Martes, 05 de Agosto de 2025

Brasil tem relação comercial intensa com israel

BrasilO Globo, Brasil 4 de agosto de 2025

Guerra em Gaza

Guerra em Gaza
No momento em que o Brasil se une à África do Sul em um processo contra Israel pelo suposto crime de genocídio em Gaza, e com organizações setoriais e políticas exigindo medidas mais duras " inclusive o rompimento de relações " os números do comércio entre os dois países revelam um volume considerável e que segue uma lógica peculiar, não apenas voltada ao governo federal.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em 2023, ano em que começou a guerra em Gaza, Israel vendeu US$ 1,35 bilhão (R$ 7,5 bilhões) ao Brasil, obtendo um superávit maior (US$ 690 milhões, o equivalente a cerca de R$ 3,83 bilhões) do que o total das exportações brasileiras (US$ 661 milhões, ou R$ 3,67 bilhões). Em 2024, novo déficit: as vendas israelenses registraram queda, somando US$ 1,15 bilhão (R$ 6,39 bilhões), e as exportações do Brasil chegaram a US$ 725 milhões (R$ 4 bilhões).
Em 2023 e 2024, os números mostram um grande volume de exportações de petróleo a Israel que, segundo ativistas, ajuda a abastecer tanques e outros veículos que operam em Gaza. Um relatório da ONG Oil Change International afirma que o Brasil forneceu, entre outubro de 2023 e agosto de 2024, 9% de todo o petróleo consumido por Israel, embora estimativas com base nos valores do MDIC coloquem o número em torno de 3%.
comitiva em bunkers
A tendência deficitária, que é histórica, se repete em 2025: os dados do ministério mostram que, até junho, Israel vendeu US$ 635 milhões (R$ 3,53 bilhões) em bens, e comprou US$ 261 milhões (R$ 1,45 bilhão) do Brasil. Dentre os itens vendidos aos israelenses, destaque para os produtos de origem agropecuária e vendas de barras de metal e ligas de aço " em maio, o portal Intercept denunciou que parte da carga seria destinada a duas fábricas de armas usadas pelo Exército.
Até junho, o Brasil comprou quase US$ 6 milhões (R$ 33,3 milhões) de itens da categoria "armas de guerra", além de US$ 43 milhões (R$ 238,9 milhões) em aeronaves entre 2 e 15 toneladas, incluindo drones, consolidando a presença nas estratégias de segurança em cidades e estados no Brasil.
No começo de julho, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), anunciou que adotaria drones israelenses como parte de uma estratégia para combater a violência na capital baiana, ao lado de um modelo de identificação facial similar ao usado em São Paulo.
" Embora a segurança seja constitucionalmente uma responsabilidade do Estado, nós, além de fazermos a nossa parte, estamos assumindo tarefas que não são nossas, mas que vamos assumir para proteger a população " disse Reis no dia 7 de julho. " Não precisa inventar a roda, basta observar boas iniciativas que são realizadas no Brasil e no mundo. Estamos aqui com dois bons projetos, que são os drones de Israel e o sistema já utilizado em São Paulo.
Em novembro do ano passado, o governo da Bahia, comandado por Jerônimo Rodrigues (PT), anunciou a compra de 200 fuzis fabricados pela Israel Weapon Industries, no valor de US$ 366,2 mil (R$ 2,02 milhões). Em dezembro, dois representantes da Polícia Militar do Piauí foram autorizados a participar de testes de armamentos na Israel Weapon Industries. Em maio deste ano, o estado, governado por Rafael Fonteles (PT), confirmou a compra de 300 carabinas de fabricação israelense, no valor de R$ 3,78 milhões.
Em São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), foram gastos R$ 37 milhões em equipamentos adquiridos de Israel desde 2023, incluindo fuzis, metralhadoras, miras e softwares de monitoramento. Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública, nega que as compras sejam uma relação direta entre o estado e o Exército de Israel.
Quando estourou a guerra entre Israel e Irã, em junho, uma comitiva de prefeitos e representantes de prefeituras brasileiras precisou ser levada às pressas para um bunker em meio aos foguetes e mísseis iranianos. O grupo foi convidado ao país por uma agência de cooperação internacional, o Mashav, em uma viagem que tinha dentre seus objetivos apresentar soluções e tecnologias no setor de segurança. O grupo deixou o país por terra, através da fronteira com a Jordânia.
" Israel percebeu que a relação com o governo federal está muito ruim, então eles tentam construir alternativas com os governos locais, estados, municípios " declarou ao GLOBO Mauricio Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha. " E há um interesse da indústria de Defesa israelense no mercado de segurança pública. Por exemplo, alguns prefeitos estão criando unidades armadas nas Guardas Municipais, como no Rio de Janeiro ou em Recife. É um mercado interessante para essas empresas de Israel.
Mas nem só de governos estaduais e municipais se faz o mercado de Defesa no Brasil. As Forças Armadas brasileiras são usuárias e, até certo ponto, dependentes da tecnologia israelense " em 2024, o portal Aeroin, especializado em aviação, apontou que a AEL Sistemas, subsidiária da Elbit Systems, tem 25% de participação acionária na Embraer e fabrica sistemas da aeronave militar KC-390, produzida pela empresa brasileira.
sem rompimento oficial
A companhia ainda participa de projetos de aeronaves de combate e helicópteros.
" Esses equipamentos têm uma importância estratégica para o Brasil, e isso também teria impedido que o Brasil rompesse relações diplomáticas. Nós estamos sem embaixador [em Israel], estamos em um momento muito ruim, mas não houve rompimento " diz Santoro." E esse cuidado existe também porque, na visão das Forças Armadas, independente das discordâncias políticas, precisamos de drones, de equipamentos para aviões.
Em maio de 2024, o Exército anunciou um plano para comprar 36 obuseiros da israelense Elbit Systems, em uma operação estimada na época em € 180 milhões (R$ 1,1 bilhão). A operação foi paralisada por recomendação do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, e segue na gaveta mesmo após liberação do Tribunal de Contas da União, que não viu violações às leis internacionais sobre o comércio de armas.
" A empresa ganhou a licitação, não levou e agora o governo não quis. E aí isso teve um impacto considerável " afirma Santoro. " Na opinião dos militares, de maneira geral, foi uma interferência política indevida no que é uma necessidade logística do Exército. Mas é um componente a mais de tensão.
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