Viernes, 10 de Enero de 2025

Pague primeiro e descubra depois: loja faz sucesso com ‘caça ao tesouro’ em sp

BrasilO Globo, Brasil 10 de enero de 2025

A babá Patrícia Ribeiro encarou duas horas e 20 minutos de ônibus na folga do trabalho, na ...

A babá Patrícia Ribeiro encarou duas horas e 20 minutos de ônibus na folga do trabalho, na última terça-feira, para tentar comprar um celular por R$ 50. Saiu do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, rumo ao bairro da Lapa, na Zona Oeste. Ali funciona o Galpão da Reversa, loja aberta no fim de dezembro com conceito curioso: os produtos ficam escondidos em sacos e caixas pretas lacradas, de forma que você só saberá o que comprou após fazer o pagamento " cada embalagem surpresa custa R$ 50 " e ir embora do local. O cliente tem cinco minutos para escolher os pacotes.
Com mais de 200 mil seguidores nas redes e outras duas unidades no interior paulista, o empreendimento tem feito sucesso. A primeira loja, na cidade de Atibaia, abriu as portas em novembro. O outro espaço, em Sorocaba, no início de dezembro.
As inaugurações tiveram longas filas e, nos fins de semana, a unidade da Lapa chega a ter uma centena de clientes na porta, à espera da próxima sessão de cinco minutos de "caça ao tesouro".
Nas postagens virtuais, o Galpão da Reversa não economiza na propaganda: "já teve gente saindo daqui com Macbook, JBL, tablet e muitos outros prêmios". Mas avisa: "(Os itens) podem ter avarias, caixas danificadas ou peças faltantes". As fotos mostram pessoas felizes com eletrônicos, tipo de item que atrai a maior parte da clientela.
‘Mãos para cima!’
Os interessados esperam fora da loja enquanto funcionários reabastecem os cestos com produtos ao fim de cada rodada. Na tarde de terça-feira, quando a reportagem esteve na unidade da Lapa, 20 pessoas aguardavam na fila.
Antes do início de cada round de compras, um funcionário anuncia as regras. "Os pacotes vêm de vários lugares, são de logística reversa, (produtos) que o cliente devolveu (à fabricante) e por algum motivo não foi entregue. Quem decidir entrar precisa levar pelo menos um pacote, é a regra do jogo. Cada um pode comprar quantos pacotes quiser. Saquinho rasgado não passa no caixa", ele anuncia, com voz enérgica.
" Conheci o lugar pelo Instagram. Quero encontrar um celular, com certeza. O meu quebrou " diz Catarina Chechetto, de 13 anos, com a mãe e uma amiga da família.
" Adolescente gosta de novidade. Quem sabe economizo um celular? Ela quebrou a tela faz um mês " diz a mãe, a psicóloga Raquel Chechetto.
Liberada a entrada, outra funcionária, de microfone em punho, dá o tom. "Mãos para cima! Todo mundo, mãos para cima. É (no mínimo) um pacote por pessoa. Boa sorte! Galpão da Reversa, o galpão mais famoso. São as comprinhas do Mercado Livre, Amazon... Lembrando, não temos loja on-line! Cuidado com o golpe", diz. Em seguida, anuncia que a rodada está valendo, depois segue avisando sobre o tempo que resta.
Os clientes podem chacoalhar e apalpar os itens à vontade " só não podem abrir as sacolas.
" Roupa e sapato você sente de monte (nos sacos) " diz a babá Patrícia Ribeiro, que queria um novo celular.
No fim dos cinco minutos, os clientes são conduzidos aos caixas. Patrícia não encontrou o smartphone. Gastou R$ 200 em quatro pacotes. Vieram cuecas, um conjuntinho para ginástica, fone sem fio, massageador, um pequeno aparelho para selar sacos plásticos, lanterna recarregável e outros cacarecos. O item mais valioso parece ser um alimentador automático para gatos.
" Fiquei decepcionada. Pelo Instagram, você vê caixas com drones, celulares, computador " diz Patrícia, que pretende revender o alimentador de gatos.
Raquel e a filha Catarina também não conseguiram o celular. Em duas caixas, por R$ 100, vieram roupas, acessórios, um secador de cabelo, fone de ouvido e outros itens.
A empresa afirma que os itens vêm de "logística reversa" de empresas como Mercado Livre, Amazon, Shopee e outros sites. O Galpão da Reversa não concedeu entrevista ao GLOBO, mas respondeu a perguntas por escrito.
Luís Fernando Castilho, um dos sócios, diz que os produtos são adquiridos por meio de "negociação com os respectivos marketplaces".
"Não existe valor mínimo (para itens que podem estar em cada caixa). Os pacotes são aleatórios e podem conter itens valendo mais ou menos do que R$ 50", diz o texto.
Procurado, o Mercado Livre afirma que destina parte dos itens devolvidos ou nunca entregues a empresas de "economia circular". A marca afirma que os itens passam por revisão e podem ser reintegrados ao site ou encaminhados a empresas que compram e revendem produtos aos consumidores.
"Essas empresas passam por rigoroso processo de credenciamento, que inclui avaliação de compliance e aspectos legais. Após a aprovação, a destinação final e a comercialização dos itens são de responsabilidade exclusiva dos fornecedores, que atuam de forma independente e sem a interferência do Mercado Livre", diz em nota.
O GLOBO procurou Shopee e Amazon, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
O advogado Stefano Ribeiro Ferri, especialista em direito do consumidor, afirma que o marketing da empresa não pode sugerir, direta ou indiretamente, que há maior chance de encontrar produtos valiosos, se a realidade não for esta, sob risco de ser acusada de propaganda enganosa.
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