Nas reservas do bc, yuan só fica atrás do dólar. e na sua carteira?
No fim de 2024, o yuan (ou renminbi, o nome oficial na China) foi a segunda moeda com ...
No fim de 2024, o yuan (ou renminbi, o nome oficial na China) foi a segunda moeda com maior participação nas reservas internacionais do Banco Central do Brasil, perdendo apenas para o dólar. Seis anos antes, o BC não tinha qualquer reserva em yuan, o que mostra a rápida ascensão da divisa chinesa. Com as incertezas alimentadas pelo governo Donald Trump, será que o yuan pode se tornar a nova divisa de referência global? Vale a pena ter na carteira? Segundo especialistas, há algumas barreiras, mas isso não significa que investir na China é um mau negócio. Para alguns especialistas, o arriscado é ficar de fora.
Em 2018, o dólar representava 89,93% das reservas internacionais do BC. A seguir vinha o euro, com 5,13%. O yuan sequer tinha participação. Em 2024, porém, a parcela do dólar caiu para 78,45% e o yuan ficou em segundo, com 5,31%.
Para o professor Otto Nogami, pesquisador do Insper, essa mudança é um exemplo da movimentação que a China faz, ainda que "pelas beiradas", de internacionalizar o yuan:
" Se somar a população de China, Índia, Sudeste Asiático e Japão, você tem a metade da população do mundo. E o governo chinês vem fazendo transações com esses países usando o yuan.
Por outro lado, há quem veja nisso uma estratégia da China para se proteger e reduzir sua dependência de outros países.
Segundo Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, essas operações são feitas por meio do Cips, um sistema chinês de pagamentos internacionais semelhante ao Swift (usado globalmente pelos bancos para transferências financeiras). Ao usar sua própria rede e moeda, a China evita depender de sistemas controlados por outros países. Isso significa que, caso os chineses entrem em conflito com outras nações, eles podem continuar negociando, sem se expor a sanções ou bloqueios externos.
De acordo com o professor, a China não tem tanto interesse em transformar sua moeda em referência global. Isso porque a contrapartida seria expor não só a divisa como a economia local a influências externas.
" A China é uma ditadura. Se tiver uma crise econômica, o Partido cai. Então, ele precisa controlar o movimento de capitais. Imagina uma situação em que eles se abrem e os chineses tiram dinheiro de lá e colocam em outras economias. A grana vai embora, e o crescimento país cai " diz Dumas.
O pesquisador ainda lembra que, na China, existe um limite tanto do que os próprios chineses podem investir no mercado financeiro, como do quanto os estrangeiros podem ter lá. Esta é uma das barreiras para os brasileiros tenham parte de sua carteira "yuanizada".
" Para investir lá, você precisa pedir uma autorização ao Banco Popular da China e ao órgão regulador. Se for autorizado, eles abrem uma conta para você, como se fosse um investidor institucional, e aí seu banco lhe vende ações da Bolsa de Xangai, por exemplo " explica Dumas.
Há outra alternativa? Sim, há. Para alguns, é hora de olhar para elas.
Acordo da B3 com Xangai
Levar dinheiro para a China é complicado, mas há formas de investir no país asiático por aqui. As principais são os BDRs (papéis negociados na B3 que funcionam como um "espelho" de ações listadas no exterior) e os ETFs (fundos negociados em Bolsa que acompanham índices de ações ou renda fixa nacionais ou internacionais).
Para Marília Fontes, sócia da casa de análises Nord Research, esses instrumentos são um primeiro passo para se expor ao mercado chinês, o que ela considera fundamental. Isso porque, em sua opinião, a China está na vanguarda de investimentos e movimentos que guiarão a economia global nos próximos anos.
" Sou uma grande entusiasta da China há bastante tempo. Eles fizeram investimentos que nenhum outro país fez. Eles têm carros elétricos, placas solares, metas ambiciosas de zerar emissão de carbono, fábricas que operam 100% com robôs. Fora que são os maiores investidores em chips e inteligência artificial " explica Marília. " Acho que, seja por proteção, ou por diversificação natural da sua carteira, não ter investimentos na China é loucura.
Recentemente, a Bradesco Asset lançou dois ETFs de ações chinesas, os primeiros do programa ETF Connect, um acordo entre a B3 e as Bolsas de Shenzhen e Xangai.
Um dos fundos é o B-Index Connect China Universal CSI 300, com o código PKIN11. A carteira é composta pelas maiores empresas da China de diferentes setores, como infraestrutura, financeiro e elétrico. O outro é o B-Index Connect China AMC ChiNext (TEXC11), cuja carteira é composta por empresas inovadoras de médio e pequeno porte, com foco em tecnologia, serviços e manufatura.
Por meio dos EUA
Fabiana D’Atri, economista da Bradesco Asset Management,diz que há uma demanda dos clientes por "narrativas" diferentes. E cabe às gestoras procurar esse tipo de produto para ofertá-lo.
Um dos ETFs do mercado chinês mais populares do Brasil é o Trend China (XINA11), da XP Asset, que acompanha o MSCI China, índice que representa o desempenho de grandes e médias empresas do país. Com mais de 36,1 mil investidores e patrimônio sob gestão de R$ 178,7 milhões, ele já subiu cerca de 30% em 2025 e, segundo Marília, da Nord, há espaço para subir mais.
Além dos ETFs, pode-se comprar BDRs, por exemplo, da Baidu (BIDU34), o "Google da China", e da Alibaba (BABA34), grupo que reúne de e-commerce a computação em nuvem.
E, caso o investidor se sinta à vontade e disponível para alçar voos mais altos rumo à China, pode fazê-lo por meio dos... Estados Unidos.
" Sempre tem a opção de o investidor mandar dinheiro para os EUA, por exemplo, e ter uma gama de opções maior. Mas aí, claro, será preciso fazer uma análise mais cuidadosa " diz Marília.
Por fim, Fabiana, do Bradesco, destaca que o investidor deve estar atento ao seu perfil de risco e seus objetivos.