Bolsa patina à espera de corte de gastos. rali de natal virá?
Em 28 de agosto, em seu recorde histórico, aos 137 mil pontos, o Ibovespa parecia ter ...
Em 28 de agosto, em seu recorde histórico, aos 137 mil pontos, o Ibovespa parecia ter deixado para trás as perdas dos primeiros meses do ano, que chegou a ser de 12% em meados de junho. No fim de agosto, já registrava alta anual de 2,35%. Dali em diante, no entanto, só frustração. O mercado acionário brasileiro voltou a patinar e a perda acumulada da Bolsa está em 3,77% em 2024. Por ora, nada do famoso rali de fim de ano, que em 12 dos últimos 25 anos permitiu um Natal mais feliz aos investidores. Mas há chances.
Flávio Conde, analista de investimentos da Levante, diz que receios sobre a pauta fiscal do governo se acentuaram a partir do final de agosto.
" A sustentabilidade da dívida brasileira é muito importante. O déficit fiscal, com os juros em alta e a inflação acima da meta, ainda que não em níveis absurdos, afetou o mercado de maneira consistente " diz Conde.
Paulo Abreu, gestor na Mantaro Capital, diz que o dólar é o maior termômetro de insatisfação com o governo.
" O patamar que a moeda alcançou indica o nível de risco aumentado pelo fiscal " acrescenta.
BRASIL NA CONTRAMÃO
A eleição de Donald Trump nos EUA e as tentativas erráticas da China de retomar os patamares de crescimento de outrora são outros fatores que aumentaram as incertezas, mas o cenário interno pesou mais.
" O grande vilão da Bolsa são os juros praticados no Brasil. Tem um pouco do fator China, com a queda dos preços das commodities, mas não responde pela queda como um todo. Com o patamar de juros aumentando aqui, o Brasil vai na contramão do mercado global " resume Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator.
As expectativas agora giram em torno do pacote de corte de despesas que o governo Lula promete anunciar hoje ou amanhã.
" A questão que impede a Bolsa de ter o rali é macro, não micro. Sem um pacote de medidas estruturais para além de 2024 corremos o risco de ter um rali às avessas, ou seja, a continuação da queda da Bolsa e da alta do dólar.
A Rubik Capital vê espaço para a Bolsa subir e atingir de 140 mil a 145 mil pontos se o governo lançar um pacote adequado. "Com os ajustes fiscais, o mercado financeiro responde rápido. As ações de small caps (pequenas e médias empresas em valor de mercado), que sofreram muito nas últimas semanas, vão ter um alívio", avaliam, em relatório, Júlio César de Melo Rodrigues, sócio e chefe de investimentos da Rubik Capital, e Lucas Dezordi, economista-chefe.
Já a Genial Investimentos projeta o Ibovespa a 133 mil pontos ao final do ano e acredita que o rali de Natal pode ser desencadeado se o governo conseguir superar, ainda que minimamente, as expectativas do mercado. "Acreditamos que estar posicionado (em Bolsa) neste momento pode nos colocar em uma situação vantajosa para capturar possíveis ganhos decorrentes de ajustes, com a queda de juros no Brasil".
DICAS PARA O MOMENTO
Na avaliação da CM Capital, o tão sonhado rali de fim de ano está mais distante, e as apostas devem ser em ações pontuais.
"Empresas como Embraer, Direcional e WEG são resilientes e podem continuar trazendo bons retornos para os investidores até o fim do ano " comenta o analista da CM Capital Robert Machado.
A Mantaro vê os ativos cíclicos como oportunidades. B3 e BTG possibilitariam a captura de benefícios no longo prazo com a melhora do cenário Brasil. Cyrela, Tenda e Lavvi são apontadas como empresas de qualidade, que têm previsão de resultados positivos.
Para a Rubik Capital, o setor de logística e empresas de aluguel de equipamentos têm espaço para valorização dado o bom crescimento econômico do país, assim como exportadoras como a Suzano. Vestuário e educação também devem ser analisados pelo investidor. Também há quem veja atrações no segmento de frigoríficos, como BRF e Marfrig, e no de siderurgia, como a Gerdau.
" O mercado de trabalho forte torna o setor de educação, cujas empresas estão com preço descontado na Bolsa, interessante. Frigoríficos, por sua vez, têm feito o dever de casa de reduzir custos. E as de siderurgia, por mais que os preços de commodities estejam em acomodação, ainda apresentam uma perspectiva positiva, dado que a economia vai bem " explica Alexandre Sant'Anna, da ARX Investimentos, avaliando que o Ibovespa pode fechar o ano nos 135 mil pontos.
Em seu radar de alocações também estão os setores elétrico e de shoppings, que oferecem retorno bastante atrativos aos acionistas, com rentabilidades na casa dos dois dígitos e ganhos reais acima do papel do Tesouro Direto, Tesouro IPCA+.
MOMENTO PARA ALOCAÇÃO
Os papéis de bancos tradicionais também são outra opção de investimento, diante da perspectiva de retomada da carteira de crédito e baixa da inadimplência.
A gestora Fator tem visão positiva sobre os fundamentos de curto e médio prazo.
Mesmo que o rali não se confirme, a Rubik avalia que o momento é bom para alocação de ativos de modo geral, "tanto em renda fixa quanto em variável", já que a Bolsa "está barata e tem boas empresas".
" Poucas vezes vimos isso. Estamos num topo de ciclo, com tendência de juros baixarem em 2025, se as medidas forem praticadas " diz Melo Rodrigues.