Dados e bons exemplos são destaque em debate sobre agronegócio

No "Vozes do Agro", evento que Globo Rural e Valor realizaram ontem, em São Paulo, mais de 100 produtores rurais, executivos de grandes, médias e pequenas empresas e representantes de entidades setoriais, governo e academia discutiram temas que, muitas vezes, ficam apenas nas entrelinhas em fóruns do gênero. Alguns dos tópicos que mais apareceram foram a importância de dados confiáveis, a forma como governo e setor privado reagem a críticas do exterior e a necessidade de se focar em exemplos positivos.
Sobre "posicionamento e credibilidade", o tema do primeiro dos dois painéis do "Vozes do Agro", alguns participantes do evento ressaltaram que, para defender suas posições nos fóruns internacionais, o Brasil precisa, antes de tudo, levantar dados claros, amplos e confiáveis sobre suas práticas sustentáveis no campo.
Entre os inúmeros casos nessa frente, pode-se citar, por exemplo, o saldo da captura de carbono que se consegue por meio da atividade agropecuária que segue boas práticas, a melhoria de indicadores de bem-estar animal e o desmatamento que se pode evitar com ganhos de produtividade nas lavouras.
Segundo as discussões, é igualmente importante que o país não "esconda" os problemas socioambientais que ainda enfrenta, como desmatamento ilegal, grilagem de terra, queimadas e emprego de mão de obra em condições análogas à escravidão. Segundo um executivo, "o agro foge de eventos ligados ao clima, para não apanhar, mas aí não divulga o que tem de bom".
A queixa sobre as dificuldades de comunicação do agro tornou-se quase um mantra do setor. Os participantes do "Vozes do Agro" tocaram nesse ponto, mas, durante o evento, a conclusão geral foi de que esses percalços são decorrentes, também, da falta de informações claras e acessíveis.
falta de sintonia
Agroindústrias, fabricantes de insumos, associações setoriais, produtores rurais e poder público são costumeiramente enfáticos na defesa dos aspectos sustentáveis do agro brasileiro. Mas, segundo alguns dos comentários no evento, nem sempre esses entes trabalham em sintonia " e isso mesmo quando estão defendendo o mesmo ponto de vista.
O Brasil " não só o governo, mas também os representantes de empresas, entidades setoriais e da academia " ainda tem uma postura muito reativa quando é alvo de críticas no cenário internacional, como ocorreu recentemente no caso dos incêndios florestais em vários estados. Ouviu-se essa autocrítica algumas vezes nos debates do evento.
Houve críticas a pautas do Congresso Nacional que, na visão dos participantes, jogam contra os esforços de todos os elos da cadeia de produção agropecuária de se apresentar ao mundo como exemplo de sustentabilidade " anistia a desmatadores e afrouxamento do Código Florestal seriam dois exemplos.
Por outro lado, o Brasil tem alguns dos exemplos mais notórios de práticas sustentáveis na agropecuária, mas, segundo alguns comentários, o mundo parece ignorar esses feitos. E, na verdade, o desconhecimento é também um fenômeno local.