Espaçolaser quer provar que a página virou
O ano era 2021 e, pandemia à parte, o clima era de euforia: não passava uma semana sem estreia na ...
O ano era 2021 e, pandemia à parte, o clima era de euforia: não passava uma semana sem estreia na Bolsa. Uma delas foi a da Espaçolaser, maior rede de clínicas de depilação do país, que captou R$ 2,6 bilhões em seu IPO (oferta inicial de ações) e levou a apresentadora Xuxa " acionista e garota-propaganda " para tocar o sino na B3. Quatro anos depois, os ares são outros: as ações, que chegaram a superar R$ 20, estão cotadas a menos de R$ 0,80, em uma derrocada que fez evaporarem R$ 4 bilhões do seu valor de mercado. Agora, a CEO Magali Leite, que assumiu há um ano com a missão de liderar uma reestruturação, afirma que a página virou.
" Esse tempo de turnaround passou. Agora a tese é de crescimento, mas com eficiência, em busca de uma melhor estrutura de capital e da redução de custos e despesas " sustenta a executiva, que antes era diretora financeira da companhia.
Parte do derretimento da Espaçolaser condiz com a queda livre das ações de grande parte das estreantes na Bolsa daquela safra, mas a companhia sofreu de problemas próprios. O principal foi a alta alavancagem. Por um lado, a proliferação de concorrentes desencadeou uma guerra de preços que comprimiu as margens; por outro, uma das teses do IPO pesou no balanço. Como resultado, em 2022, a companhia registrou seu primeiro prejuízo líquido anual ajustado, de R$ 47 milhões.
" Compramos mais de 300 lojas que, antes, eram de franqueados. A intenção era adquirir as unidades de boa performance e ganhar com escala e padronização. Mas acabamos saindo alavancados " explica. " Hoje, queremos continuar crescendo na faixa de 40 lojas por ano, mas por meio de franqueados. Não temos mais aberto lojas próprias.
A companhia encerrou 2024 com 806 lojas no Brasil, das quais 562 são unidades próprias. Em um ano, o número de franquias aumentou em 26, enquanto a quantidade de lojas próprias foi reduzida em nove unidades.
Também foi preciso trabalhar para alongar e diminuir o endividamento. A dívida caiu 13% desde o fim de 2021, para R$ 552,6 milhões. A companhia emitiu dívidas com vencimentos superiores a três anos e juros mais baixos. Ao mesmo tempo, a Espaçolaser tirou o pé da guerra de preços. O tíquete médio cresceu 17% no ano passado.
" Vemos um crescimento expressivo de clínicas generalistas, com portfólio muito mais amplo, incluindo tratamentos faciais, injetáveis, massagens, lipo sem corte. A gente tomou a decisão estratégica de continuar com foco no laser. Muitos concorrentes que aumentaram a gama estão fechando lojas. Boa parte não está conseguindo se sustentar. Só 15% da população já fizeram depilação a laser " observou.
No lado dos custos, relatório desta semana do Itaú BBA listou o que a Espaçolaser tem feito para cortar despesas.
"Os custos com mão de obra estão sendo otimizados por meio da substituição de fisioterapeutas " profissionais de 20% a 25% mais caros " por esteticistas e biomédicos. Cerca de um terço dos aproximadamente 2 mil profissionais de depilação a laser já foi substituído, e a transição completa deve ocorrer ao longo dos próximos dois anos", escreveram os analistas do banco de investimento.
A tesoura nos custos está chegando à pele das clientes. A companhia gastava R$ 30 milhões por ano com a compra de um gás " vendido em dólar " usado no processo de resfriamento da área do corpo a ser depilada, para fins anestésicos. Mas a empresa desenvolveu, com um fabricante brasileiro, aparelho alternativo que funciona com ar. Oitenta lojas próprias já contam com o equipamento, e a ideia é usá-lo em toda a rede própria até o fim de 2026:
" A gente só compra uma vez, e o aparelho se paga em dez meses.
As mudanças estão aparecendo no balanço " o lucro ajustado cresceu duas vezes e meia no ano passado, para R$ 23,3 milhões ", mas não nas ações: a cotação está abaixo de R$ 1 desde novembro. E a conjuntura econômica de juros altos tende a deprimir a demanda.
"A empresa está acionando os mecanismos certos para continuar melhorando a lucratividade e o retorno sobre o capital. No entanto, mantemos uma postura mais cautelosa por enquanto, pois antecipamos que o segundo semestre de 2025 pode ser mais desafiador para o setor de varejo, o que pode impactar negativamente a demanda pelos serviços da Espaçolaser", alertou o Itaú BBA.
Mas Magali Leite mantém o otimismo:
" A gente não vê retração. Há elasticidade de preço. Somos varejo, mas somos, sobretudo, estética, com uma correlação menos estreita com a conjuntura econômica. O espaço para crescimento é enorme. O público masculino, por exemplo, é um mercado inexplorado. Antes do IPO, eles eram 5% da nossa base; hoje já são 15%, e queremos crescer mais.
Mas e as ações na Bolsa?
" A gente precisa voltar a falar com o mercado, revisitar a tese e recontar nossa história em um momento de profissionalização de gestão, para mostrar que temos coerência. A alta das ações vai ser consequência " responde.