Mais empresas oferecem previdência privada a empregados
As empresas nunca ofereceram tantos planos de previdência privada aos ...
As empresas nunca ofereceram tantos planos de previdência privada aos seus trabalhadores no Brasil quanto agora. A fatia das que oferecem esse tipo de produto aos funcionários aumentou de 51% em 2023 para 53% em 2025, a maior parcela da série histórica de um estudo da consultoria Mercer, que contabiliza os dados desde 2019. Nas organizações, o investimento é uma estratégia para atrair, motivar e reter os profissionais, enquanto para os empregados é uma das aplicações que mais valem a pena, de acordo com os especialistas.
Os planos de previdência privada disponibilizados pelas companhias, chamados de "coletivos", "corporativos" ou "empresariais", são aqueles em que a contribuição é descontada da folha de pagamento do trabalhador. A maioria dos empregadores contribui com o benefício, ou seja, a cada R$ 1 investido pelo profissional a empresa contribui com mais R$ 1 ou com um pedaço desse valor, o que torna a aplicação ainda mais vantajosa. Qualquer outro investimento, por mais rentável que seja, dificilmente se igualaria a esse patrimônio, que dobra com o aporte de 1 (do empregado) por 1 (do empregador).
Atualmente, 2,3 milhões de brasileiros contam com um investimento desse tipo, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Já o número de planos soma 2,8 milhões, um volume maior porque frequentemente o empregado deixa a companhia, mas mantém o plano na organização antiga e adere ao plano de previdência do trabalho novo.
O levantamento da Mercer, realizado com 1.007 médias e grandes empresas que empregam 5 milhões de brasileiros, mostra que os planos de previdência privada ainda são bem menos populares do que outros benefícios, como assistência médica, oferecida por 99% das organizações, seguro de vida, ofertado por 96% dos negócios, e assistência odontológica, proporcionado por 95% das empresas. Contudo, os planos de previdência privada já são mais comuns do que benefícios como "check-up" (43%) e medicamentos (34%).
Como custam caro para as companhias, entre os empregadores que não oferecem planos de previdência privada, 51% ainda afirmam que não deve implementar. Mas olhando para a metade cheia do copo, 49% das companhias planejam oferecer esse investimento: 37% das empresas devem disponibilizar os planos em até três anos e 12%, em até um ano.
O estudo aponta que, dentro das empresas, as entidades fechadas de planos de previdência privada (os chamados fundos de pensão), que oferecem os investimentos apenas aos empregados, estão perdendo espaço para as seguradoras, abertas a aplicações de qualquer um em planos conhecidos como PGBLs (Planos Geradores de Benefício Livre) e VGBLs (os Vidas Geradores de Benefício Livre).
Dentro das empresas que oferecem os planos aos trabalhadores, a maioria (66%) dos produtos é de seguradoras, percentual que cresceu ante os 60% de dois anos atrás. Somente 18% dos planos são de entidades fechadas multipatrocinadas, que oferecem os produtos aos trabalhadores de várias organizações. E 16% são de entidades fechadas próprias, que oferecem planos aos funcionários de uma empresa exclusivamente.
As companhias aceleraram o pé nos planos de previdência privada principalmente na pandemia, quando despertaram para a importância de oferecer programas de saúde mental e física aos empregados, afirma Tiago Calçada, diretor de investimentos da Mercer. A tendência veio para ficar, diz, porque evolui nas organizações a percepção de que problemas financeiros pioram a saúde mental dos funcionários e, consequentemente, diminuem a produtividade.
" Um empregado estressado financeiramente passa dez horas por semana pensando em problemas financeiros no escritório. Na contramão, os funcionários que se sentem amparados financeiramente pelas organizações são cinco vezes mais propensos a evoluir na carreira " diz Calçada. " Não adianta apenas aumentar o salário dos funcionários se a empresa não ajudar a administrar o dinheiro. Está evoluindo a percepção de que os planos de previdência privada são benefícios que geram valor tanto para a empresa quanto para o empregado.
MAIORIA NÃO REVISA PLANO
Na avaliação de Calçada, o envelhecimento da força de trabalho contribui para esse aumento da oferta. Os próprios funcionários começaram a demandar esse investimento, pensando que viverão mais. No lugar da cadeira de balanço, entraram novos projetos.
Contudo, um dado que preocupa é que a maioria (63%) dos empregadores nunca revisou o plano, enquanto apenas 27% das empresas fizeram mudanças nos últimos cinco anos e 10% alteraram o benefício em períodos anteriores.
O diretor de investimentos da Mercer aconselha que as organizações revisem os planos com mais frequência e aumentem a diversificação dos fundos. A indicação é oferecer produtos de renda variável e de renda fixa, considerando que uma alocação diversificada em investimentos de maior e menor risco é mais indicada para o longo prazo. Geralmente a mesma seguradora que tem o convênio com a empresa oferece também produtos de gestoras independentes.
Calçada destaca também que mais companhias estão oferecendo os planos de previdência de formas diferentes. Algumas trabalham com o modelo de adesão automática, o que significa que, quando o profissional é contratado, automaticamente é incluído no plano em vez de precisar manifestar o interesse em aderir. Já outras oferecem como bônus, quando a companhia supera uma meta determinada.