Dólar não dá trégua e avança 1,15%, a r$ 5,65
Depois de passar boa parte do dia estável, o dólar deu uma guinada na última hora das ...
Depois de passar boa parte do dia estável, o dólar deu uma guinada na última hora das negociações e fechou com alta de 1,15%, a R$ 5,65 " a maior cotação desde 11 de janeiro de 2022. Pesaram, segundo analistas, o cenário externo, com as eleições nos Estados Unidos no radar, e a preocupação com o quadro fiscal brasileiro, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva renovar as críticas ao Banco Central (BC).
Depois do primeiro debate entre os candidatos americanos, na semana passada, o mercado passou a considerar mais provável a volta de Donald Trump à Casa Branca. A preocupação é que o republicano retome as políticas protecionistas e de gastos (com consequente aumento do déficit) de seu primeiro mandato.
" O receio é que, numa vitória de Trump, ele queira fechar o mercado americano, adotando novas tarifas no comércio com a China. Por isso, os Treasuries subiram hoje (ontem), e o dólar também, em relação às moedas emergentes. E o Brasil, que tem fundamentos fracos, acaba sendo sacrificado " disse Bruno Komura, da Potenza Capital.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a alta do dólar a ruídos de comunicação, afirmando que a economia tem apresentado bons resultados:
" Atribuo a muitos ruídos. Precisa comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo. Por exemplo, tive hoje mais uma confirmação sobre a atividade econômica, e a arrecadação de junho fechou (em alta).
O rendimento dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) com vencimento em dez anos subiram oito pontos-base, para 4,48%, o que reflete a busca por investimentos seguros diante do aumento das incertezas. Mesmo assim, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas, ficou estável, em 105,81 pontos. Segundo Komura, isso se explica pelo fortalecimento, ontem, tanto do iene japonês como do euro, o que ajudou a "maquiar o índice". As moedas emergentes, porém, perderam frente ao dólar.
No mercado de câmbio brasileiro, o euro comercial teve alta de 1,43%, a R$ 6,07.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, reconhece a influência externa, mas avalia que boa parte da alta do dólar vem das falas de Lula, que voltou a criticar ontem a gestão de Roberto Campos Neto à frente do BC:
" Eu estou há dois anos governando com o presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro. Ou seja, não é correto isso. O correto é que o presidente entre e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira. Como o Fernando Henrique tirou três " afirmou Lula em entrevista à rádio Princesa, da Bahia.
A lei que deu autonomia ao BC estabeleceu um mandato de quatro anos para o presidente da autoridade monetária, não coincidente com o do presidente da República.
Câmbio turismo a R$ 5,98
Lula ainda repetiu críticas à manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano:
" Não precisamos ter política de juro alto nesse momento. A Taxa Selic de 10,5% está exagerada. A inflação está controlada.
Os juros futuros fecharam em forte alta nas pontas curta e média. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 subiram de 10,77% para 10,83%; os de janeiro de 2026 avançaram de 11,59% para 11,77%, e os de janeiro de 2027 fecharam em 12,06%, ante 11,97% no pregão anterior. Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2029 subiram de 12,35% para 12,38%.
Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management, explica que antes, os operadores apostavam em juros curtos mais baixos e juros futuros mais longos, com o risco fiscal e a mudança de comando no BC no ano que vem. Agora, com um dólar e uma inflação mais altos do que o esperado, a pressão é sobre os juros no curto prazo.
" Se o real não voltar, teremos uma inflação maior nos próximos meses, o que é uma grande preocupação do mercado. Antes, essa desvalorização parecia mais um prêmio de risco que não iria muito longe, mas agora está virando uma possibilidade concreta " afirmou Okuyama.
No câmbio turismo, o dólar chegou a ser vendido a R$ 5,98 em papel-moeda e até a R$ 6,26 no cartão pré-pago em São Paulo. Já o euro em espécie atingiu R$ 6,43. Os valores já incluem o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
" Se a perspectiva fiscal não melhorar, o real tende a continuar se desvalorizando " disse Okuyama, para quem uma intervenção do BC no câmbio não seguraria a moeda, mas daria "funcionalidade ao mercado".
Analistas de mercado reajustaram sua projeção para o câmbio ao fim do ano, de R$ 5,15 para R$ 5,20, enquanto a estimativa para a inflação passou de 3,98% para 4%, segundo a pesquisa semanal Focus, do BC. (Colaborou Paulo Renato Nepomuceno)