Martes, 05 de Agosto de 2025

O que é certo nessa história?

BrasilO Globo, Brasil 5 de agosto de 2025

Rodrigo Capelo

Rodrigo Capelo
Assim como na política, é pedir muito ao torcedor que separe as pessoas dos fatos na hora de formar opinião. Quem é John Textor para o botafoguense? O empresário que resgatou o clube da falência, que o levou a títulos históricos, da Libertadores e do Brasileiro. E essa briga, entre ele e os sócios na Eagle Football Holdings? Eu esperaria mais, antes de comprar um lado, porque faltam fatos. Mas sei que é pedir muito.
Pode-se dizer que é uma treta diferente da vascaína. Em São Januário, o sócio minoritário (a associação civil cruz-maltina) entrou na Justiça contra o majoritário (a 777 Partners) para retomar o controle da SAF. Em General Severiano, o embate ocorre no grupo empresarial, entre sócios da Eagle. Textor, Ares Management e Iconic Sports rosnam uns para os outros a fim de decidir quem ficará com o quê, depois que a Eagle tiver seus clubes divididos para cada parte, e por quais preços, em quais termos.
O que é certo nessa história? Que o Lyon vai muito mal financeiramente. Textor pegou dinheiro com esses investidores " Ares, Iconic e outros " e comprou o clube francês em dezembro de 2022. A Eagle vendeu muitos de seus ativos: o time de futebol feminino, a arena multiuso próxima ao estádio, uma franquia de futebol feminino nos Estados Unidos. Mesmo assim, a dívida dos franceses só aumentou, e o clube quase foi rebaixado por infração às regras financeiras da liga. Tudo isso está documentado.
E então, quando os acionistas minoritários da Eagle se mexeram para tirar Textor do comando do grupo, não apenas do Lyon, o americano começou o contra-ataque. Amparado pelo escritório de advocacia Salomão e Basílio Advogados " cujo sócio é Paulo Cesar Salomão Filho, vice-presidente do Vasco e principal responsável pela ação que tirou a SAF cruz-maltina da 777 ", Textor abriu fogo nos sócios por meio da Justiça do Rio de Janeiro. Nela, ele cobra o ressarcimento de R$ 146 milhões ao Botafogo.
O confronto jurídico é um problema dos sócios e de quem julgar o caso. Eles são brancos, eles que se entendam. A questão que me parece mais relevante ao torcedor é: por que diabos o Botafogo fez favores tão caros ao Lyon? Transferências de jogadores sem valores, ou com descontos "forçados" em relação ao mercado, são citados na ação judicial. Forçados por quem? Repasses de direitos econômicos de atletas, para que o balanço francês ficasse menos ruim. Houve também empréstimos em dinheiro?
Quando foi comprado por Textor, o Botafogo tinha dívidas estimadas em R$ 1 bilhão. A situação administrativa e esportiva melhorou muito, inegavelmente. Se a financeira já está confortável nesse ponto, de o clube que fatura em reais ajudar financeiramente o francês, em euros, ninguém sabe. A SAF não publica balanço, apesar da obrigação por lei. Quem tem o dever de fiscalizar o quadro é o Botafogo de Futebol e Regatas, a associação, mas esta não cobra nem a publicação do balanço, quem dirá o resto.
Em suma, não se tem o retrato financeiro que deveria ser proporcionado pelo balanço, o Botafogo não deveria ter financiado as atividades do Lyon, e o Lyon está quebrado " não só pelos atos do antigo dono, Jean-Michel Aulas, porque em 2023 e 2024, já com a Eagle, a crise piorou e piorou muito. Estes são os fatos que temos e os que não temos. Pra mim? Não dá para formar opinião favorável a qualquer lado da disputa. Eles são brancos, eles que se virem. Mas é compreensível que Textor domine o gosto popular.
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