Viernes, 09 de Mayo de 2025

‘Um ladrão roubou meu celular e me mandou cerveja pelo ifood’

BrasilO Globo, Brasil 10 de diciembre de 2023

Perdi todos os documentos, fotos e arquivos da minha vida, além de uns bons reais, por ...

Perdi todos os documentos, fotos e arquivos da minha vida, além de uns bons reais, por causa do cocô da Eva, a minha cachorrinha. Eu estava passeando com a peluda em Copacabana e, quando ela parou pra fazer suas urgências, eu peguei o celular. Um motoqueiro subiu a calçada e tomou o aparelho aberto na minha mão. Evidentemente o celular estava desbloqueado. Foi aí que eu fiz inveja a Kafka.
O sujeito que me roubou poderia facilmente ser um engenheiro no Vale do Silício. Em dez minutos ele mudou senhas de bancos, do Apple id e apagou meu computador remotamente para me impedir de apagar o iPhone, o que eu acabei conseguindo fazer. Mas ele anotou minha senha do iFood e pediu picanha, Big Macs, um uísque Buchanan 12 anos, frango no KFC e outros petiscos para um endereço na Cidade Nova. Pelo Nubank ele gerou um cartão virtual e comprou R$ 5 mil em carga de celular. Certamente para chamar os ‘parças’ para o churrasco. No Santander tentou passar Pix, no C6 fez compras. Passei o dia inteiro na função de ligar para bancos. Enquanto eu falava no telefone espocavam notificações das compras no celular novo. Eu queria tomar um porre pra esquecer. E o ladrão sabia disso. Tanto que foi camarada e mandou dez Heinekens para minha casa. Pra eu relaxar.
Precisamos falar sobre recuperação de senhas por SMS. Com isso você está seguro, certo? Erradíssimo. Quando o bandido pega seu celular aberto, ele consegue redefinir suas senhas usando aquilo que já chamamos um dia de torpedo. É uma bomba. A primeira coisa a fazer quando seu celular for roubado é ligar para a operadora e bloquear o SIM. Mas como você vai ligar sem ter um celular, hein, hein? Pois é. Dica: não use o mesmo número do seu telefone para recuperar senhas. Dê o de alguém de sua confiança. Mas não confie em ninguém.
Como o meliante se apoderou do meu Gmail e também do e-mail de recuperação, perdi acesso a todos os meus documentos, fotos, arquivos de trabalho, Google Drive. Bom, é só ligar pro Google e resolver, já que pago por alguns serviços. Mas não existe um telefone de contato para você ligar e dizer "alô, Seu Google?". Sabe como é, telefone é coisa antiga que só sua avó usa. Todo o processo é feito on-line e leva dias, com muitas etapas. Tudo aconteceu no sábado. Só recuperei meu e-mail e meus arquivos quatro dias depois graças à ajuda da assessoria da empresa no Brasil. Antes disso, o único acesso que tive foi de raiva. O Nubank estornou as compras, e o C6 ainda está avaliando o caso. Em nota, o Google diz que "a segurança das pessoas que utilizam nossas plataformas é nossa prioridade. O Google oferece uma série de configurações e ferramentas para ajudar as pessoas a manter suas contas seguras em caso de perda ou roubo."
Recebi muitos conselhos no processo. Ter um celular para andar na rua e outro, em casa, só com aplicativos de banco foi o mais recorrente. É o equivalente moderno a guardar dinheiro no colchão. E se você não for o funcionário da Ortobom que se fantasia de colchão na porta da loja, você não anda por aí com um colchão. O melhor mesmo é nem ter dinheiro. Nisso a gente já é craque.
Agora já tenho meu WhatsApp de volta e meu e-mail. Se você é meu amigo e receber uma mensagem minha pedindo dinheiro, cuidado: sou eu mesmo. O prejuízo foi grande. Pelo menos tenho minhas dez Heinekens que o ladrão mandou.
O pior é que gosto de Stella.
*Nelito Fernandes é roteirista e sócio do Sensacionalista
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela