Textor deu aval para acordo que diminuiu seu poder no botafogo
Em maio deste ano, a Eagle Football Holdings fechou um acordo com seus credores, aceito ...
Em maio deste ano, a Eagle Football Holdings fechou um acordo com seus credores, aceito por John Textor, que alterou o equilíbrio de poder dentro da companhia e estabeleceu novas diretrizes para a gestão da SAF do Botafogo. Pelo documento, a holding se comprometeu a imprimir "todos os esforços razoáveis" para garantir que Christopher Mallon, advogado britânico nomeado diretor independente da Eagle, tivesse acesso ao Conselho de Administração do clube carioca. Caberia a Mallon, a partir de sua entrada na SAF, elaborar um plano de negócios e o orçamento de 2025, com foco na redução da dívida e dos passivos assumidos.
O acordo, obtido pelo GLOBO, também prevê que o diretor independente receba prontamente todas as informações, documentos e correspondências relativos a contas bancárias de qualquer empresa da holding, bem como dados ligados ao cumprimento de leis e regulamentos pelo Botafogo e demais clubes do grupo. O compromisso foi assinado em 28 de maio entre a Eagle e seus credores, entre eles a Ares Management, maior investidora da companhia e atualmente em litígio com Textor, como parte de um esforço para reorganizar as dívidas da holding.
Mallon havia sido nomeado diretor independente em abril, no contexto de uma série de alterações estatutárias aprovadas pelo Conselho de Administração da Eagle que reduziram o poder de decisão de Textor. Na prática, as mudanças impediram o sócio majoritário de tomar decisões sem o aval de Mallon.
Apesar disso, em 17 de julho, Textor não comunicou o diretor independente sobre duas reuniões da SAF convocadas para o mesmo dia: uma do Conselho de Administração e outra da Assembleia Geral Extraordinária. No Conselho, Textor e aliados do clube associativo aprovaram um empréstimo de 100 milhões de euros com uma nova empresa aberta por ele nas Ilhas Cayman, dando como garantia quase todas as receitas futuras da SAF, incluindo cotas de TV do Campeonato Brasileiro até 2029 e patrocínios. Na Assembleia, representando à Eagle, Textor aprovou o aumento do capital social da SAF de R$ 10 mil para R$ 650 milhões, com autorização para emissão de novas ações.
clube recorre
Essas reuniões se tornaram o ponto central de um processo movido pela própria Eagle contra a SAF na Justiça do Rio. Segundo os advogados da holding, Textor teria representado a empresa sem autorização de Mallon e buscado reduzir a participação de 90% da Eagle na SAF para assumir o controle integral do Botafogo. A ação, protocolada em 30 de julho, pede à Justiça a anulação das decisões tomadas nos encontros, a suspensão da emissão de novas ações e a proibição de contratos da SAF com empresas ligadas a Textor. O pedido ainda não foi analisado.
Ontem, o Botafogo associativo se manifestou no processo movido pela Eagle, conforme revelaram os blogs de Diogo Dantas e Lauro Jardim, no GLOBO. O clube pleiteou o direito de diluir a participação da Eagle e até de retomar o controle da SAF caso a Eagle Football descumpra obrigações de aportes previstas no acordo de acionistas.
O enfraquecimento do poder de Textor na Eagle começou em 23 de abril, quando o Conselho da holding se reuniu para discutir a crise no Lyon, clube do grupo que corria risco de rebaixamento na França por problemas financeiros, e os avisos de inadimplência enviados por credores nos meses anteriores. Nessa reunião, foi aprovada por unanimidade, com voto favorável de Textor, a nomeação de Mallon, especialista em reestruturação empresarial, como diretor independente.
Pouco mais de uma semana depois, em 6 de maio, a Eagle protocolou no governo britânico, já que sua sede é em Londres, o novo Estatuto Social. O documento formalizou a subordinação de Textor a Mallon: o artigo 8.1 passou a exigir que qualquer decisão dos diretores fosse tomada por maioria, sempre incluindo o voto do diretor independente.
Diretor aumenta poder
O acordo de maio com os credores ampliou ainda mais os poderes de Mallon. Entre as obrigações assumidas pela Eagle estava a venda imediata do Crystal Palace, outro clube do grupo, para aliviar a situação financeira. Como a venda não ocorreu cinco dias após a assinatura, a Ares emitiu um aviso de violação. Pelo novo estatuto, tal violação aciona os artigos 9.4 e 14.2, que dão ao diretor independente a maioria dos votos em qualquer reunião ou resolução escrita do Conselho.
Em 11 de junho, um novo aviso de violação foi enviado, desta vez porque a Eagle não havia recebido nenhuma proposta para abrir seu capital na bolsa de valores, como previa o acordo. Com isso, a ampliação dos poderes de Mallon permanece em vigor até hoje. Se até abril Textor podia decidir sozinho em nome da Eagle, agora é o diretor independente quem tem a palavra final sobre as decisões da holding.