI e equipe especializada demorou 41 segundos".
Ontem, a Polícia Civil do Paraná abriu um inquérito para investigar as mortes.
Apesar da investigação, especialistas já alertaram que consideram que o acidente foi uma fatalidade. Segundo o jornalista Fausto Macieira, que trabalha como comentarista desde 1996, nenhuma falha ou falta de segurança provocou o acidente, num esporte onde o risco é inerente:
" O esporte a motor tem muita velocidade e pouco tempo para reagir. Ali o piloto não teve como frear, ele vinha de uma curva e estava acelerando. Infelizmente foi uma questão de sorte ou azar. A organização fez o que pôde e a pista tinha uma grande área de escape.